Eleição de Fernández na Argentina sinaliza fechamento comercial e apoio a ditaduras, diz Araújo
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, afirmou nesta segunda-feira não acreditar que a eleição de Alberto Fernández e Cristina Kirchner para comandar a Argentina possa ser diferente do "kirchnerismo" clássico, e apontou que os sinais são os "piores possíveis".
"Fechamento comercial, modelo econômico retrógrado e apoio às ditaduras parece ser o que vem por aí", disse o chanceler brasileiro, em sua conta no Twitter.
Segundo Araújo, as "forças do mal estão celebrando" a vitória de Fernández, que derrotou o atual presidente e candidato à reeleição, Mauricio Macri, na votação de domingo. O peronista tem como vice a ex-presidente Cristina Kirchner, que foi presidente do país de 2007 a 2015.
"As forças da democracia estão lamentando pela Argentina, pelo Mercosul e por toda a América do Sul. Mas o Brasil continuará inteiramente do lado da liberdade e da integração aberta", disse o chanceler.
Para Araújo, a esquerda é "totalmente ideológica" no apoio aos "regimes tirânicos" da região, mas pede pragmatismo "quando se relaciona com as democracias (das quais depende)".
O ministro disse ainda que o Brasil será pragmático na defesa dos princípios e interesses do Brasil. "Um Mercosul sem barreiras internas e aberto ao mundo, uma América do Sul sem ditaduras", concluiu.
Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro havia lamentado a vitória de Fernández, dizendo que a Argentina escolheu mal, e avisou que não irá parabenizá-lo pelo resultado, reiterando que o país vizinho pode inclusive ser afastado do Mercosul.
Durante a campanha eleitoral no país vizinho, o governo brasileiro adotou uma retórica dura diante da provável eleição de Fernández contra Macri, que era o preferido pelo Palácio do Planalto.
As críticas agressivas de Bolsonaro à chapa Fernández-Kirchner apontam para um futuro de relações difíceis que podem afetar o comércio e até mesmo o equilíbrio político regional, segundo analistas ouvidos pela Reuters.
A retórica do presidente --e também de vários outros membros do governo--, que quebrou a tradição da posição brasileira de não comentar as questões políticas internas dos vizinhos e chegou a chamar a chapa de "bandidos de vermelho", desperta preocupação, segundo os analistas.