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Eleições alemãs de 1933 transcorreram em clima de intimidação pelo nazismo

No dia 5 março de 1933, eram escolhidos os novos membros do parlamento, mas o terror praticado pelos nazistas fizeram do último pleito parcialmente democrático uma farsa

5 mar 2013 - 18h46
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<p>Numa onda de terror nunca antes vista, Hitler e seus aliados disseminavam o medo e o pânico por todo o país</p>
Numa onda de terror nunca antes vista, Hitler e seus aliados disseminavam o medo e o pânico por todo o país
Foto: AFP

Em fevereiro de 1933, toda a Alemanha se encontrava em campanha eleitoral. O povo estava convocado para definir, no dia 5 de março, a nova composição do Reichstag, o parlamento nacional. No entanto, apenas um único assunto dominava o debate político: o recente incêndio da sede do Reichstag e a suposta tentativa de golpe por parte dos comunistas.

O chanceler Adolf Hitler e outras lideranças nacional-socialistas exploraram esse tema em suas campanhas, atiçando propositalmente o temor de uma revolução. Numa onda de terror nunca antes vista, Hitler e seus aliados disseminavam o medo e o pânico por todo o país.

País em estado de exceção

O país vivia o estado de exceção político, desde o incêndio do Reichstag, em 27 de fevereiro de 1933. Seguranças altamente armados patrulhavam prédios públicos e a polícia procurava por suspeitos nos trens de passageiros. Nas ruas, soldados da tropa de ataque nazista SA caçavam os inimigos do regime, com a ajuda de policiais.

Achar inimigos era coisa fácil. Desde que o presidente do Parlamento, Paul von Hindenburg, assinou o documento que ficou conhecido como "Decreto do Incêndio do Reichstag", os direitos fundamentais garantidos pela Constituição estavam suspensos e nulos.

Os comunistas eram o principal alvo dos nacional-socialistas. O patrimônio do Partido Comunista da Alemanha (KPD) fora confiscado e os jornais comunistas foram sumariamente proibidos. Milhares de partidários do KPD, mas também social-democratas, foram presos ou obrigados a fugir para o exterior. "Aqui não tenho que exercer justiça, mas apenas que exterminar e erradicar", afirmava Hermann Göring, então chefe da polícia prussiana.

Hitler em todos os lares

Ao mesmo tempo, os nazistas ativavam sua máquina de propaganda. O ministro Joseph Goebbels declarou o dia 5 de março, data das eleições, "Dia da Nação que Desperta". Enquanto se atiçava o medo de um golpe comunista, Adolf Hitler era estilizado como salvador da pátria. Com grande sucesso: "É preciso apoiá-lo agora em sua causa, com todos os meios", exortava em Hamburgo uma adepta do NSDAP, o partido nacional-socialista.

<p>No portão de Brandemburgo, milhares de simpatizantes se concentraram para acompanhar o juramento oficial de Hitler como chanceler, no final de janeiro de 1933</p>
No portão de Brandemburgo, milhares de simpatizantes se concentraram para acompanhar o juramento oficial de Hitler como chanceler, no final de janeiro de 1933
Foto: AFP

Os nazistas empregavam todos os meios modernos em sua campanha eleitoral. No rádio, no cinema ou por via aérea, Hitler era onipresente em todo o território. Em 4 de março, um dia antes da fatídica votação, ele proferiu um discurso final em Kaliningrado, Prússia Oriental.

Por sua vez, os adversários políticos, como os social-democratas, tinham sua campanha eleitoral dificultada com violência: membros da SA invadiam seus comícios e espancavam os participantes, enquanto a polícia assistia impassível. Redações dos jornais de oposição eram devastadas e destruídas. Esses atos de terror deixaram um saldo de 69 mortos.

O "popular" Hitler

No dia 5 de março de 1933, um domingo, hordas de alemães se deslocaram rumo às urnas. A participação nas eleições foi elevada: quase 89%. Hitler contava com uma vitória esmagadora, mas os alemães iriam decepcioná-lo: apenas 43,9% dos votos foram para o NSDAP, o que significava 288 dos 647 assentos do Reichstag.

Embora os nazistas tivessem obtido um crescimento de quase 11% em relação ao pleito anterior, também dessa vez o percentual atingido não bastava para que governassem sozinhos. Além disso, apesar de todo o terror pré-eleições, o KPD saiu com 12,3% dos votos, e os social-democratas do SPD com 18,3%.

No entanto, a oposição não conseguiu tirar das mãos dos nazistas o poder parlamentar. Junto com seus outros parceiros, os nazistas dispunham de maioria estável para governar. E Hitler ainda tinha a seu favor o fato de o partido ter sido eleito com votos de todas as classes e camadas sociais. O NSDAP se tornara um verdadeiro Volkspartei, um "partido do povo". Grande parte dos antigos abstinentes haviam agora apoiado a legenda nazista.Caráter puramente simbólico

Mas o resultado das últimas eleições livres, embora antecedidas por um terror sem precedentes, só teve significado simbólico: os mandatos dos deputados comunistas foram cassados, e o SPD viria a ser proibido pouco depois. Enquanto isso, o regime nazista ampliava sua política de terror, que em breve se estenderia também aos judeus.

Em seu diário, o então professor alemão de origem judaica Victor Klemperer descreveu com resignação o ocaso da moral e da liberdade dos alemães, que se dava praticamente sem qualquer resistência: "é surpreendente como tudo pode desmoronar tão rapidamente".

No pleito do 5 de março, os alemães ainda tiveram a oportunidade de escolher entre diferentes facções políticas. Nas eleições seguintes, em novembro de 1933, só havia um único partido: o dos nazistas.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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