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Eleições na Suécia podem levar extrema direita ao poder

Partido Democratas Suecos deve ser um dos mais votados e pode pôr fim à tradição do país de eleger políticos de centro

9 set 2018 - 10h22
(atualizado às 10h28)
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Nos últimos 97 anos, as eleições na Suécia não foram exatamente palpitantes. Desde a introdução do sufrágio universal no país, em 1921, a maioria dos suecos vem votando nos partidos de centro-esquerda. O principal deles, o partido Social-Democrata e do Trabalhador da Suécia, esteve no poder em 60 dos últimos 100 anos, 41 deles consecutivos (1932-1973).

Jimmie Akesson é o líder do partido Democratas Suecos, de extrema direita, fundado por neonazistas
Jimmie Akesson é o líder do partido Democratas Suecos, de extrema direita, fundado por neonazistas
Foto: TT News/Stina Stjernkvist via REUTERS / Reuters

Tudo deve mudar hoje, quando 7,3 milhões de suecos vão às urnas. A Suécia será mais um país que entra na onda do europopulismo e pode eleger um partido da direita radical.

Segundo as pesquisas mais recentes, o partido dos Democratas Suecos (DS), de extrema direita, antieuropeu e anti-imigrantes, fundado por neonazistas em 1988, deve obter entre 19% e 25% dos votos, o que o colocará em primeiro ou segundo lugar. Qualquer que seja o resultado, o partido será o fiel da balança na formação de um novo governo no país.

A ascensão de um partido tão estranho às tradições moderadas da Suécia espantou a maioria dos analistas políticos. O mais surpreendente é que o esvaziamento dos social-democratas não deu votos para o partido que historicamente representa a direita tradicional, o Moderados, mas sim para o DS e seu líder xenófobo, jovem e carismático, Jimmie Akesson.

Åkesson, de 39 anos, é considerado o principal arquiteto da ascensão dos Democratas Suecos. Nascido em 1979, em Sölvesborg, no sul da Suécia, filho de um pequeno empresário e uma enfermeira, entrou cedo para a política. Aos 19 anos foi eleito vereador. No início, integrou o campo conservador dentro da centro-direita, filiado ao partido Moderados, mas rapidamente se decepcionou pelo liberalismo econômico e apoio à entrada da Suécia na União Europeia.

"Sempre fui nacionalista. Quando era criança me recusava a jogar hóquei de mesa se não deixassem que eu controlasse os jogadores azuis e amarelos", cores da bandeira sueca, afirmou a uma publicação dos Jovens Democratas da Suécia em 1999.

Ele entrou para o Democratas Suecos em 1994, e assumiu as rédeas do partido em 1999. "Os que não são democratas não podem ser do Democratas da Suécia", foi a primeira frase de seu discurso. Assim que assumiu, começou uma limpa no partido, expulsando seus membros mais extremistas. A ideia era justamente abrandar a mensagem racista e xenófoba e se tornar mais palatável para os moderados suecos. O partido trocou de logo, de uma tocha acesa para uma anêmona azul, uma das flores favoritas da Suécia, que prenuncia a primavera. O Democratas Suecos não abandonou seu slogan tradicional, "Mantenha a Suécia Sueca", mas o minimizou em prol de "Segurança e Tradição".

A estratégia não poderia ter funcionado melhor. O partido cruzou o limiar de 4% de cadeiras parlamentares em 2010, ao obter 5,7% dos votos. Em 2014, obteve 12,9%. E agora poderá se tornar, na pior das hipóteses, o segundo maior partido do país.

Reveja: por que a extrema direita está tão forte?

A Suécia, há muito considerada uma "superpotência moral", sempre teve tradição de acolher os imigrantes. Mas isso está mudando sob a pressão da globalização, imigração e ansiedade com a identidade nacional e cultural. A Suécia "está se juntando ao restante da Europa", disse ao New York Times Carl Bildt, um ex-primeiro-ministro do Partido Moderado, de centro-direita. "E o mito do modelo sueco está se desfazendo."

Para muitos analistas, a extrema direita se beneficiou da crise migratória de 2015, ano em que 163 mil pessoas desembarcaram na Suécia, o maior número em relação à população em toda a Europa. "Apesar da economia próspera e do baixo desemprego, o Democratas Suecos promete uma Suécia mítica, a dos anos 50, da Suécia para os suecos, com manutenção de um Estado de bem-estar social para todos", diz Ann-Cathrine Jungar, professora de Ciência Política na Universidade de Sodertorn.

Os outros partidos da Suécia insistem que não farão nenhum acordo com o Democratas Suecos, mas a questão já custou um líder aos moderados e deverá voltar a ser discutida após a eleição, independentemente de qual bloco termine maior.

"A dúvida é até que ponto os partidos suecos vão conseguir negociar com a extrema direita, como ocorreu na Dinamarca e na Noruega, e quanto eles vão se adaptar, ou se vão acabar implodindo as fundações da democracia sueca", afirma Ann-Cathrine Jungar.

Para lembrar

Uma onda de partidos de extrema direita tem conseguido votações expressivas na Europa. Os nacionalistas e xenófobos ganharam eleições na Polônia, Áustria, Hungria e na Itália, e conseguiram espaço na Holanda, Dinamarca e Noruega. Na Alemanha, o recém-criado "Alemanha para os Alemães" conseguiu a terceira maior bancada do Parlamento.

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