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'Eles me convidaram e agora me atacam': Jeffrey Goldberg, o jornalista que revelou mensagens sigilosas da segurança militar de Trump, fala com a BBC

Jeffrey Goldberg, editor chefe do The Atlantic, foi adicionado por engano a um chat de altos funcionários de Trump. Agora ele é um alvo político.

27 mar 2025 - 07h59
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Jeffrey Goldberg foi incluído num grupo de troca de mensagens com o alto escalão do governo americano durante o planejamento de um ataque ao Iêmen
Jeffrey Goldberg foi incluído num grupo de troca de mensagens com o alto escalão do governo americano durante o planejamento de um ataque ao Iêmen
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Quando o jornalista Jeffrey Goldberg publicou uma reportagem bombástica em que descreve como algumas das autoridades mais graduadas dos EUA compartilharam informações confidenciais por engano, ele obteve o maior furo do ano.

Ao mesmo tempo, o editor-chefe da revista do Atlantic se tornou o alvo principal de todos os altos funcionários do governo Trump em Washington.

Nos últimos dias, Goldberg foi chamado de "perdedor" e "canalha" pelo presidente dos EUA, bem como de "mentiroso" e "escória" pelo conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Michael Waltz — que parece ter adicionado Goldberg por engano a um grupo de troca de mensagens no início deste mês.

Antes de se tornar um para-raios da política americana, Goldberg acompanhou em seu celular diversos funcionários do gabinete — como o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, o diretor da CIA, John Ratcliffe, e a diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard — discutirem os detalhes, os horários e os alvos sensíveis de uma futura operação militar no Iêmen. Eles não pareciam notar a presença do jornalista no grupo.

Em uma entrevista à BBC na quarta-feira (26/3), Goldberg disse que tudo começou quando ele recebeu uma mensagem em seu telefone, por meio do aplicativo de mensagens Signal, que permite que os usuários enviem conteúdos criptografados uns aos outros.

A ferramenta é popular entre jornalistas e funcionários do governo. Uma conta com o nome de Waltz enviou uma mensagem, que ele presumiu ser falsa.

"Gostaria que houvesse uma qualidade típica de Le Carré aqui, sabe?", afirmou o jornalista, numa referência ao falecido romancista britânico famoso pelos livros sobre espionagem.

"Mas ele me pediu para conversar. Eu disse que sim. E a próxima coisa que sei é que estava neste grupo de bate-papo muito estranho com a liderança da segurança nacional dos Estados Unidos."

À medida que as consequências do episódio tomavam conta de Washington, Waltz assumiu a responsabilidade por ter adicionado Goldberg erroneamente ao grupo. Ele sugeriu que a ideia era convidar outra pessoa.

Waltz insistiu que nunca conheceu o editor da revista The Atlantic. "Eu não o reconheceria se o encontrasse [pessoalmente]", justificou ele.

Segundo o relato de Goldberg, os dois se encontraram várias vezes, embora o jornalista tenha se recusado a entrar em detalhes sobre o relacionamento que nutre com Waltz.

"Ele pode obviamente dizer o que quiser, mas não vou comentar sobre meu relacionamento [com as fontes]", afirmou Goldberg.

"Como repórter, não me sinto confortável em falar publicamente sobre relacionamentos que posso ou não ter com pessoas que são criadoras de notícias."

Em declarações públicas, o presidente Donald Trump minimizou o episódio
Em declarações públicas, o presidente Donald Trump minimizou o episódio
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Ainda assim, uma coisa é clara: você já precisa ter as informações de contato de alguém para acioná-lo pelo aplicativo Signal.

Portanto, Waltz tinha o número de telefone de Goldberg.

O principal conselheiro de segurança dos EUA disse que pediu a Elon Musk, bilionário da tecnologia e czar da eficiência governamental da Casa Branca, para investigar como esse erro aconteceu — uma decisão que foi ridicularizada por Goldberg.

"Sério, você vai colocar o Elon Musk na investigação de como o número de telefone de alguém acaba no telefone de outra pessoa? A maioria das crianças de 8 anos conseguiria descobrir isso", afirmou ele.

Para o jornalista, a principal questão aqui é: como autoridades de segurança nacional discutem planos sensíveis pelo telefone, por meio de um aplicativo como o Signal?

Numa reportagem publicada na segunda-feira (24/3) na The Atlantic — a primeira a relatar o caso — Goldberg ocultou os detalhes precisos que foram compartilhados sobre a missão militar que atacou alvos rebeldes houthis no Iêmen em 14 de março.

Mas autoridades do governo Trump minimizaram a matéria, chamando-a de mentirosa. Eles também contestaram as alegações de que informações confidenciais foram compartilhadas.

Dois dias depois, a revista publicou as mensagens de texto completas, inclusive as várias intervenções de Hegseth com detalhes operacionais do ataque.

A BBC perguntou se foi difícil tomar a decisão de divulgar todo o material.

"Donald Trump disse que não havia nada de relevante [no caso]. Tulsi Gabbard e John Ratcliffe afirmaram que não havia informações confidenciais ali. Mas nós discordamos [dessa avaliação]", detalhou o jornalista.

"Eles disseram isso, e somos nós que temos as trocas de mensagens. Então talvez as pessoas devessem vê-las [por completo]."

No chat do grupo, há mensagens de texto no chat do grupo — enviadas antes da primeira onda de ataques — que detalhavam exatamente quando os caças F-18 decolariam, quando as primeiras bombas cairiam em alvos houthis e quando os mísseis Tomahawk seriam disparados.

Após a publicação do material na íntegra, Hegseth reagiu. Ele disse que aquilo não representava "planos de guerra", nem informações confidenciais.

Trump demonstrou apoio a Hegseth na quarta-feira (26/3) ao dizer que ele está "fazendo um ótimo trabalho".

O presidente ainda aproveitou a ocasião para classificar Goldberg como um "canalha".

A Casa Branca ainda tentou argumentar que as informações compartilhadas não eram tecnicamente um planejamento de guerra.

Goldberg não parece ter sido influenciado pelos recentes insultos e alegações.

"Se Pete Hegseth, o secretário de Defesa, me envia mensagens de texto, me diz que um ataque estava prestes a ser lançado no Iêmen — inclusive o tipo de aeronave e de armas que serão usadas e quando as bombas cairão —, isso me parece uma informação sensível, uma informação de planejamento de guerra", responde ele.

Esta não é a primeira vez que o editor veterano recebe a ira de Trump: em 2020, Goldberg publicou um artigo no The Atlantic em que expunha o relato de altos oficiais militares.

Segundo essas fontes, Trump teria se referido aos soldados americanos mortos como "otários" e "perdedores" — algo que o presidente e sua administração negaram com veemência.

A BBC perguntou como o jornalista se sentia sobre os ataques pessoais, vindos dos mais altos escalões do governo.

"Essa é a forma de jogar deles. Eles nunca defendem, só atacam", disse Goldberg.

"Então estou cuidando da minha vida. Eles me convidaram para esse grupo do Signal e agora me atacam como um canalha. Nem consigo entender."

O grupo de mensagens da plataforma Signal aparentemente incluía o vice-presidente americano, J.D. Vance, o secretário da Defesa, Pete Hegseth, e o Conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz
O grupo de mensagens da plataforma Signal aparentemente incluía o vice-presidente americano, J.D. Vance, o secretário da Defesa, Pete Hegseth, e o Conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz
Foto: EPA / BBC News Brasil

Trump tem, até agora, defendido a equipe de segurança nacional dos EUA e não parece inclinado a demitir ninguém pelo que ele chama de "caça às bruxas" da imprensa.

Mas Goldberg avalia que há um sentimento generalizado na Casa Branca de que Waltz cometeu um erro grave, bem como uma preocupação mais profunda sobre como o incidente é tratado.

"Se você é um capitão da Força Aérea que atualmente trabalha com a CIA e o Departamento de Estado e lidou mal com informações confidenciais, como eles fizeram, possivelmente seria demitido e processado", comparou Goldberg.

O jornalista disse que agora há um "burburinho" entre as fileiras militares em torno dos padrões de responsabilização aparentemente diferentes para os líderes do governo Trump.

Goldberg não continou no grupo de mensagens. Ele decidiu que a coisa responsável a fazer era sair do chat.

Alguns jornalistas expressaram incredulidade de que ele tenha resolvido deixar a conversa de forma voluntária.

Mas os próximos capítulos dessa história devem se desenrolar na Casa Branca e no Congresso, onde legisladores democratas e alguns republicanos começam a exigir uma investigação mais profunda.

"Há uma parte de mim que adoraria ver o que mais está acontecendo lá [no grupo do Signal]. Mas há muitas questões diferentes aqui relacionadas à lei e à ética, além de outros pontos sobre os quais realmente não posso falar", disse Goldberg.

"Acredite em mim quando digo que tomei essa decisão com bons conselhos de várias partes", concluiu ele.

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