Elizabeth 2ª: 'informar as abelhas' e outras curiosas tradições após mortes de monarcas
A morte da rainha e a ascensão do rei Charles 3º estão revelando alguns protocolos bem particulares da transferência do trono pela primeira vez em gerações
A morte da rainha Elizabeth 2ª e a ascensão do rei Charles 3º ao trono deixaram em evidência a natureza extremamente cerimonial da família real. Mas algumas dessas tradições e costumes podem surpreender até mesmo aqueles que se consideram conhecedores da monarquia.
A seguir, confira alguns dos exemplos mais inusitados.
Abelhas recebem a notícia
Buckingham Palace is home to four beehives. 🐝
The bees live on this bee-autiful island where they forage on a wealth of nectar plants, both native and exotic. 🌼🌺🍃 pic.twitter.com/liOCkdVELR
— The Royal Family (@RoyalFamily) May 20, 2020
Apesar da grande cobertura na imprensa — e nas redes sociais — da morte da rainha, um grupo de indivíduos teve que ser "informado pessoalmente" sobre o falecimento da soberana: suas abelhas.
John Chapple é o apicultor real há 15 anos. Ele manteve uma tradição secular de dar a triste notícia às colmeias que ficam nos terrenos do Palácio de Buckingham e da Clarence House (residência oficial de Charles como príncipe de Gales).
Em entrevista ao jornal britânico Daily Mail, Chapple explicou que também pediu às abelhas que fossem boas com o novo rei. O ritual faz parte de uma superstição de que as abelhas podem parar de produzir mel se não forem informadas sobre uma mudança de dono.
"A pessoa que morreu é o mestre ou senhora das colmeias — alguém importante na família. E não há ninguém mais importante do que a rainha, não é?", disse o apicultor."
"Você bate em cada colmeia e diz: 'A senhora está morta, mas não vá embora. Seu mestre será bom com você.'"
O rei também vai ter dois aniversários?
Entre as muitas decisões que o rei Charles 3º vai tomar em relação à pompa, uma é bastante pessoal: suas comemorações de aniversário.
A rainha Elizabeth 2ª tinha dois aniversários: nascida em 21 de abril, a falecida soberana celebrava oficialmente no segundo sábado de junho, com um desfile conhecido como Trooping the Colour.
Por quê? Abril geralmente é um mês frio no Reino Unido para eventos ao ar livre, enquanto o verão começa em junho.
A tradição, no entanto, é muito mais antiga. Começou com George 2º em 1748. Foi ele quem decidiu associar as comemorações de aniversário ao desfile cerimonial já existente.
Será que Charles 3º vai manter a tradição? Ainda não sabemos, mas vale lembrar que o novo rei nasceu em novembro — um mês pouco conhecido pelo Sol e clima quente no Reino Unido.
"Minha aposta é que o novo rei vai manter as coisas como estão, já que ele nasceu em um mês de outono, e o Trooping the Color é um espetáculo popular", diz à BBC o historiador real Richard Fitzwilliams.
Ele lembra, no entanto, que outra tradição britânica é a imprevisibilidade do clima, usando como exemplo a coroação da rainha Elizabeth 2ª, em junho de 1953.
"O tempo estava horrível no dia", diz ele. "Rainhas e reis não podem controlar o clima."
Força humana, em vez de cavalos
Desde 1901, os funerais reais no Reino Unido são marcados pela imagem de marinheiros da Marinha Real usando cordas para puxar o caixão do soberano, convenientemente colocado em uma carruagem de armas.
Esta escolha de usar a força humana em detrimento da potência dos cavalos pode parecer confusa, mas é uma tradição que começou em 1901 durante o funeral da rainha Vitória. Naquela ocasião, ainda era comum os cavalos puxarem a carruagem com o caixão do soberano.
Mas a procissão teve um momento aterrorizante quando os animais ficaram descontrolados.
"Os cavalos não reagiram muito bem a um dia extremamente frio, e acabou que o caixão da rainha Vitória quase caiu", conta a historiadora real Kelly Swab à BBC.
Por ordem do rei Edward 7º, herdeiro de Vitória e novo monarca, os marinheiros que participavam do cortejo fúnebre entraram em cena.
"Havia dignitários de todo o mundo, e a coisa toda poderia ter sido um grande constrangimento."
"Em vez disso, uma tradição real nasceu do puro caos", acrescenta Swab.
Durante o funeral do rei George 6º, em 1952 — última vez que uma cerimônia soberana deste tipo ocorreu —, 138 homens estavam encarregados da função.
A tradição de quebrar o bastão
Entre toda pompa e circunstância esperada nas cerimônias reais, há uma que poucas pessoas devem ter ouvido falar.
A tradição prevê uma tarefa para o Lord Chamberlain, título concedido ao mais alto oficial da Casa Real e cujos deveres cerimoniais incluem acompanhar o soberano à visita parlamentar anual.
Ele deve quebrar seu bastão branco cerimonial sobre o túmulo do monarca falecido para marcar o fim de seu serviço a ele.
O atual Lord Chamberlain é Andrew Parker, ex-chefe do MI5, uma das agências de inteligência britânicas. Ele assumiu o cargo em abril de 2021.
O gesto cerimonial remonta há séculos.
Foi realizado pela última vez há mais de 70 anos, quando o conde de Clarendon quebrou seu bastão sobre o túmulo de George 6º, pai da falecida rainha.
E, de acordo com Richard Fitzwilliams, costumes como este dão à monarquia do Reino Unido um charme próprio.
"É por causa de tradições como esta que a família real britânica é verdadeiramente única."
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62899794