Em 10 anos, EUA têm mais mortos em massacres do que em ataques terroristas
O número de pessoas mortas em incidentes com armas de fogo nos Estados Unidos entre 2001 e 2011 é mais de 40 vezes maior do que o de mortos em ataques terroristas, segundo dados do Departamento de Justiça e do Conselho de Relações Exteriores americano.
Na quarta-feira, nove pessoas foram mortas e sete ficaram feridas em um massacre em uma faculdade do Estado de Oregon e, em seguida, o próprio atirador foi morto pela polícia.
Enfrentando uma dura oposição a suas iniciativas para criar leis mais duras de porte de armas, o presidente Barack Obama pediu à imprensa nesta quinta-feira que comparasse o número de cidadãos americanos mortos por terrorismo com os mortos pela violência com armas de fogo para dar à população a dimensão do problema.
Ao fazer um pronunciamento sobre a chacina em Oregon, nesta quinta-feira, o presidente demonstrou estar alternadamente irritado, desgastado e aparentemente resignado a lidar com a difícil oposição que enfrenta sobre o tema no Congresso.
"De alguma maneira, isso se tornou rotina. Estas notícias viraram rotina. Minha resposta aqui nesse pódio acaba se tornando rotineira", disse.
Obama voltou a comparar a resposta dos EUA à de países como Reino Unido e Austrália, endureceram suas leis de porte de armas em resposta a massacres.
"Sabemos que outros países conseguiram elaborar leis que praticamente eliminaram esses massacres", disse o presidente. "Então sabemos que há formas de prevenir isso."
Essa foi a 15ª vez que Obama se pronunciou ou divulgou comunicado sobre um massacre desde início de seu governo, em 2009. Mas as mortes no Oregon foram o 994º massacre ocorrido apenas em seu segundo mandato, iniciado em novembro de 2012.
As estatísticas da violência com armas de fogo nos Estados Unidos revelam quão rotineiros são os massacres e outros incidentes com armas de fogo em um país com quase tantas armas quanto pessoas.
Segundo o Departamento de Justiça dos Estados Unidos e o Conselho de Relações Exteriores, 11.385 pessoas morreram anualmente, em média, em incidentes com armas de fogo entre 2001 e 2011.
No mesmo período, uma média de 517 pessoas foram mortas anualmente em ataques relacionados ao terrorismo. Excluindo-se o atentado ao World Trade Center, em 2001, essa média anual cai para 31 mortos.
Só em 2015
Até o dia 1º de outubro de 2015, ocorreram neste ano 294 massacres com armas de fogo no país – episódios em que quatro ou mais pessoas são mortas ou feridas por armas –, mais que um por dia.
No mesmo período, houve 45 massacres em escolas e 142 incidentes do tipo desde o massacre na escola primária de Sandy Hook, no dia 14 de dezembro de 2012 – apesar de estes dados também incluírem ocasiões em que uma arma foi disparada, mas não houve feridos.
Mas se os massacres em escolas e outros capturam a atenção do mundo, a maioria das mortes por armas nos Estados Unidos são incidentes menores e, muitas vezes, pouco reportados.
De acordo com o levantamento da ONG Gun Violence Archive, 9.956 pessoas foram mortas por armas de fogo até agora neste ano e mais de 20 mil ficaram feridas.
Na verdade, tantas pessoas morrem a cada ano no país em incidentes com armas de fogo que a contagem de mortes entre 1968 e 2011 é maior do que a de mortes em todas as guerras das quais o país já participou.
De acordo com uma pesquisa do Politifact, projeto de checagem de dados do jornal , houve cerca de 1,4 milhão de mortes por armas de fogo nesse período, em comparação com 1,2 milhão de mortes em todos os conflitos de sua história, desde a guerra da Independência até a guerra do Iraque.
Não há dados oficiais sobre o número de armas nos Estados Unidos, mas acredita-se que sejam cerca de 300 milhões, concentradas nas mãos de aproximadamente um terço da população. Isso é quase um número suficiente para que cada homem, mulher e criança do país possua uma.
O direito de cidadãos a possuírem armas é protegido pela Segunda Emenda da Constituição americana e defendida ferozmente por grupos de lobby como Associação Nacional de Rifles (NRA, na sigla em inglês), que se gabou de ter cerca de 5 milhões de membros logo após o massacre em Sandy Hook.
