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Em clima amistoso, Biden e Lula falam sobre proteger democracia e meio ambiente na Casa Branca

A primeira interação entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos EUA, Joe Biden, teve abraços, sorrisos, risadas, descontração e promessas de cuidar do meio ambiente.

10 fev 2023 - 20h23
(atualizado às 23h58)
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O clima do encontro entre os presidentes foi descontraído
O clima do encontro entre os presidentes foi descontraído
Foto: Mariana Sanches/BBC / BBC News Brasil

O encontro entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos EUA, Joe Biden, teve abraços, sorrisos, risadas, descontração e um clima de cumplicidade.

Em uma conversa inicial de 13 minutos, testemunhada pelos jornalistas no salão oval da Casa Branca, Lula citou a emergência climática, Biden fez uma defesa da democracia e arrancou risos da plateia ao fazer uma piada comparativa entre o ex-presidente americano Donald Trump e o ex-mandatário brasileiro Jair Bolsonaro.

"O Brasil ficou 4 anos se auto-marginalizando, o ex-presidente não gostava de manter relações com nenhum país. O mundo dele começava e terminava em fake news, de manhã, à tarde e à noite. Ele parecia desprezar relações internacionais", disse Lula, em crítica a Bolsonaro.

Neste momento, Biden o interrompe e dispara: "Soa familiar para mim", arrancando risos de Lula e de jornalistas na sala.

O presidente americano começou sua fala dizendo que Lula era "bem-vindo de volta" à Casa Branca, em uma menção ao fato de que o petista já fora recebido ali durante seus primeiros mandatos.

"As nossas duas nações são democracias fortes e foram testadas, duramente testadas. Em ambos os casos a democracia prevaleceu", afirmou Biden, em uma referência aos ataques ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, e à Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023.

Ambos os presidentes viam grande simbolismo em seu encontro, uma espécie de manifesto da força da democracia.

Biden disse que esse é um "momento muito importante para os nossos países e para o mundo" e relembrou que telefonou para Lula no dia 9 de janeiro para afirmar "apoio incondicional à democracia do Brasil".

Também disse que no mesmo telefonema percebeu que "nossas agendas pareciam muito semelhantes" e agradeceu a parceria do Brasil.

"Somos as duas maiores democracias do hemisfério e Brasil e EUA se unem para rejeitar a violência política e os ataques às nossas instituições. Acredito que devemos continuar a defender juntos os valores democráticos que constituem o núcleo da nossa força não só no nosso hemisfério mas no mundo", disse Biden.

Prevista para durar 15 minutos, a conversa entre os dois presidentes chegou a 50 minutos. Na sequência, eles teriam ao menos mais 45 minutos de encontro acompanhados de seus ministros.

O comportamento de Biden diante de Lula contrasta com o modo como o mandatário americano se posicionou diante de Jair Bolsonaro, em meados do ano passado, durante a Cúpula das Américas, em Los Angeles.

Bolsonaro e Biden mal trocaram olhares e toda a reunião, incluindo a participação dos ministros, durou 50 minutos.

Reunião pública foi seguida de encontro com presença de ministros
Reunião pública foi seguida de encontro com presença de ministros
Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República / BBC News Brasil

'EUA podem contar com o Brasil'

Em resposta à fala inicial de Biden, Lula afirmou que os EUA podem contar com o Brasil.

"Os Estados Unidos representam muito na relação com o Brasil", disse o presidente. E seguiu: "Nós agora temos alguns problemas para trabalhar juntos: nunca mais permitir que haja um novo capítulo do Capitólio, e que nunca mais haja o que aconteceu no Brasil, uma invasão no Congresso Nacional, do Palácio do presidente e da Suprema Corte".

Na sequência, Lula afirmou que os dois países precisam trabalhar para resolver a desigualdade econômica e racial e então enveredou pelo tema sobre o qual mais falaria: a questão ambiental.

"Nos últimos anos, a Amazônia foi invadida pela irracionalidade política, irracionalidade humana, porque nós tivemos um presidente que mandava desmatar, mandava garimpo entrar nas áreas indígenas e mandava garimpar nas florestas que nós demarcárvamos como reserva na Amazônia", afirmou Lula, em referência indireta à crise humanitária e ambiental na Terra Indígena Yanomami.

Biden já disse mais de uma vez que gostaria de criar um fundo para preservar a Amazônia.

Durante o governo Bolsonaro, o enviado climático de Biden, John Kerry, e sua equipe mantinha diálogos mensais com a equipe ambiental de Bolsonaro pressionando por reduções dos índices de desmatamento - o que nunca ocorreu ao longo do governo.

Assim, os americanos jamais concretizaram o envio de recursos à Amazônia. Agora, porém, em um movimento unilateral, pretendem fazer um aporte ao Fundo Amazônia, constituído originalmente por Alemanha e Noruega e que havia sido congelado sob Bolsonaro.

"Eu assumi o compromisso de que até 2030, nós vamos chegar ao desmatamento zero na Amazônia. Nós vamos fazer um esforço muito grande para transformar a Amazônia não num santuário da humanidade, as no centro de pesquisa compartilhada com o mundo inteiro", disse Lula, enquanto Biden assentia com a cabeça e cruzava os dedos.

Lula disse que é urgente proteger o meio ambiente, pelo bem da humanidade.

"A questão climática, se não tem uma governança global forte, que tome decisões que todos os países sejam obrigados a cumprir, não vai dar certo. Não sei qual o foro certo. Não sei se é a ONU, o G20 ou G8. Mas alguma coisa temos de fazer para obrigar os países, os congressos e empresários a acatar decisões que tomamos em níveis globais", afirmou.

No ano que vem o Brasil assume a presidência do G-20 e quer criar um "clube de paz" para negociar o fim da guerra na Ucrânia.

Guerra na Ucrânia

Lula e Biden também discutiram a guerra na Ucrânia - área onde há menos consenso entre os dois líderes.

Enquanto os EUA condenam a invasão feita pela Rússia, o atual presidente brasileiro tem seguido a postura história de se manter neutro em conflitos internacionais, apenas pedindo por paz.

No comunicado em conjunto com Biden, no entanto, incluiu uma linguagem mais dura à Rússia, lamentando a "violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia e a anexação de partes de seu território como violações flagrantes do direito internacional".

Os presidentes afirmaram que conclamam "uma paz justa e duradoura".

"Os líderes expressaram preocupação com os efeitos globais do conflito na segurança energética e alimentar, especialmente nas regiões mais pobres do planeta", diz o comunicado.

Após o encontro, o presidente Lula afirmou que pretende criar um "grupo da paz" para intermediar uma solução para o problema com a presença apenas de países que não estejam direta ou indiretamente ligados ao conflito.

"Falei com o Biden o que eu já tinha falado com (o presidente francês Emmanuel) Macron e com o premiê alemão Olaf Scholz. Que nós temos que criar um grupo de países que não estão envolvidos direta ou indiretamente na guerra para que a gente encontre uma possibilidade de chegar à paz", afirmou Lula.

"É preciso um grupo de negociadores nos quais os dois lados acreditem e com os quais os dois lados possam contar."

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