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Motorista cria abrigo para animais e crianças em Aleppo

18 nov 2016 - 10h07
(atualizado às 14h45)
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Prédio destruído em Aleppo, Síria
Prédio destruído em Aleppo, Síria
Foto: EFE

Ernesto Cat Shelter" é um lugar especial onde animais e crianças são reis e por lá só existe um objetivo: esquecer a dureza de o cerco militar vivido nessa metade assediada de Aleppo, na Síria.

Criado pelo motorista de ambulâncias Mohammad Alaa Aljaleel, o espaço consiste em um imóvel abandonado onde residem gatos, e também alguns cachorros, e um pátio onde as crianças podem brincar e cuidar dos animais no bairro de Masaken Hanano, um dos distritos sitiados do leste da cidade, cercado pelo exército e em poder dos rebeldes.

Aljaleel é um declarado amante dos animais e o responsável por formar o abrigo que foi crescendo aos poucos.

"Quando a guerra começou há cinco anos, muita gente abandonou suas casas e o bairro ficou com uns 20 gatos para trás. Com o passar dos anos, eles se transformaram em mais de uma centena", lembrou Aljaleel, de 40 anos, em uma conversa com a Agência Efe.

O que hoje é uma estrutura razoavelmente organizada começou de uma forma muito simples. Toda noite, depois de sair do trabalho ele passava alimentando os animais famintos e dando carinho. No início, e em tempos prévios ao assédio iniciado em julho deste ano, ele gastava cerca de US$ 5 (R$16) por dia para comprar a carne que sobrava nos açougues, mas conforme o número de gatos aumentou começou ele passou a gastar US$ 20 (quase R$ 70) diariamente.

Os amigos começaram a ajudar e ele acabou criando uma rede de contatos no Facebook, que chegou inclusive ao exterior através de um grupo criado por uma estudante libanesa na Itália e batizado de "Il gattaro d'Aleppo", que apoia Aljaleel.

Com os recursos obtidos, ele criou há pouco mais de seis meses a "Ernesto Cat Shelter", aberta a animais e humanos, principalmente crianças, que desejem aproveitar este pequeno recanto de paz na castigada metade leste da cidade.

"Temos gatos de todos os tipos. Na casa são uns 50 permanentes, mas têm outros que vêm comem e depois voltam para as famílias que os acolhem e alguns que são de rua mesmo, vão e vêm e dormem em casas vazias", explicou.

Por conta da precariedade imposta pelo assédio, a carne que Aljaleel dava aos animais foi substituída por arroz com mortadela. "No começo, eles não gostaram, mas depois de seis dias passando fome, comeram", relatou.

Através da ajuda e dos recursos que ele arrecada dentro e fora da Síria, atualmente consegue alimentar 170 gatos. No entanto, a iniciativa não se restringe aos animais, e ajuda também duas mil pessoas, com a entrega de alimentos como búlgur (grão de trigo partido), açúcar, grão-de-bico, feijões, atum. Em resumo, a comida disponível em um lugar que está sitiado.

"Nós, como seres humanos, devemos ter o coração misericordioso. Eu trabalho em uma ambulância e todos os dias vejo pessoas feridas pelos bombardeios. É preciso ter compaixão com os humanos e com os animais", comentou.

Assim, Aljaleel, que é pai de três crianças, vai diariamente com os filhos à "Ernesto Cat Shelter". Ele não se arrepende de não ter ido embora de Aleppo, como fizeram muitos amigos que fugiram para a Turquia, longe dos bombardeios e onde encontraram trabalho.

"Eu não quero deixar as pessoas daqui. Tem muita gente pobre que não pode sair e eu quero ajuda-las", argumentou Aljaleel.

EFE   
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