Endometriose: 'A dor arruinou minha vida sexual'
Mulheres jovens falam sobre o impacto da doença em seus relacionamentos e na fertilidade.
"O sexo dói tanto que eu raramente faço. A dor que sinto depois é simplesmente horrível."
Hollie é uma entre 1,5 milhão de mulheres no Reino Unido que sofrem com a endometriose.
Esse é o nome dado à condição em que o tecido que reveste o útero cresce para fora do órgão, em regiões como ovários e tubas uterinas — o que significa que a fertilidade pode ser afetada.
No caso dela, assim como o de muitas mulheres, o quadro também causa episódios de dor intensa durante e depois do sexo.
"Não é apenas o fato de dificultar a concepção, a possibilidade de ter filhos, de formar uma família, mas a doença também afeta a vida sexual", conta Hollie.
Ela tem 24 anos de idade e sua educação, perspectivas de carreira e saúde mental já sofreram os impactos da gravidade da doença.
Hollie participou de uma pesquisa da BBC sobre a condição, junto a outras 13.500 mulheres, como parte da maior investigação sobre o assunto no Reino Unido.
Danos e angústia
A jovem foi diagnosticada com o problema em março de 2018, depois de passar cinco anos com sintomas.
"Quando você tem isso [a capacidade de fazer sexo] tirado de si, a saúde mental é afetada."
Hollie tem uma filha com seu parceiro. Ela diz ter recebido muito apoio dele, diante das dores que sente, mas os impactos da doença não deixam de ser uma preocupação.
"Isso me faz sentir como se estivesse falhando, e como se não fosse uma boa namorada", diz ela, destacando que a ansiedade que sofre como resultado da doença é "debilitante".
Outro problema com que algumas mulheres que têm endometriose lidam é a dificuldade em engravidar.
As razões por trás disso não são totalmente compreendidas, mas a hipótese mais aceita é de que seja resultado dos danos às tubas uterinas e aos ovários.
A cirurgia para remover os focos da endometriose podem ajudar, mas não há garantia. O procedimento ainda pode gerar complicações, incluindo hematomas nas proximidades do útero ou — em casos menos comuns, mas mais sérios — danos ao órgão.
Hollie conta que quer mais um filho, mas acredita que tem poucas chances.
"Nós dois sabemos, no fundo, que isso não vai acontecer. Mas não falamos sobre o assunto, porque me deixa triste."
Assim como Hollie, Sophie (nome alterado para preservar sua identidade) sofreu com crises de dor extrema, até chegar ao ponto de não conseguir fazer sexo com seu parceiro.
"A endometriose arruinou minha relação", afirma ela.
"Quando estávamos na cama, eu simplesmente não conseguia fazer nada. Eu não sabia o que era aquela dor e não me sentia levada a sério."
"Mas era uma dor terrível e ele simplesmente não entendia."
"No fim das contas, ele acabou dormindo com outras pessoas."
"Agora, eu não estou buscando ativamente uma relação, porque me preocupo com sexo e com essa minha dificuldade em fazer."
Para Sophie, o sexo pode desencadear uma crise dos sintomas que ela descreve como "insuportável para mim e para quem está em volta — quando estou com dor, fico irritada".
Tratamentos e cirurgia
De acordo com o Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla em inglês), não há ainda uma cura para endometriose, mas vários tratamentos podem aliviar os sintomas.
Entre eles estão os remédios analgésicos e medicamentos hormonais, assim como intervenções mais extremas, como as cirurgias para tirar os focos de tecido endometrial, ou mesmo para remover o útero, no procedimento conhecido como histerectomia.
Algumas mulheres optam pela histerectomia como solução para a dor extrema causada pela endometriose, o que significa que não podem mais ter filhos.
Sophie sofreu com as dores por mais de uma década até obter um diagnóstico — agora, ela tem 26 anos de idade.
Nos últimos tempos, a dor ficou tão forte que Sophie suspeita que a histerectomia seja sua única saída, ainda que coloque um fim à possibilidade de ter filhos.
"Eu falei com meu médico há algumas semanas e ele disse 'vou ser sincero, você provavelmente tem apenas mais um ano para engravidar'."
"A endometriose pode arruinar as minhas chances de ter um bebê", diz ela.