Enfermeiros deixam Portugal em busca de melhores salários
Apesar de terem boa formação, profissionais reclamam de pagamento baixo e condições de trabalho ruins. Alemanha, Reino Unido e Suíça estão entre os destinos preferidos dos que decidem emigrar.António Amaral não consegue decidir se deve ficar feliz ou irritado. Ele preside a maior e, em sua opinião, a melhor faculdade de enfermagem de Portugal, na cidade universitária de Coimbra. No entanto, na metade do ano acadêmico, ele já pode dizer que muitos de seus alunos não encontrarão emprego e, portanto, terão que emigrar.
"O sistema de saúde português oferece poucos empregos para o pessoal de enfermagem e os paga muito mal. É por isso que eles também emigram. E também são muito procurados devido ao seu bom treinamento. Nós investimos e os outros se beneficiam!"
Uma "fuga de cérebros" que custa muito dinheiro ao país e que, na verdade, deveria ser evitada. No entanto, de acordo com dados da Ordem dos Enfermeiros de Portugal, desde o início de 2024 até novembro houve uma média diária de quatro pedidos das declarações necessárias a exercer a profissão no exterior.
Boa qualificação, salário ruim
Em Portugal, a licenciatura em enfermagem é um curso de nível superior, que dura quatro anos. Depois, há a possibilidade de fazer um doutorado. Em alguns países europeus, como a Alemanha, essa é uma profissão de nível técnico, com formação em três anos.
Mas apesar disso, os enfermeiros portugueses costumam ter salário baixo e condições de trabalho ruins. "Como vou pagar um apartamento e viver com 1.300 euros por mês?", pergunta Francisca Lopes, estudante de enfermagem em seu último ano de faculdade.
Talvez isso seja possível em algum lugar do interior, mas nessas áreas quase não há empregos. E, embora haja mais empregos nas grandes cidades, lá os aluguéis são inacessíveis. "É por isso que estou pensando em ir para o exterior. Para a Inglaterra, Suíça ou Espanha, talvez até para a Alemanha."
Melhores perspectivas no exterior
Isso porque os enfermeiros portugueses ganham pelo menos o dobro no exterior, calcula Valter Amorim, presidente da Ordem dos Enfermeiros. Não são apenas os recém-ingressos na profissão que estão deixando o país, mas também profissionais com especialização e anos de experiência. Principalmente para a Suíça, a Alemanha e a Escandinávia, países onde são fortemente cortejados, devido à boa formação e ao alto nível de especialização profissional.
"Não só os salários são muito mais altos no exterior, mas as condições de trabalho também são muito melhores. Os enfermeiros veem melhores perspectivas para o futuro e são mais reconhecidos", afirma Amorim. Não é de se admirar que cerca de 1,6 mil deles deixem o país a cada ano.
A Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, que também é a mais antiga de Portugal, tem cerca de 2 mil alunos. No total, 2,8 mil graduados deixam todas as faculdades de enfermagem de Portugal a cada ano, e muitos vão para o exterior.
A estudante de enfermagem Francisca Lopes explica o motivo: "Na Suíça, por exemplo, eu ganharia cerca de cinco vezes mais no meu primeiro ano do que aqui em Portugal. Isso é tentador, claro". E ela já conheceu a Espanha, uma de suas outras opções, quando participou do programa europeu de intercâmbio acadêmico Erasmus.
"No país vizinho, os enfermeiros e cuidadores têm uma qualidade de vida completamente diferente da que têm aqui em Portugal."
Francisca quer sair de Portugal após os estudos por pelo menos dois anos e depois possivelmente voltar à universidade para uma especialização. Ou não.
Mais investimento é necessário
"Portugal precisa investir mais no setor para evitar o êxodo dos enfermeiros para o exterior", urge o diretor da universidade, António Amaral. "Mais dinheiro para o setor de cuidados de saúde é um bom investimento, porque garante uma saúde melhor. E a saúde é um dos maiores bens."
Além disso, mais enfermeiros poderiam se dedicar ao trabalho preventivo de saúde, um aspecto que Portugal tem negligenciado até agora. "O sistema de saúde português gasta 30% de seu orçamento em medicamentos, mas não investe quase nada em prevenção." Há muito o que fazer, diz Amaral, mas quase nada está sendo feito.