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Ensino de igualdade de gênero gera boicote a escolas na França

Centenas de escolas sofrem com um índice elevado de alunos ausentes desde a sexta-feira após criação de "ABCD da Igualdade"

29 jan 2014 - 17h47
(atualizado às 17h51)
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Alunos de escolas primárias francesas estão boicotando aulas, por iniciativa dos pais, após rumores difundidos por veículos de comunicação de que o governo criou um programa de ensino que visaria "negar as diferenças sexuais entre homens e mulheres".

Uma centena de escolas na França sofrem com um índice elevado de alunos ausentes desde a sexta-feira.

A polêmica surgiu após a criação recente do "ABCD Igualdade", um programa dos ministérios da educação e dos direitos das mulheres e testado em mais de 600 salas de aula em todo o país, com o objetivo de transmitir às crianças o conceito de igualdade entre homens e mulheres e lutar contra os estereótipos que envolvem ambos os sexos.

O programa pretende pôr fim a ideias homofóbicas e misóginas e mostrar que não existem atividades, inclusive recreativas, específicas para meninos ou meninas - que uma garota pode desejar ser engenheira ou bombeira e um garoto pode querer ser parteiro, por exemplo.

Mas grupos ligados à extrema direita difundiram na internet rumores de que o governo teria tornado obrigatório nas escolas primárias o suposto ensino da "teoria do gênero", interpretado por eles como sendo algo que visa eliminar as diferenças biológicas e sociais entre os homens e mulheres e promover a homossexualidade.

Igualdade

Especialistas ressaltam que não existe uma "teoria do gênero" e sim os estudos sobre gênero (gender studies), iniciados nos Estados Unidos nos anos 60 e 70, que analisam a construção social da identidade sexual e a questão das desigualdades entre homens e mulheres.

O ministro da Educação, Vincent Peillon, declarou que o ministério "rejeita totalmente a teoria do gênero e a instrumentalização feita por pessoas da extrema direita, que estão difundindo uma ideia que causa medo aos pais de alunos".

"Queremos promover a igualdade entre homens e mulheres", afirmou Peillon.

Nesta quarta-feira, o ministro pediu a diretores de escolas para convocar os pais que não levaram seus filhos às aulas após o início dos rumores.

Muitos pais receberam mensagens pelo celular pedindo que não levassem seus filhos à escola na sexta-feira passada e também na segunda-feira desta semana para protestar contra o ensino da "teoria do gênero" e publicaram as mensagens nas redes sociais.

"Eles vão ensinar aos nossos filhos que eles não nascem meninos ou meninas, mas sim que eles escolherão seu sexo depois. Isso sem mencionar a educação sexual desde a escola maternal", diz uma mensagem reproduzida pelo jornal francês Le Monde.

O Instituto Civitas, ligado a católicos conservadores, também apoia o boicote às aulas, afirmando que o ministério da Educação estaria difundindo a "ideologia do gênero às escondidas sob pressão de movimentos gays e lésbicos".

Os boatos chegaram a afirmar ainda que o governo estaria promovendo nas escolas primárias uma introdução à sexualidade, com aulas que fariam demonstrações "explícitas" às crianças.

"Nós não falamos nada sobre sexualidade no primário. Na escola, ensinamos a igualdade entre garotos e garotas e não a teoria do gênero", declarou nesta quarta-feira Najat Vallaud-Belkacem, porta-voz do governo e ministra dos Direitos das Mulheres.

"Falamos que os meninos e meninas podem ter ambições de igualdade em relação às suas escolhas profissionais e aos seus sonhos", diz a ministra, se referindo ao programa "ABCD Igualdade".

Boicote organizado

A ideia dos opositores que difundiram os rumores é lançar um dia de boicote às aulas por mês. Na próxima semana, pedidos para faltar às aulas em algumas escolas já foram lançados.

O rumor teria ganhado força, segundo a imprensa francesa, principalmente junto aos pais com baixo nível de instrução e de religião muçulmana.

Em uma escola em Estrasburgo, no leste da França, um terço dos alunos faltou às aulas, sendo quase 90 turcos, ciganos e de origem árabe, segundo o jornal Le Figaro.

Em Meaux, periferia pobre nos arredores de Paris, considerada "zona urbana sensível", 20% dos alunos faltaram na sexta-feira, segundo a imprensa.

O governo minimiza o impacto dos rumores, afirmando que apenas uma centena das 48 mil escolas francesas foi afetada. Mas o assunto vem ganhando força no país.

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