O Exército do Egito depôs o primeiro presidente democraticamente eleito do país, Mohamed Mursi. A Constituição foi suspensa e o chefe da Suprema Corte de Justiça do Egito, Adli Mahmud Mansour, tomou posse nesta quinta-feira como presidente interino do país.
Para entender o atual cenário do país, a BBC fez uma lista de perguntas e respostas.
O comandante-geral das Forças Armadas do Egito, o general Abdul Fattah al-Sisi, declarou em um anúncio transmitido pela TV que a Constituição havia sido suspensa e que o presidente da Suprema Corte Constitucional assumirá poderes presidenciais, na prática derrubando o presidente Mohamed Mursi. De acordo com o general Sisi, o líder da Suprema Corte, Adli Mansour, irá comandar um governo interino formado por tecnocratas até que eleições presidenciais e parlamentares sejam convocadas. A mais alta autoridade islâmica do país, o grã-xeque de Al-Azhar, o líder da Igreja Copta, bem como o principal nome da oposição, Mohammed ElBaradei, se pronunciaram todos após o general, dando seu aval para a deposição.
Uma declaração feita no Twitter da presidência citou Mursi como denunciando o anúncio do Exército como sendo um "golpe completo categoricamente rejeitado por todos os homens livres de nossa nação".
Soldados, apoiados por veículos blindados, asseguraram locais importantes da capital, Cairo, enquanto centenas de milhares de manifestantes de oposição e partidários de Morsi foram às ruas.
Por que o presidente foi deposto?
A oposição pública a Mursi, o primeiro presidente democraticamente eleito do Egito, vinha crescendo desde novembro de 2012. A fim de garantir que a Assembleia Constituinte, dominada por seus aliados muçulmanos da Irmandade Muçulmana, poderia concluir a elaboração da nova Constituição do país, ele expediu um decreto concedendo a si mesmo amplos poderes. Após dias de protestos da oposição, ele concordou em limitar o alcance dos poderes que havia se concedido. Mas houve novos protestos ao final do mês quando a Assembleia Constituinte aprovou às pressas uma versão da Constituição - a despeito de um boicote por parte de liberais, secularistas e da Igreja Copta.
Com a crescente oposição, o presidente Mursi expediu um decreto autorizando as Forças Armadas a proteger instituições nacionais e postos eleitorais até que um referendo sobre o projeto de Constituição fosse realizado no dia 15 de dezembro de 2012. Críticos classificaram a medida como uma nova forma de lei marcial.
O Exército retornou aos quartéis após o documento ter sido aprovado, mas semanas depois tropas foram mobilizadas em cidades ao longo do Canal de Suez para conter enfrentamentos entre opositores e correligionários de Morsi, que deixaram mais de 50 pessoas mortas. Em 29 de janeiro de 2013, o general Sisi advertiu que a crise poderia "levar a um colapso do Estado".
No final de abril, ativistas de oposição montaram o movimento de protesto Tamarod (Rebelde). Seu objetivo central era coletar assinaturas para uma petição que se queixava do fracasso de Mursi em restaurar a segurança no país, bem como sua capacidade de restaurar a economia. E pedia a realização de novas eleições. O grupo também organizou grandes protestos de massa para a data de um ano da posse de Mursi. No dia 30 de junho de 2013, milhões de pessoas tomaram as ruas de diversas cidades no Egito.
Os protestos levaram os militares a advertir o presidente Mursi no dia 1º de julho que iriam intervir e impor o seu próprio caminho, caso ele não atendesse às demandas populares dentro de 48 horas e pusesse fim à crise política.
Com a aproximação do ultimato, Mursi insistiu que ele era o líder legítimo do Egito. Ele avisou que qualquer iniciativa para depô-lo à força poderia lançar o país no caos. "O povo me deu poder, o povo me escolheu por meio de uma eleição livre e justa", afirmou. "Legitimidade é a única maneira de proteger nosso país e de prevenir um banho de sangue, de passar para uma nova fase".
Por que os militares agiram agora?
Após um encontro de líderes políticos, religiosos e jovens, no dia 3 de julho, o general Sisi disse que o povo egípcio vinha clamando por "ajuda" e que os militares "não podiam permanecer em silêncio". O militar afirmou que o Exército havia feito "grandes esforços" para conter a situação e obter reconciliação nacional, mas o presidente não havia atendido "às demandas das massas".
"Os participantes do encontro concordaram com o caminho traçado para o futuro, que inclui os passos iniciais para alcançar a construção de uma sociedade egípcia coesa e que não exclui ninguém e que põe fim ao estado de tensão e divisão", afirmou o general.
A fim de prevenir um contra-ataque desestabilizador por parte de Mursi e de seus aliados da Irmandade Muçulmana, o general Sisi advertiu que os militares e a polícia iriam enfrentar de forma "decisiva" a violência.
1º de julho - Manifestantes voltam a tomar a Praça Tahrir em protesto contra o governo do presidente Mohammed Mursi
Foto: AP
1º de julho - Manifestantes escalam uma parede para revistar a sede da Irmandade Muçulmana em Muqatam
Foto: AP
1º de julho - Grupo invadiu e saqueou a sede da Irmandade Muçulmana
Foto: AP
1º de julho - Egípcia grita slogans contra o governo durante a manifestação
Foto: AP
1º de julho - A bandeira egípcia é um dos símbolos mais usados nos protestos pelas ruas do Cairo
Foto: AP
30 de junho - Praça Tahrir é tomada pela multidão
Foto: AP
30 de junho - Manifestantes se reúnem perto do palácio presidencial
Foto: AP
30 de junho - Os que protestam exigem a saída do presidente Mursi
Foto: AP
30 de junho - Faixas e slogans pichados pedem a saída de Mursi
Foto: AP
30 de junho - Com tampas de panela onde escreveu "saia", manifestante protesta nas ruas do Cairo
Foto: AP
30 de junho - Manifestantes contrários a Mubarak observam helicópteros sobrevoando a Praça Tahrir, no centro do Cairo
Foto: AFP
30 de junho - A onda nova onda de protestos que recoloca o Egito em uma situação de instabilidade análoga à vivida durante a chamada Primavera Árabe ocorre dias após um discurso no qual Mursi alertou para o risco de cisão nacional
Foto: Reuters
30 de junho - Foto em detalhe mostra helicóptero atingido por feixes de laser durante sobrevoo da ampla manifestação que tomou o centro do Cairo
Foto: Reuters
30 de junho - A Praça Tahrir, novamente ocupada por dezenas de milhares de egípcios, foi o epicentro da queda de Hosni Mubarak, e se torna novamente o palco central dos protestos que agora contestam a presidência de Mohamed Mursi; Mubarak permaneceu por três décadas no poder e instalou um governo centralizado no Egito, ao passo que Mursi, há um ano no cargo após ser eleito democraticamente, é acusado de autoritarismo e criticado por sua linha política próxima à Irmandada Muçulmana
Foto: Reuters
30 de junho - Os protestos tomam as ruas pouco mais de dois anos depois da queda de Hosni Mubarak e um ano depois do início do mandato de Mohamed Mursi, eleito no histórico pleito de 2012
Foto: AP
30 de junho - Feixes verdes de lazer iluminam o novo protesto que levou milhares de egípcios às ruas com a nação dividida entre apoiadores e opositores do presidente Mursi, o primeiro mandatário egípcio da era democrática pós-Hosni Mubarak, deposto em fevereiro de 2011
Foto: AP
Manifestantes imersos na multidão usam pequenos canhões de raio laser para protestar na marcha contra Mursi no Cairo; o Egito vive nova onda massica de contestação do presidente, pressionado agora também pelas Forças Armadas
Foto: AP
30 de junho - Milhares marcham em frente ao Palácio Presidencial durante nova mobilização de protesto contra o presidente Mohamed Mursi
Foto: AP
30 de junho - Manifestantes observam helicóptero iluminado por feixes de laser sobre a área da Praça Tahrir e o Palácio Presidencial egípcio
Foto: AP
30 de junho - Homem sob foco de laser na sede da Irmandade Muçulmana atira objetos contra a multidão que nas ruas protestava contra o grupo e o presidente Mohamed Mursi
Foto: AP
2 de julho - Simpatizantes do presidente Mursi participam, com bastões e escudos improvisados, de treinamento para proteger o atual governo do país, no Cairo
Foto: AP
2 de julho - Simpatizantes de Mursi participam de ato em defesa do presidente nas proximidades de universidade em Gizé
Foto: AP
2 de julho - Manifestantes rezam durante ato pró-Mursi em Gizé
Foto: AP
2 de julho - Manifestante contrário a Mursi senta ao lado de grafite com a imagem do presidente sendo socado, no Cairo
Foto: AP
2 de julho - Vendedor vende bandeiras e faixas contra Mursi durante protesto na Praça Tahrir
Foto: AP
2 de julho - Multidão lota Praça Tahrir, no Cairo, em novo dia de protestos contra o presidente egípcio, Mohammed Mursi
Foto: AP
2 de julho - Imagem mostra ponte usada pelos manifestantes para acessarem a Praça Tahrir
Foto: AP
2 de julho - Simpatizantes de Mursi treinam luta com armas para confrontos com opositores do governo egípcio
Foto: AP
2 de julho - Opositores tremulam bandeiras do Egito durante concentração na Praça Tahrir
Foto: AFP
2 de julho - Opositores egípcios exigem a renúncia imediata de Mursi da presidência
Foto: AP
2 de julho - Imagem aérea mostra centenas de milhares de pessoas lotando a Praça Tahrir, no Cairo, em protesto contra o presidente Mohammed Mursi
Foto: AFP
2 de julho - Egípcio pede saída de Mursi em meio aos milhares que protestam nas proximidades do palácio presidencial, no Cairo
Foto: AFP
2 de julho - Imagem aérea da praça Tahrir
Foto: AFP
2 de julho - O símbolo da revolução de 2011 foi novamente ocupada por dezenas de milhares de manifestantes
Foto: AFP
2 de julho - As ruas do centro do Cairo foram completamente tomadas
Foto: AFP
2 de julho - Manifestantes pró-Mursi também foram às ruas no Cairo. Na foto, milhares se reúnem no distrito de Rabaa el-Aadawia
Foto: AFP
2 de julho - Opositores do governo pedem saída de Mursi
Foto: AFP
2 de julho - Manifestantes contrários a Mursi protestam do lado de fora do palácio presidencial de Qoubba
Foto: AFP
2 de julho - Menino tem o rosto pintado com as cores da bandeira do Egito
Foto: AFP
3 de julho - Policial protege ponte no Cairo
Foto: AP
3 de julho - Forças especiais da polícia usam veículo blindado para proteger uma ponte próxima à praça Tahrir
Foto: AP
3 de julho - Voluntários formam uma zona de segurança para as mulheres durante os protestos
Foto: AP
3 de julho - Policial egípcio checa sua arma durante patrulha no Cairo
Foto: AP
3 de julho - Egípcios pedem saída de Mursi na praça Tahrir
Foto: AP
3 de julho - Manifestante agira bandeira do país durante protesto
Foto: AP
3 de julho - Milhares estão reunidos na praça Tahrir, no centro do Cairo
Foto: AP
3 de julho - Opositor de Mursi caminha com cadeira e faca em punho durante os confrontos com os partidários do presidente egípcio
Foto: AP
3 de julho - Oposicionistas abrem bandeira nacional do Egito durante novo dia de protestos e confrontos na capital do Egito em meio ao fim do período dado para a renúncia do presidente Mohamed Mursi
Foto: AP
3 de julho - Soldados e tanques guardam entrada de base militar no Cairo
Foto: AP
3 de julho - Sangue de carneiro morto em ritual simbólico da rejeição e do ódio ao presidente Mohamed Mursi e os líderes da Irmandade Muçulmana, grupo ligado ao mandatário islamita
Foto: AP
3 de julho - Multidão de opositores de Mursi mantém mobilização em meio ao término do prazo dado para a renúncia do presidente eleito há pouco mais de um ano
Foto: AP
3 de julho - Soldados da Forças Especiais egípcios monitora movimento em torno de apoiadores de Mursi na Cidade Nasser, área do Cairo
Foto: AP
3 de julho - Homem segura bandeira nacional do Egito em frente a militares mobilizados em torno de apoiadores de Mursi na Cidade Nasser, área do Cairo
Foto: AP
3 de julho - Militares mobilizados em torno de protesto de simpatizantes de Mursi no Cairo
Foto: AP
3 de julho - Militares miram armas durante na Cidade Nasser, no Cairo. Tropas e tanques foram às ruas em meio ao fim do ultimato do presidente Mursi para entrar em acordo com a oposição
Foto: AP
3 de julho - Helicóptero do Exército sobrevoa o Palácio Presidencial do Cairo; a capital do Egito está tomada por dezenas de centenas de manifestantes que pedem a renúncia de Mohamed Mursi
Foto: AP
3 de julho - Projeção em um prédio junto à praça Tahrir anuncia o fim do governo de Mursi: "game over"
Foto: AFP
3 de julho - Prédio ao lado da praça Tahrir foi usado para projetar palavras em comemoração ao afastamento do presidente
Foto: AFP
3 de julho - "Out": milhares comemoração na praça Tahrir
Foto: AFP
3 de julho - Após o anúncio dos militares da deposição do presidente Mursi, fogos de artifício iluminaram o céu do Cairo
Foto: AFP
3 de julho - Multidão comemora fim da presidência de Mursi no Cairo
Foto: AP
3 de julho - Helicópteros sobrevoam a praça Tahrir
Foto: AP
3 de julho - A emblemática praça Tahrir, berço da revolução que derrubou o ex-presidente Hosni Mubarak, lotada após o anúncio dos militares da deposição do presidente Mursi
Foto: AP
3 de julho - Após o anúncio dos militares da deposição do presidente Mursi, fogos de artifício iluminaram o céu do Cairo
Foto: AP
3 de julho - Egípcios reunidos na praça Tahrir comemoram deposição de Mursi
Foto: Reuters
3 de julho - A praça Tahrir explodiu de alegria após o anúncio da deposição
Foto: AP
3 de julho - Fogos de artifício explodem sobre a praça Tahrir, no Cairo
Foto: AP
4 de julho - Adli Mansour, chefe da Suprema Corte egípcia, toma posse como presidente interino do país, no Cairo, um dia depois de Mohamed Mursi ser deposto
Foto: Reuters
4 de julho - Soldados do Exército bloqueiam ponte que dá acesso à mesquita Raba El-Adwya, onde membros da Irmandade Muçulmana e seguidores do presidente deposto estão acampados
Foto: Reuters
4 de julho - Mansour toma posse em frente a colegas magistrados
Foto: Reuters
4 de julho - Aviões militares sobrevoam o Cairo enquanto Mansour toma posse como presidente interino
Foto: Reuters
4 de julho - Soldados bloqueiam via do Cairo nesta quarta-feira
Foto: Reuters
4 de julho - Homem lê jornal com a notícia da deposição de Mursi no Cairo
Foto: AP
4 de julho - Manifestante dorme sob cartaz de Mursi no campus da Universidade do Cairo
Foto: Reuters
4 de julho - Soldado pede para que apoiador de Mursi e da Irmandade Muçulmana proteste na calçada, em Gizé
Foto: Reuters
4 de julho - Egípcios apoiadores de Mursi fazem manifestação no Cairo. No cartaz se lê: O povo apoia a legitimidade"
Foto: AP
4 de julho - Helicópteros sobrevoam a Praça Tahrir, que reúne um grande número de pessoas, um dia após estar completamente lotada para pedir e comemorar a saída de Mursi
Foto: Reuters
4 de julho - Militares ocuparam ruas do Cairo um dia após a destituição do presidente
Foto: AP
4 de julho - Tanques egípcios bloqueiam o acesso a região de Nasser, no Cairo, onde seguidores da Irmandade Muçulmana se reuniram para protestar contra o presidente Mohamed Mursi
Foto: AP
Compartilhar
Publicidade
Qual o caminho traçado pelos militares?
O general Sisi afirmou que Constituição de 2012, foi alvo de fortes críticas, havia sido "temporariamente suspensa" e que um painel de especialistas e representantes de todos os movimentos iria considerar fazer emendas à Constituição. Mas não especificou se um referendo seria realizado para ratificar as mudanças.
O presidente da Suprema Corte Constitucional, o juiz Adli Mansour, tomaria posse "por um período transitório até que um novo presidente seja eleito". Seria formado, ainda, um governo tecnocrático com plenos poderes para administrar a transição.
O general não especificou quanto tempo duraria o período transitório e o papel que será exercido pelos militares ou mesmo se eles terão um papel específico. Ele também prometeu "não excluir ninguém ou nenhum movimento" e pediu medidas para "dar poder aos jovens e integrá-los às instituições do estado".
Ele conclamou a Suprema Corte Constitucional a rapidamente ratificar a lei permitindo eleições para a Câmara Baixa do Parlamento, que está dissolvida, e para a Assembleia Popular. E afirmou que um novo código de ética será expedido.
O que aconteceu com Mohammed Mursi?
Não se sabe onde se encontra o presidente deposto. Mas há rumores de que ele estaria detido em uma prisão militar. Ele, assim como outros altos mandatários da Irmandade Muçulmana, foram proibidos de viajar.
Em uma declaração postada na conta de Twitter da presidência do Egito, Mursi disse que o anúncio feito pelos militares foi "rejeitado por todos os homens livres que lutam por um Egito civil e democrático". Ele conclamou "civis e militares a respeitarem a lei e a Constituição e a não aceitar um golpe que joga o Egito para trás".
Mursi também afirmou que todos devem preservar a paz e evitar "derramamento de sangue".
<a data-cke-saved-href="http://www.terra.com.br/noticias/infograficos/egito-tharir/iframe.htm" href="http://www.terra.com.br/noticias/infograficos/egito-tharir/iframe.htm">veja o infográfico</a>
BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.