Entenda por que chuvas na Espanha podem afetar preço do azeite no Brasil
Região ao sul da Espanha é a maior produtora de azeitonas, fruto usado para elaboração do produto
A Junta de Andaluzia, governo da região administrativa ao sul da Espanha, que é a principal produtora de olivas do país, anunciou nesta terça-feira, 5, um pacote de medidas para amenizar os efeitos das chuvas torrenciais que atingiram o país entre os dias 29 de outubro e 3 de novembro. Os impactos podem aumentar ainda mais os preços internacionais do azeite de oliva, que disparam nos últimos 2 anos em decorrência das mudanças climáticas na Europa e Oriente Médio.
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A produção de azeite de oliva na Espanha – que responde por cerca de 45% do volume global – já era 26,88% menor em setembro, em relação à média para o mês dos quatro anos anteriores, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pesca, Água e Desenvolvimento (Mapa) do país. Segundo informações da Cooperativas Agroalimentares da Espanha divulgadas um dia antes das chuvas, a safra 2024-2025 seria de 1.716.186 toneladas, 275.000 inferior à média das últimas cinco colheitas.
O cataclisma meteorológico, durante o qual foram registradas chuvas de granizo de tamanho equivalente ao de uma bola de tênis, foi classificado pela Junta da Andaluzia como “desastre natural com incidência no potencial produtivo agrário”. Com isso, o governo espanhol foi instado a adotar medidas emergenciais em 69 municipalidades afetadas na região, nas províncias de Almería, Cádiz, Granada, Jaén, Malága e Sevilla. A Andaluzia, sozinha, é responsável por 80% de toda a colheita espanhola de azeitonas.
Segundo pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Rogério Oliveira Jorge, é difícil estimar os impactos nos preços brasileiros. “A gente não tem nenhum relato até o momento de um efeito significativo na produção [espanhola] que possa afetar o mercado mundial. Mas é uma região produtora tradicional e nós somos um grande importador de azeite da Europa. Então, todas flutuações e problemas que possam acontecer lá podem realmente afetar, aqui, os nossos preços do mercado”, ressalta.
Além da recuperação da atividade produtiva, a nota publicada pela Junta afirma que são urgentes ações para “restaurar as infraestruturas rurais danificadas”, como estradas e caminhos. Sem isso, há um risco de que não existam canais para escoamento da safra de olivas, que começou no dia 1º de outubro.
O presidente da Associação Agrária de Jovens Agricultores (Asaja), Pedro Barato, afirmou, em nota, que “investir na infraestrutura hidráulica é chave para reduzir o impacto de futuras Danas [nome do fenômeno que assolou o país, traduzido como ‘gota fria’]”.
A entidade, reunida na segunda-feira, 4, informou que muitos dos estragos ainda não podem ser calculados, porque as regiões continuam debaixo d’água, “mas o que é certo é que foram perdas milionárias, tanto em cultivos, como canais de irrigação, estufas, armazéns, galpões, maquinário... etc”.
Outra preocupação também está no radar dos agricultores espanhóis: o aumento da proliferação da mosca da azeitona (Bactrocera oleae). A Asaja-Sevilla, filial da associação na região da Sevilha, a mais afetada pelas chuvas, afirmou em nota que registraram aumento da incidência do inseto em várias localidades. A mosca é uma das principais pragas que afligem essa cultura, e são mais presentes conforme há um aumento da umidade.