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Enterro de neonazista em túmulo judeu causa revolta na Alemanha

Negacionista do Holocausto foi enterrado em jazigo que pertenceu a professor de música nos arredores de Berlim

13 out 2021 - 14h37
(atualizado às 14h39)
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O bispo Christian Stäblein classificou o ocorrido como 'um erro terrível'
O bispo Christian Stäblein classificou o ocorrido como 'um erro terrível'
Foto: EKBO / BBC News Brasil

O enterro de um neonazista num túmulo vazio que antes pertenceu a um professor de música de família judaica gerou revolta na Alemanha e foi condenado pela Igreja Protestante do país e outras autoridades.

Os restos mortais do professor de origem judaica Max Friedlaender já haviam sido transferidos para outro local em 1980, mas a lápide ainda o homenageia em cemitério localizado nos arredores de Berlim.

No entanto, o corpo de Henry Hafenmayer, um negacionista do Holocausto — massacre de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial — foi enterrado no local na sexta-feira (8/10), depois de aprovada a reutilização do túmulo.

O bispo local, Christian Stäblein, classificou o ocorrido como "um erro terrível" e visitou o local na terça-feira.

O túmulo fica em um dos maiores cemitérios protestantes da Alemanha, em Stahnsdorf, a cerca de 24 km de Berlim.

O professor Friedlaender, que morreu em 1934, era de família judaica, mas membro da Igreja Protestante. Ele era um cantor baixo (tom grave e raro da voz masculina) e musicólogo especializado nas canções de Franz Schubert.

A imprensa alemã relata que Hafenmayer, o homem agora enterrado no jazigo em Stahnsdorf, era um negacionista do Holocausto e um blogueiro ligado a grupos neonazistas.

Apoiadores neonazistas colocaram coroas de flores sobre o túmulo, com mensagens nacionalistas e fitas adornadas com o símbolo da cruz de ferro da era nazista. Eles colocaram um retrato de Hafenmayer em frente à lápide coberta do professor Friedlaender.

O memorial foi coberto pelos funcionários do cemitério, prática comum quando um túmulo é reutilizado, informou a Igreja.

Entre os enlutados pela morte de Hafenmayer estava Horst Mahler, um neonazista que passou anos na prisão por incitação ao ódio racial, conforme a imprensa alemã.

'Acontecimento chocante'

Em seu pedido de desculpas, o bispo Stäblein disse que o enterro foi "um erro terrível e um acontecimento chocante, em vista de nossa história". O bispo, que dirige a Igreja naquela região da Alemanha, afirmou ainda que irá avaliar se é possível desfazer o ocorrido e de que maneira.

Fotos do funeral foram postadas no site de hospedagem de fotos Flickr pelo perfil RechercheNetzwerk.Berlin, organização que faz campanha contra o antissemitismo.

A organização diz que Hafenmayer publicou propaganda antissemita em seu blog, chamado "Fim da Mentira", e glorificou o nazismo.

A Igreja diz que o representante de Hafenmayer havia originalmente solicitado um jazigo mais central, o que foi recusado pelas autoridades do cemitério, pois havia muitos túmulos judeus naquela área.

A seleção do antigo lote do professor Friedlaender parece não ter sido rejeitada porque os registros do cemitério o cadastravam como protestante.

Capela protestante no cemitério de Stahnsdorf
Capela protestante no cemitério de Stahnsdorf
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Policiais e oficiais do departamento de proteção do Estado estiveram presentes no funeral, disse a Igreja, e as autoridades do cemitério estavam cientes das ligações neonazistas do morto.

O presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha afirma ter ficado chocado com o que aconteceu.

Josef Schuster diz que é insuportável que extremistas de direita "assombrem" o túmulo do professor Friedlaender e, ao fazer isso, profanem sua memória.

A própria Igreja Protestante aprovou que Hafenmayer recebesse um terreno (embora não este específico), apesar de suas conexões neonazistas, diante do princípio de que todos têm direito a um lugar de descanso final, informou a Igreja, mas não havia pastores protestantes na cerimônia.

Túmulos judeus e memoriais do Holocausto foram vandalizados anteriormente por neonazistas na Alemanha e em outras partes da Europa.

O oficial berlinense encarregado do combate ao antissemitismo, Samuel Salzborn, abriu uma ação judicial contra os enlutados por supostamente perturbarem a paz dos mortos e por incitação ao ódio racial.

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