Revelações sobre embaixada dos EUA intrigam franceses
Comunicações não chegam a revelar segredos de Estado, mas a espionagem causou indignação e fortes reações de políticos e membros do governo
Após as revelações de que a Agência Nacional de Segurança americana (NSA) espionou três presidentes franceses entre 2006 e 2012, surgiram dúvidas sobre "misteriosas coberturas plásticas" no telhado da embaixada dos Estados Unidos em Paris.
Estas coberturas ocultariam um sistema de escutas americano na capital francesa, segundo informações veiculadas pelo jornal .
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Foi o jornal que, juntamente com o site investigativo Mediapart, revelou - a partir de dados do Wikileaks - que comunicações dos ex-presidentes Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy e o atual, François Hollande, foram interceptadas pela NSA.
Também foram alvos de escutas ministros, assessores da Presidência, altos diplomatas e chefes de gabinete.
Jean-Marc Manach, um dos autores do artigo do sobre os grampos presidenciais, chamou a atenção para as coberturas plásticas que esconderiam o sistema de escutas americanas na capital francesa - mas não deu mais informações.
As comunicações não chegam a revelar segredos de Estado, mas a espionagem causou indignação e fortes reações de políticos e membros do governo na França.
Para a Presidência francesa, os fatos são "inaceitáveis" e os EUA devem "respeitar estritamente" os compromissos firmados em 2013, quando outras revelações de espionagem envolvendo grampos de comunicações na França haviam sido divulgadas e provocado discussões entre os dois países.
"A França não vai tolerar nenhuma ação que coloque em risco sua segurança e a proteção de seus interesses", afirmou, em nota, a Presidência francesa após uma reunião de emergência do conselho de Defesa nesta quarta-feira, comandada por François Hollande.
A Casa Branca assegurou não ter como "alvo" as comunicações de François Hollande, utilizando o verbo no presente e também no futuro, sem dar detalhes sobre operações no passado.
É a mesma resposta dada à chanceler alemã, Angela Merkel, e à presidente brasileira, Dilma Roussef, no final de 2013, quando surgiram revelações do mesmo tipo envolvendo as duas líderes.
Um alto funcionário dos serviços de inteligência francês será enviado aos EUA para discutir o caso.
A embaixadora dos EUA na França, Jane Hartley, foi convocada pelo ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius, para prestar esclarecimentos em uma reunião no final desta o dia.
A última comunicação grampeada pela NSA nos documentos que vieram à tona é de 22 de maio de 2012, poucos dias após Hollande ter assumido a Presidência.
Soube-se, por exemplo, que logo após seu primeiro encontro como chefe de Estado com a chanceler alemã, Angela Merkel, ele previa, no retorno a Paris, se encontrar com representantes da oposição alemã.
A divulgação dos grampos americanos coincide com a aprovação definitiva pelo Parlamento francês de uma polêmica lei que dará aos serviços secretos do país mais poderes para instalar escutas e vasculhar as comunicações de suspeitos de terrorismo.
'Inaceitável'
Vários políticos e membros atuais e antigos do governo francês cobraram explicações de Washington e uma "resposta forte por parte da França", que "não pode tolerar" ações do tipo.
O ex-presidente Nicolas Sarkozy disse, segundo o jornal , que esses grampos "são métodos inaceitáveis em regra geral e mais ainda entre aliados".
Para Marine Le Pen, presidente do Front National, de extrema-direita, "a França tem de tomar consciência de que os Estados Unidos não são um país amigo" e sim, segundo ela, "uma potência hegemônica disposta a tudo para aumentar seu poder sobre os países".
Em comunicado, o Partido Socialista pergunta: "Como um país que coloca as liberdades individuais acima de tudo pode pisoteá-las? Há nessas escutas uma paranoia de Estado surpreendente".
Já a prefeita de Paris, a socialista Anne Hidalgo, disse que esta é uma questão "muito grave". "Os EUA são nossos aliados. Essas revelações causam medo e exigem explicações por parte dos EUA e garantias de que isso não vai mais ocorrer".
Algumas personalidades francesas, entretanto, disseram estar pouco surpresas com as revelações dos grampos telefônicos.
"Quando você é presidente da República ou um de seus colaboradores, você vive com o sentimento de que há fortes riscos de você ser grampeado", disse o ex-ministro da Defesa, Gérard Longuet.
"É melhor saber que vamos ser grampeados porque pelo menos a gente se cala", disse.