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Escândalo sexual leva todos os bispos do Chile a pedirem demissão ao papa

Os 34 sacerdotes apresentaram sua renúncia ao Vaticano e pediram perdão às vítimas de abusos após uma reunião de três dias com o líder católico.

18 mai 2018 - 12h37
(atualizado às 12h43)
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Foi um pedido de demissão em massa sem precedentes. Os 34 bispos do Chile ofereceram nesta sexta-feira a renúncia aos seus cargos ao papa Francisco em meio ao escândalo envolvendo o bispo chileno Juan Barros, acusado de encobrir abusos sexuais na Igreja Católica no país.

Foto: BBC News Brasil

"Colocamos nossos postos nas mãos do Santo Padre e deixaremos que ele decida livremente por cada um de nós", informaram os bispos em uma coletiva de imprensa no Vaticano. Eles também pediram perdão ao Chile, às vítimas de abusos e ao papa.

Até o início da tarde, Francisco não havia se manifestado sobre aceitar ou não as renúncias.

Em declarações à chilena Rádio Cooperativa, Juan Carlos Cruz, uma das pessoas que afirmam terem sido vítimas de abuso perpetrado por um sacerdote católico no Chile, disse que o anúncio da renúncia constitui um fato "absolutamente inédito".

"Os bispos usam eufemismos para explicar o que aconteceu, mas todos os bispos renunciarem, colocando seus cargos à disposição do papa, é algo que nunca havia ocorrido em uma conferência episcopal", afirmou.

Cruz foi um dos principais denunciantes de Barros. Ele disse estar satisfeito com a atitude de Francisco perante os prelados chilenos - o pontífice atribuiu a responsabilidade em relação aos casos de abuso sexual.

"Os que mais causaram danos e nos provocaram dor e sofrimento foram os bispos", declarou.

Reunião no Vaticano

Os bispos chilenos se reuniram por três dias com o papa no Vaticano para tratar dos erros e omissões na gestão dos casos de abusos nos quais estava envolvido Barros, acusado de encobrir os atos do sacerdote Fernando Karadima.

Francisco entregou um documento de dez páginas em que acusa a hierarquia eclesiástica chilena de negligênica e, ao concluir as reuniões, entregou uma carta a cada um dos bispos.

"À luz destes acontecimentos dolorosos em relação aos abusos - de menores, de poder e de consciência -, aprofundou-se a gravidade dos mesmos, assim como as trágicas consequências para as vítimas. A algumas delas, eu mesmo pedi perdão do fundo do meu coração, ao qual vocês se uniram em uma só vontade e com o firme propósito de reparar os danos causados", escreveu Francisco.

O bispo Barros é questionado há anos no Chile por seus vínculos com Karadima, que tanto a Justiça comum quanto a eclesiástica consideraram responsável por abuso sexual de menores. Os crimes teriam sido cometidos nos anos 1980 e 1990.

O sacerdote foi suspenso permanentemente de suas funções, e suas vítimas acusam Barros de ter atuado para encobrir os casos, algo que ele nega.

Perdão

Em abril, o papa reconheceu ter cometido "graves equívocos em sua avaliação" do caso de bispo Barros. Em uma visita ao Chile em janeiro, Francisco defendeu a inocência do bispo, mas depois pediu desculpas e ordenou uma investigação.

Em uma carta enviada à Conferência Episcopal do Chile, o pontífice perdiu perdão a todos que possa ter ofendido e disse sentir "dor e vergonha".

Para esclarecer o caso, o papa enviou aos Estados Unidos e ao Chile o arcebispo Charles Scicluna, um dos investigadores mais experientes do Vaticano, para que entrevistasse vítimas de Karadima que acusaram também Barros.

Uma delas foi Cruz, que informou em fevereiro à imprensa que, em 2015, enviou uma carta a Francisco detalhando os abusos sofridos por ele e outros menores nas mãos de Karadima, e dizendo que a Igreja no Chile e Barros haviam ocultado por anos esses casos.

Cruz diz que a carta foi recebida em abril de 2015 por um assessor do papa que colabora no combate aos abusos, o cardeal Sean O'Malley, que teria depois assegurado às vítimas e seus representantes que o papa estava ciente das denúncias, algo que o Vaticano não confirma.

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