Escritor Salman Rushdie é esfaqueado com 15 golpes em NY
Rusdhie, de 75 anos, estava prestes a dar uma palestra em Nova York quando um homem subiu no palco e o agrediu
O escritor indiano naturalizado inglês Salman Rushdie, ameaçado de morte por extremistas seguidores do Aiatolá Khomeini desde os anos 1980, foi atacado e esfaqueado com 10 a 15 golpes nesta sexta-feira, 12, minutos antes de dar uma palestra em Chautauqua, no estado de Nova York.
Com ferimentos no pescoço, Rushdie foi levado de helicóptero para um hospital local e submetido a um processo cirúrgico, segundo informou o agente do escritor, Andrew Wylie, ao jornal americano The New York Times. Mas o estado de saúde dele ainda não foi confirmado.
NOW - Salman Rushdie is stabbed on stage in New York.pic.twitter.com/qFmYE6BC5E
— Disclose.tv (@disclosetv) August 12, 2022
Algumas testemunhas disseram aos policiais que viram um homem correndo no palco e agredindo Rushdie enquanto ele estava sendo apresentado para fazer uma palestra sobre liberdade artística. Um repórter da agência de notícias Associated Press que presenciou o ataque disse que o escritor sofreu de 10 a 15 golpes.
O autor caiu no chão quando o homem o atacou, e foi então cercado por um pequeno grupo de pessoas que suspendeu suas pernas, aparentemente para enviar mais sangue para a parte superior de seu corpo, enquanto o agressor foi contido e preso. Segundo a polícia, o moderador do evento também foi atacado e sofreu um pequeno ferimento na cabeça.
As autoridades identificaram o suspeito como Hadi Matar, de 24 anos, morador do distrito de Fairview, em Nova Jersey (EUA). Em entrevista coletiva, o major Eugene Staniszewski disse que Matar tinha um ingresso para acessar o evento, entrou na instituição normalmente, como os outros espectadoresm e foi preso por um policial que trabalhava no local. A motivação dos ataques ainda não foi esclarecida.
Kathleen Jone, uma das cerca de 2.500 pessoas que estavam na plateia, disse que o agressor estava vestido de preto e usava uma máscara preta. "Achamos que talvez fosse parte de uma intervenção para mostrar que ainda há muita controvérsia em torno deste autor. Mas ficou evidente em poucos segundos que não era", disse.
Salman Rushdie loaded onto Medevac. Very somber scene here at Chautauqua pic.twitter.com/c6E9LJth7O
— Horatio Gates (@HoratioGates3) August 12, 2022
Segundo a governadora de Nova York, Kathy Hochul, o escritor foi salvo por um policial local. De acordo com Hochul, "ele está vivo" e "sendo cuidado conforme necessário". A governadora veio a público fazer uma declaração cerca de duas horas depois do ataque. "Foi um policial estatal que se levantou e salvou sua vida, o protegeu e ao moderador (da conferência)", disse.
Inímigo público do Irã
Rushdie se tornou um inimigo público do Irã em 1988, quando sua obra Versos Satânicos foi proibida. Era o regime de Khomenei e suas palavras foram consideradas uma blasfêmia. Um ano depois, o aiatolá Ruhollah Khomeini emitiu uma fatwa pedindo a morte de Rushdie. O Irã também ofereceu também mais de US$ 3 milhões (cerca de R$ 15 milhões) em recompensa para quem matar Rushdie.
As ameaças de morte levaram Rushdie a se esconder sob um programa de proteção do governo britânico, que envolvia segurança armada 24 horas por dia. Rushdie reapareceu depois de nove anos de reclusão e cautelosamente retomou as aparições públicas, mantendo suas críticas abertas ao extremismo religioso.
Ele disse em uma palestra de 2012 que o terrorismo é a arte do medo. "A única maneira de vencê-lo é decidindo não ter medo'', afirmou. Rushdie obteve cidadania americana em 2016 e vive na cidade de Nova York. Ele venceu em 1981 o Booker, principal prêmio da literatura em língua inglesa, pelo livro Os Filhos da Meia-Noite.
O escritor é um importante porta-voz da liberdade de expressão e de causas liberais, e é ex-presidente da organização PEN America, que disse estar "chocada" com o horror do ataque.
"Não conseguimos pensar em nenhum incidente comparável de ataque violento público a um autor de livros em solo americano", disse a presidente da organização, Suzanne Nossel, em um comunicado. Rushdie "tem sido alvo por suas palavras por décadas, mas nunca se esquivou nem vacilou", acrescentou. (*Com informações de agências internacionais)