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Câmara dos EUA critica embaixador por defender Eduardo

'As eleições dos Estados Unidos são para os americanos decidirem', disse Eliot Engel, afirmando que embaixador no Brasil deveria saber disso

29 jul 2020 - 12h23
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O incômodo de congressistas democratas nos Estados Unidos com a torcida da família Bolsonaro pela reeleição de Donald Trump passou a envolver, desde a noite de terça, o embaixador americano no Brasil, Todd Chapman. "Ninguém está contestando o direito de Eduardo Bolsonaro falar livremente, mas as eleições dos EUA são para os americanos decidirem. Depois de tudo o que aconteceu na eleição de 2016, o nosso embaixador não deveria saber disso?", escreveu o presidente do comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, Eliot Engel, ao Estadão.

Foto: EDU ANDRADE/FATOPRESS / Estadão Conteúdo

Na terça, ao jornal O Globo, Chapman disse ser um defensor da liberdade de expressão ao ser questionado sobre a postagem de um vídeo da campanha à reeleição de Trump pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Antes do diplomata americano entrar em cena, o comitê da Câmara chefiado por Engel afirmara, em redes sociais, que Bolsonaro precisa ficar "de fora" das eleições americanas.

A manifestação de Chapman, que é um diplomata de carreira e tem mantido boa relação com a família Bolsonaro em Brasília, foi comemorada por Eduardo Bolsonaro. "Obrigado Embaixador Todd Chapman, estamos unidos na defesa da liberdade e contra a tirania marxista em nosso país", escreveu o deputado e filho do presidente, Jair Bolsonaro.

Entre democratas americanos, no entanto, a manifestação foi vista como um apoio à família Bolsonaro. "Os comentários do embaixador Chapman são extremamente decepcionantes", disse Engel.

A família Bolsonaro já demonstrou apoio a Trump em diversas oportunidades. O próprio presidente Jair Bolsonaro se declarou publicamente fã do americano e afirmou torcer por sua reeleição. Eduardo Bolsonaro já usou um boné com apoio à reeleição de Trump, em visita a Washington. A torcida contraria a tradição diplomática dos países de não se envolver em disputas domésticas, para manter canais abertos com qualquer lado que saia vencedor.

Ao ser criticado pelo comitê da Câmara americana, Eduardo Bolsonaro tentou minimizar a reação no Congresso, ao dizer que a manifestação de Engel era feita por um congressista e não pelo comitê completo. A resistência ao governo Bolsonaro entre deputados americanos, no entanto, tem ganhado corpo no último ano e extrapolou o círculo dos parlamentares democratas mais progressistas.

No início de junho, 24 deputados da Comissão de Orçamento e Assuntos Tributários da Câmara dos EUA, a mais importante da casa, enviaram uma carta ao representante comercial americano em oposição a um acordo comercial com o Brasil. No texto, assinado pelo presidente do colegiado, Richard Neal, os deputados afirmam que Bolsonaro é "um líder que desconsidera o estado de direito e tem desmantelado árduo progresso nos direitos civis, humanos, ambientais e trabalhistas" no País.

Em entrevista ao Estadão, o deputado por Oregon e presidente da subcomissão de Comércio da Câmara, Earl Blumenauer, disse que Bolsonaro é "uma imitação pobre de Trump". "A liderança brasileira atual não inspira confiança. É essencial falar sobre a Amazônia quando tratamos de mudanças climáticas globais. Biden estará em posição de colocar claramente quais são as condições dos EUA para desenvolver essa relação com o Brasil", afirmou Blumenauer.

O democrata Eliot Engel não deve ser reeleito em novembro, mas a substituição do parlamentar deve levar para a Câmara um nome ainda mais distante da linha política da família Bolsonaro. Quem venceu as primárias do Partido Democrata no distrito de Nova York, representado por Engel, foi o progressista Jamaal Bowman.

Dentro do comitê de Relações Exteriores também há outras vozes contrárias a Bolsonaro. O vice-presidente do colegiado, Joaquin Castro, deputado pelo Texas, é um democrata que já cobrou publicamente o compromisso de Bolsonaro com a proteção da Amazônia e que co-organizou uma emenda para esvaziar os efeitos da designação do Brasil como aliado fora da OTAN.

A Câmara tem maioria democrata e o partido de oposição a Trump pode ampliar também sua presença no Senado, em novembro. Analistas, como ex-embaixador dos EUA no Brasil, Tom Shannon, afirmaram ao Estadão que o fato de Bolsonaro ter se vinculado a Trump será um desafio para o governo brasileiro em um eventual governo do democrata Joe Biden.

Estadão
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