Com popularidade alta no Havaí, Obama é roteiro turístico
- Cleide Klock
- Direto de Honolulu, Havaí
Michelle Obama sempre diz que só é possível entender o marido depois de conhecer o Havaí. Circulando por Honolulu, capital do Estado e cidade natal do presidente dos Estados Unidos, é possível comprovar a tese da primeira-dama. Os locais frequentados na juventude pelo democrata que tenta a reeleição neste ano já viraram o "roteiro Obama". Depois de conhecer o local onde ele nasceu, o boato espalhado pela oposição em 2008 - de que Obama seria africano - cai de fato por terra.
Obama precisou divulgar sua certidão de nascimento para comprovar que é americano - pré-requisito para ser o líder do país. Fato risível para a maioria dos seus conterrâneos. Quando questionados sobre se há alguma dúvida de que Obama nasceu lá, a resposta geralmente é: "posso levar você até a maternidade Kapi'olani". Basta parar na frente do prédio onde ele nasceu para ver pessoas tirando fotos, ônibus de turismo e curiosos por todos os lados. E este é apenas o primeiro ponto do roteiro oferecido por agências de turismo para conhecer as raízes do presidente.
A lista é grande. É possível visitar pelo menos sete casas nas quais Obama e sua família moraram, escolas onde estudou, locais em que brincava quando criança, quadras de basquete onde praticava seu esporte predileto, as praias do coração e até a lanchonete do primeiro emprego dele, aos 14 anos de idade. São pelo menos 20 pontos que contam um pouco da história do presidente na sua terra natal, com paradas especiais para comer as guloseimas preferidas de Obama. Dentre as opções, é possível comprar pacotes que fazem de ônibus os roteiros pela ilha ou contratar um guia particular, que leva de carro o cliente nos lugares que preferir.
A brasileira Susie Turner mora nos Estados Unidos há mais de 30 anos e tem a agência de turismo Aloha Private Tour. Além dos passeios tradicionais, ela oferece tours em lugares que fizeram a história do presidente. "Turistas de vários países se interessam pela história do Obama e os lugares que mais mostro são a maternidade e a escola onde ele cursou o ensino médio. Ele estudou na escola mais cara do Havaí." A Punahou School é a maior e uma das mais antigas escolas dos Estados Unidos e tem uma mensalidade anual de cerca de US$ 20 mil (R$ 40 mil).
Porém, o menino Barack Obama tinha uma bolsa de estudos e na época ele era um dos três estudantes negros que frequentavam a instituição. Foi lá que foi incentivado a jogar basquete. Uma das quadras do bairro Makiki também é ponto obrigatório do roteiro turístico. Moradores dizem que pouca coisa mudou nas redondezas desde quando Obama se formou no ensino médio e deixou Honolulu, em 1979. O bairro tem de tudo um pouco, desde prédios chiques a outros bem simples. E há a mistura de americanos com muitos imigrantes, a maioria asiáticos ou de ilhas da Micronésia.
O prédio onde o presidente morou com os avós maternos, nos anos de ensino médio e onde a avó Madelyn Dunham residiu até falecer, em 2008, é um dos pontos de parada da multidão. No hall de entrada sempre havia um mural contando a história do ilustre morador, com fotos e cronologia. Mas para parar com o entra e sai, o mural foi retirado nos últimos meses.
Na rua atrás do prédio está uma sorveteria onde ele teve o primeiro emprego, aos 14 anos. Fe, uma imigrante chinesa que trabalha lá há quatro anos, confirma com orgulho que foi lá que Obama ganhou seu primeiro salário, mas diz que não tem ambições tão grandes como o atual presidente americano. "Muitas pessoas passam aqui para tirar fotos e claro, tomam sorvete. O que traz lucro para a gente", diz ela.
Outros pontos fazem parte do trajeto. Um parque na praia de Waikiki (Queen Kapiolani Park) - lá ele jogava basquete na adolescência e fez piquenique com a família depois de se eleger presidente. Hanauma Bay (foto abaixo), a primeira reserva marinha do Havaí, local no qual vai com a família quando está de férias. A praia de Sandy Beach, onde há várias fotos dele surfando. A lanchonete Waiola Shave Ice, especializada no sorvete feito de gelo moído e xarope de frutas. As cachoeiras do bairro Manoa e o restaurante do badalado chefe de cozinha Alan Wong. "Já vi o presidente duas vezes aqui", diz o manobrista Kai. "Ele foi simpático com todos".
E, é claro, as lembrancinhas com a cara dele também estão por toda parte. Nos artesanatos é possível achar "Obaminhas" de vários estilos: surfista, jogador de golf, tocando ukulelê (uma espécie de cavaquinho havaiano). Para aqueles que querem sair na foto com o presidente, há réplicas de papelão, em tamanho real nas lojas da praia de Waikiki.
O que é ser local e ser havaiano
Obama é considerado local, mas não havaiano. "O presidente não é, nem ele diz ser, havaiano, pois para isso teria que ter pelo menos um dos pais com sangue nativo", diz Pua Kline, que mora no Havaí desde criança, mas é considerada "haole", por ser uma pessoa de pele clara, sem sangue havaiano. "A mãe do presidente era haole, o pai negro, por isso ele não é havaiano, mas sim local, ou kama'aina, como chamamos as pessoas que moram há mais de sete anos no Havaí". Ela diz ainda não ter dúvida que ele tenha nascido na ilha de Oahu, diferentemente de Keanu Bruner, que é da turma que duvida da nacionalidade do presidente. "Eu não conheço ninguém que me garanta isso", diz ele, que, sim, é republicano.
Dos 50 Estados americanos, o Havaí é onde Obama tem o maior índice de aprovação, segundo uma pesquisa do início de agosto. De acordo com o instituto Gallup, 63% da população das ilhas devem votar nele. Apenas no Distrito de Columbia o índice é maior, 83%.
Nos seus discursos, o presidente americano sempre faz referências à terra natal e ainda quando era senador, em 1999 escreveu: "Quando eu estou dirigindo para um duro dia de reuniões e negociações, deixo minha mente vagar de volta para Sandy Beach, para as cachoeiras de Manoa ou para a Escola Punahou. Saber que esses lugares maravilhosos existem, me ajuda de alguma forma, e eu sei que sempre posso voltar para lá". Já a esposa dele, Michelle Obama, sempre diz: "que só é possível entender o marido, depois de conhecer o Havaí".