Conheça as 20 principais conclusões do relatório sobre a CIA
O Centro de Inteligência Americana realizou interrogatórios "brutais" em suspeitos de envolvimento com a Al-Qaeda, segundo um documento do Senado americano que faz duras críticas à agência
O Comitê de Inteligência do Senado divulgou nesta terça-feira o resumo de um relatório sobre o programa de interrogatórios da CIA, elaborado por espiões americanos de alto escalão após os ataques de 11 de setembro de 2001.
De acordo com o documento, a CIA enganou os americanos sobre o que estava fazendo e, ao utilizar técnicas coercivas de interrogatório, falhou em conseguir informações que impedissem novas ameaças.
Em comunicado, a agência de inteligência insistiu que os interrogatórios ajudaram a salvar vidas. "A inteligência obtida com o programa foi muito importante para nossa compreensão da Al-Qaeda e até hoje informa os nossos esforços de contraterrorismo", disse seu diretor, John Brennan.
No entanto, a própria CIA reconheceu que houve erros no programa, especialmente no início, quando não estava preparada para a escala da operação de detenção e interrogatório de prisioneiros.
O programa aconteceu entre 2002 e 2007, durante a presidência de George W. Bush. Os suspeitos eram interrogados usando métodos como "waterboarding" (simulação de afogamento, que causava convulsões e vômitos), humilhação, esbofeteamento, exposição ao frio e privação de sono por até 180 horas.
A senadora Dianne Feinstein, membro do Comitê de Inteligência, disse que as ações da CIA são uma mancha na história americana, mas que o país "mostra que é altivo o suficiente para admitir quando está errado e confiante o suficiente para aprender com seus erros".
"Os presos pela CIA foram torturados, em qualquer definição do termo", afirmou.
O relatório completo tem 6 mil páginas e o resumo, apenas 480 páginas - ele ressalta, no entanto, as 20 principais conclusões sobre o programa. Confira.
1. O uso de "técnicas melhoradas de interrogatório" pela CIA não se mostrou um método eficiente de obter inteligência ou conseguir cooperação dos presos;
2. A justificativa da CIA para o uso dessas "técnicas melhoradas" se baseou em afirmações imprecisas sobre seu grau de eficiência;
3. Os interrogatórios de indivíduos presos pela CIA eram brutais e muito piores do que a CIA os descreveu para legisladores e outros;
4. As condições de confinamento dos presos pela CIA eram mais duras do que a CIA as descreveu para legisladores e outros;
5. A CIA forneceu, repetidas vezes, informações imprecisas para o Departamento de Justiça, impedindo uma análise legal adequada do Programa de Detenção e Interrogatório da agência;
6. A CIA evitou ou impediu ativamente a supervisão do programa pelo Congresso;
7. A CIA impediu a supervisão eficaz e o processo de tomada de decisões por parte da Casa Branca;
8. A operação e a administração do programa feitas pela CIA complicaram, e em alguns casos impediram, as missões de segurança nacional de outras agências do Executivo;
9. A CIA impediu a supervisão do escritório do Inspetor-Geral da CIA (que audita e investiga a própria agência);
10. A CIA coordenou a divulgação de informações sigilosas para a imprensa, incluindo informações imprecisas sobre a eficiência das técnicas de interrogatório.
11. A CIA estava despreparada quando começou a operar seu Programa de Detenção e Interrogatório mais de seis meses depois de ter recebido autoridade para prender indivíduos;
12. A administração e a operação do Programa de Detenção e Interrogatório por parte da CIA foram profundamente equivocadas, especialmente em 2002 e no início de 2003;
13. Dois psicólogos contratados planejaram as técnicas melhoradas de interrogatório da CIA e tiveram um papel central na operação, nas avaliações e na administração do Programa de Detenção e Interrogatório da CIA. Até 2005, a CIA havia terceirizado a maioria das operações relacionadas com o programa;
14. Os indvíduos presos pela CIA foram submetidos a técnicas de interrogatório coercivas que não foram aprovadas pelo Departamento de Justiça ou não foram autorizadas pelo quartel-general da CIA;
15. A CIA não realizou uma contabilidade precisa ou abrangente do número de indivíduos que prendeu, e manteve presos indivíduos que não preenchiam os requisitos legais para detenção. As afirmações da CIA sobre o número de presos que manteve e que submeteu a suas técnicas melhoradas de interrogatório são imprecisas;
16. A CIA falhou em avaliar adequadamente a eficiência de suas técnicas melhoradas de interrogatório;
17. A CIA raramente repreendeu ou responsabilizou funcionários por violações sérias e significativas, atividades inapropriadas e falhas sistêmicas e individuais na administração;
18. A CIA marginalizou e ignorou inúmeras análises internas, críticas e objeção à operação e à administração do Programa de Detenção e Interrogatório;
19. O Programa de Detenção e Interrogatório da CIA era, por natureza, insustentável e terminou em 2006 por causa da divulgação não autorizada de informações para a imprensa, da diminuição da cooperação de outros países e de preocupações legais e de supervisão;
20. O Programa de Detenção e Interrogatório da CIA prejudicou a posição dos Estados Unidos no mundo e resultou em outros custos monetários e não-monetários significativos.