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Cozinheiro é mantido preso por 12 anos em Guantánamo

Embora os EUA reconheçam que Bihani não tem conexões com o grupo terrorista Al-Qaeda, o iemenita segue na prisão por "representar uma significativa ameaça à segurança nacional'

23 abr 2014 - 12h30
(atualizado às 12h45)
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<p>Foto da prisão de Guantánamo, em 7 de agosto de 2013</p>
Foto da prisão de Guantánamo, em 7 de agosto de 2013
Foto: AFP

Ghaleb Nasar al-Bihani passou um terço de sua vida na prisão da Base Naval de Guantánamo, tempo que acredita ser mais do que suficiente para um aprendiz de jihadista a quem um dia deram um fuzil e uma grande colher no Afeganistão para se transformar em um cozinheiro talibã e contra quem nunca foram apresentadas acusações.

Após 12 anos em Guantánamo, Bihani, de 34 ou 35 anos, espera uma incerta libertação praticando ioga e aprendendo espanhol com a esperança de que algum dia possa refazer sua vida na tropical Costa Rica, no Uruguai ou na Espanha.

Os Estados Unidos reconhecem que Bihani não era um líder talibã e não tinha conexões com a cúpula da Al Qaeda, assim como não fazia parte de planos terroristas contra o país. Sua primeira ação de guerra foi se render a seus inimigos da Aliança do Norte.

A segunda foi aproveitar a confusão da guerra civil afegã para tentar escapar em um motim de uma prisão no norte do Afeganistão e cair em mãos das primeiras tropas americanas que iniciavam sua invasão no remoto Afeganistão. Bihani não é acusado de matar nenhum americano.

"Não sabemos se é uma vítima do caos dos primeiros dias do Afeganistão ou verdadeiramente um jihadista perigoso", explicou à Agência Efe um funcionário do Pentágono conhecedor dos processos que tentam acelerar a transferência dos presos menos perigosos da guerra contra o terrorismo.

Após anos oculto na névoa de Guantánamo, Bihani falou recentemente pela primeira vez à imprensa para responder perguntas sobre a revisão de seu caso e a determinação sobre sua repatriação para iniciar uma nova vida.

De um prédio do Departamento de Defesa em Washington e por circuito fechado de televisão, seis jornalistas e dois diplomatas iemenitas puderam ver Bihani, um jovem de pele escura e uma espessa barba que veste uniforme de cor cinza, o que indicaria que não é um preso problemático.

A entrevista foi realizada possivelmente do mesmo edifício de Washington e contou com vários funcionários da administração de Barack Obama e representantes de inteligência anônimos.

<p>Torre de guarda acampamento VI na Base Naval dos EUA na Baía de Guantánamo, Cuba, em 6 de agosto de 2013 </p>
Torre de guarda acampamento VI na Base Naval dos EUA na Baía de Guantánamo, Cuba, em 6 de agosto de 2013
Foto: AFP

Segundo um dos funcionários, Bihani continua detido porque é "uma ameaça significativa à segurança nacional", sua família tem profundos laços com o jihadismo (seu irmão também está preso em Guantánamo) e "apoia a Al Qaeda e o talibã apesar de nunca ter sido um líder".

O representante legal militar do iemenita não está de acordo: "Ele tem problemas de saúde, não tem capacidade de se transformar em líder extremista, não é um guerreiro e nem um agressor. Não era mais do que um cozinheiro que se rendeu à Aliança do Norte (inimigo do talibã no conflito civil afegão)".

Bihani é representado pelo militar da Marinha e sua advogada civil, Pardiss Kebriaei, que se deslocou à base militar americana em território cubano com uma lista de detalhes que pretendem provar os desejos de seu cliente de não voltar a declarar a "Guerra Santa" a ninguém.

Durante sua volta de Guantánamo, Kebriaei explicou à Agência Efe que a situação de Bihani é intolerável, porque sua libertação está sendo atrasada indefinidamente basicamente porque é iemenita e esse governo não oferece garantias de que volte ao extremismo.

Em maio de 2013, após uma greve de fome em massa na cadeia, Obama ordenou que fosse criado um painel para revisar os casos de 71 dos 154 presos de Guantánamo com o objetivo, ainda distante, de fechar esse tribunal de guerra.

O Congresso suspendeu sua moratória contra as mudanças de iemenitas com o sinal verde para deixar Guantánamo; alguns presos até apresentaram planos de negócio para quando forem libertados, e países como o Uruguai se mostraram dispostos a ajudar.

Apesar de tudo, desde maio o painel de revisão de presos só cuidou de quatro casos e apenas um conseguiu o sinal verde para ser libertado no futuro.

"Falta vontade política, estes presos necessitam de ajuda de ONGs e suas famílias para se reintegrar à sociedade, o resto é apenas desculpa", declarou a advogada de Bihani.

Sempre que pode, Kebriaei lembra o caso de um de seus clientes em Guantánamo; um detido sírio que foi repatriado a Portugal. Cinco anos depois, se casou, montou uma família e trabalha como tradutor.

"Bihani também merece uma oportunidade para começar de novo", concluiu Kebriaei.

EFE   
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