Muita chuva, clima tenso e poucas palavras dos eleitores: como foi o dia de votação nas Carolinas, nos Estados Unidos
A reportagem do Terra esteve em alguns locais de votação em um dos pleitos mais acirrados do país
A manhã desta terça-feira, 5, dia de eleição nos Estados Unidos, foi de muito chuva e tensão em um dos Estados mais essenciais do pleito, a Carolina do Norte. Por ser ‘pêndulo’, ou seja, ora vota democrata e ora vota republicano, a campanha dos candidatos Donald Trump (republicano) e Kamala Harris (democrata) foi pesada ao longo da semana em que a reportagem do Terra viajou para o país. Mesmo sendo o dia final desta corrida, os eleitores estavam muito sensíveis diante de uma corrida eleitoral considerada “estressante” para alguns americanos.
O primeiro local de votação que a reportagem visitou foi uma igreja em Charlotte, cidade mais populosa da Carolina do Norte. Nos Estados Unidos, não são apenas escolas que recebem as cabines de votação, embora igrejas e colégios sejam os mais recorrentes. Eleitores entravam e saiam com pressa e alegavam não ter tempo para dar entrevistas; quem parava para conversar queria saber que perguntas seriam feitas antes de aceitar falar, já que o tema é “delicado”.
Nelson Jr. topou falar com o Terra, disse que não iria revelar em quem votou, já que o voto é secreto, mas quis dar entrevistas porque considerou importante falar a respeito de um direito que os americanos têm, mas que muitos não exercem, já que votar não é obrigatório no país. “Só queria dizer que é muito fácil votar; é simples entrar, votar e sair. É basicamente isso. Me senti seguro, você não é forçado a nada, ninguém vem até você. Você apenas entra, vota, sai, e é isso”, detalhou o filho de imigrantes latinos, que saiu de casa mesmo sob uma forte chuva para exercer um direito democrático. “Eu decidi votar porque às vezes esse é um dos nossos direitos como cidadão americano. Então, você tem que entender isso. E fazer parte disso é, na verdade, fazer parte de uma comunidade maior do que é”.
Justamente para incentivar que americanos votem, o local de votação de Nelson estava com uma atividade voltada para crianças.
Os pais que trouxessem a família podiam passar em uma espécie de “votação” em que menores de idade preenchiam uma cédula de votação de mentira e depositavam seus votos em urnas – também de mentira – para poderem participar do dia de eleição e também começar a pensar sobre o assunto para que, anos depois, queiram sair de casa para exercer esse direito.
“Isto é a nossa iniciativa de voto juvenil. Eu comecei isso no ano passado como uma maneira de deixar as crianças empolgadas com a votação. Então, nós damos a eles uma cédula de votação abreviada, e eles podem entrar e fazer a escolha de por quem querem votar. Novamente, não é a cédula completa, mas eles têm as principais opções ali. Nós damos a eles recursos antes para que os pais possam ajudá-los a tomar as melhores decisões, e para que saibam um pouco sobre o que vai estar na cédula, e para que estejam informados o máximo possível, de modo que, quando tiverem idade suficiente para fazer a diferença, saibam como será, e que estejam empolgados”, explicou Shaniqua Green, uma das voluntárias dessa ação.
Propaganda política nem sempre é bem-vinda
Uma curiosidade sobre a votação em igrejas é que, na Carolina do Norte, não é permitido fazer propaganda eleitoral. Cartazes, camisetas, bonés e até mesmo broches não são permitidos. Em escolas, por exemplo, a regra é outra: manifestações do tipo são permitidas e a diferença salta aos olhos. A reportagem visitou uma unidade de educação cheia de cartazes fincados pelo gramado e com voluntários que tentavam convencer as pessoas a votarem no candidato de sua preferência logo na entrada do espaço de votação.
“Estou aqui com alguns outros voluntários do Partido Democrata, distribuindo guias de informações para os eleitores sobre os candidatos do nosso partido. Nós só queremos garantir que as pessoas que esperam votar nos Democratas tenham todas as informações de que precisam para fazer uma escolha informada. Eu acho que é uma eleição muito acirrada este ano, especialmente na Carolina do Norte. Nossa última eleição estadual aqui foi decidida por centenas de votos. Então, as coisas estão realmente acirradas aqui, fizemos o nosso melhor para defender nossos candidatos, mas sim, acho que estamos definitivamente nervosos. Não sabemos qual será o resultado”, disse a voluntária Liza.
“Espero que Kamala vença, mas eu meio que sinto nervosismo de que, aconteça o que acontecer, haverá pessoas chateadas. E não estou esperando nada extremamente grave acontecer, mas eu sei que as pessoas vão ficar chateadas, independentemente do resultado, e expressando decepção e frustração, só espero que isso não aconteça em um nível extremo”, acrescentou.
Carolina do Sul
Aproveitando a proximidade com a Carolina do Sul, o Terra também visitou o Estado, que historicamente vota no partido Republicano, e encontrou um local bem curioso para registrar o voto dos eleitores por lá: um quartel de bombeiros voluntários de um condado da região. O espaço era bem pequeno e poucos eleitores passaram por lá. Ninguém quis dar entrevistas, reforçando o receio dos americanos diante de uma das eleições mais acirradas da história do país.
Como nos EUA cada Estado tem sua regra, na Carolina do Sul, nem mesmo as escolas permitiam propaganda política, ao menos não a que a reportagem visitou já na tarde desta terça-feira. Mesmo não sendo um Estado-pêndulo, o clima não era muito diferente da vizinha Carolina do Norte: eleitores chegavam apressados, votavam, saiam e não queria muito papo.
Mesmo com pressa, a americana Mariah parou alguns minutos para falar de seu dia de eleição com o Terra: “Acho que nosso país tem uma paixão muito grande com esse assunto [eleições], mas aqui eu não sinto tanto isso, porque não é um Estado decisivo, sabe? Mas esperamos ter alguns resultados preliminares ainda esta noite".
"Não sei muito sobre política, mas acompanho um pouco dos candidatos, então, com toda certeza, vou ficar de olho”, completou.