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O que são os "caucuses" de Iowa e até que ponto são importantes?

29 jan 2016 - 19h52
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Ele é um estado pequeno, rural e está longe da média demográfica do país, mas, a cada quatro anos, Iowa monopoliza as atenções mundiais com seu complexo sistema de votação primária - o chamado "caucus" - que, desde a década de 70, serve como primeiro teste de fogo para os pré-candidatos à presidência dos Estados Unidos.

Na próxima segunda-feira, às 19h (hora local, 23h de Brasília), eleitores de Iowa se reunirão em lugares como ginásios, escolas, igrejas, restaurantes e até residências para seu peculiar exercício de democracia, um processo rudimentar que pode durar horas e que frequentemente inclui apaixonados argumentos a favor de um ou outro candidato.

"É como se você convidasse pessoas para jantar em sua casa e perguntasse a elas: quem você prefere que seja o presidente? É algo informal, coloquial. Isso são os caucuses", explicou à Efe o professor Dennis J. Goldford, da cátedra de ciências políticas da Universidade de Drake, que fica na capital do estado, Des Moines.

Os caucuses são assembleias populares organizadas em 13 estados e vários territórios dos EUA e, embora não haja consenso sobre a origem exata da palavra, muitos linguistas garantem que provém da palavra "caucauasu", que no dialeto dos nativos algonquinos, que viviam na região do atual estado da Virgínia, significava "conselheiro, veterano ou assessor".

Ao contrário de eleições primárias como as que serão realizadas em New Hampshire na semana seguinte, os moradores de Iowa só podem votar em determinado horário da tarde e, para este fim, devem comparecer a uma reunião onde precisam se registrar como eleitores do partido Democrata ou do Republicano.

"Você tem que se apresentar lá às sete da tarde na segunda-feira e torcer para que seu automóvel arranque, que a babá não desmarque, que você não esteja doente e não haja tempestade de neve. Portanto, só as pessoas mais comprometidas participam", resumiu Goldford.

Não há voto por correio, nem métodos alternativos para aqueles que precisam trabalhar no mesmo horário dos caucuses ou tenham mobilidade reduzida. Portanto, em média, apenas um em cada cinco eleitores registrados em Iowa votam na primeira seleção entre os concorrentes à Casa Branca.

"Comparecem os mais ideológicos, os que têm uma motivação mais intensa. No lado republicano, são os mais conservadores, e por isso os eleitores evangélicos têm tanto poder. Entre os democratas, são os mais progressistas", afirmou Goldford.

No caso dos republicanos, as regras são simples: eles votam em um dos 1.681 distritos eleitorais do estado escrevendo o nome do pré-candidato que preferem em um pedaço de papel e o colocam em uma urna.

Os democratas têm um processo mais complexo. "Ele é baseado na formação de grupos de preferência, nos quais você tem que ficar em pé e declarar seu apoio a um candidato", resumiu Goldford.

Se um candidato não reunir uma certa margem de aceitação entre os participantes do caucus, que costuma ser de 15% dos presentes nos centros de votação, seus simpatizantes são obrigados a convencer outros para que se somem a sua causa ou se rendam e se juntem a outro grupo.

Com os pré-candidatos definidos em cada distrito, são calculados quantos delegados cada um deles teria na convenção estadual de junho, e isso é encarado como um "termômetro" que influi nas votações primárias no resto do país.

Mesmo assim, Iowa "não determina quem será o candidato" de cada partido, menos ainda quem será o presidente, porque, "desde 1972, só houve três ganhadores de um caucus competitivo que chegaram à presidência: Jimmy Carter em 1972, George W. Bush em 2000 e Barack Obama em 2008", lembrou o acadêmico.

O que o caucus faz é separar o "joio do trigo", determinar "quem não será o candidato" na convenção desse ano, e revelar "forças e fraquezas" de cada campanha, acrescentou.

Muitos americanos consideram injusto que um estado como Iowa - com pouco mais de 3 milhões de habitantes, uma economia eminentemente agrícola e com uma demografia quase isenta de minorias - represente o ponto de partida da corrida presidencial, apesar de ser tão pouco representativo na média nacional.

Iowa tornou-se o primeiro estado a votar "por um acidente histórico", depois que George McGovern, um democrata que era popular na região, ganhou a indicação por razões que não tiveram "nada a ver" com esse território do Meio Oeste, segundo Goldford.

Mas os assessores de Jimmy Carter tomaram nota, e o ex-governador da Geórgia, pouco conhecido em nível nacional, ficou em Iowa "uns 14 meses" desde 1975, falando com gente em "cafeterias e igrejas".

Sua relativa vitória no caucus de 1976 - houve mais eleitores indecisos que simpatizantes de Carter - e sua posterior chegada à presidência "fez com que as pessoas se fixassem" no estado, cuja importância se solidificou nos anos 80 e 90.

Essa fama de trampolim para as campanhas, somada a decisão dos partidos de antecipar a data dos caucuses e à consequente atenção midiática, transformou Iowa no que é hoje.

"Enquanto os jornalistas pensarem que Iowa é importante, os candidatos o farão, e enquanto os candidatos pensarem que Iowa é importante, os jornalistas farão o mesmo", concluiu Goldford.

EFE   
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