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Por que os EUA acreditam que a Rússia está "hackeando" a eleição presidencial americana

11 out 2016 - 09h13
(atualizado às 09h46)
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EUA acusam Rússia de tentar influenciar as eleições usando ciberataques
EUA acusam Rússia de tentar influenciar as eleições usando ciberataques
Foto: iStock

Em meio aos escândalos sexuais que deram o tom no debate dos candidatos à presidência dos Estados Unidos, na última segunda-feira, hackers roubaram a cena por alguns minutos.

Hillary Clinton e Donald Trump trocaram farpas a respeito da acusação de que agentes virtuais a serviço do governo russo estariam tentando influenciar a eleição de 8 de novembro. Durante o fim de semana, o chefe do principal serviço de inteligência dos EUA tinha acusado o primeiro escalão de Moscou pelas intrusões - incluindo relatos de haqueamento de registros eleitorais em dois Estados.

A história teve início em maio, quando o Comitê Nacional do Partido Democrata desconfiou de algo errado em sua rede de computadores e pediu uma auditoria a uma firma de segurança eletrônica. A varredura encontrou dois grupos de hackers no sistema, um deles já presente há quase um ano.

Hillary Clinton e Donald Trump participaram do segundo debate presidencial neste domingo
Hillary Clinton e Donald Trump participaram do segundo debate presidencial neste domingo
Foto: Getty Images

"Descobrimos que a rede tinha sido invadida e comunicações, bem como perfil de candidatos (os EUA também terão eleições legislativas no mês que vem) tinham sido examinadas", disse à BBC o chefe segurança da empresa Crowdstrike e ex-diretor do FBI Shawn Henry.

"Acreditamos que o governo russo esteja por trás da operação e que esteja envolvido em uma campanha de obtenção de inteligência contra candidatos".

Shawn Henry trabalhou no FBI por mais de duas décadas
Shawn Henry trabalhou no FBI por mais de duas décadas
Foto: Getty Images

Ataques agressivos

Mas depois de o partido e a Crowdstrike se pronunciarem publicamente, parte do material foi publicado na internet, o que mudou o foco da simples espionagem para o que parece ser uma operação de influência.

Especialistas de inteligência no Ocidente há algum tempo têm alertado para este tipo de atividade ligada à Rússia. "Estamos vendo um uso mais aberto e agressivo de ataques cibernéticos, em que a informação se transforma em uma arma de influência", explica David Omand, ex-diretor do GCHQ, um dos principais departamentos de inteligência do Reino Unido.

Na sexta-feira, o chefe do Departamento de Inteligência Nacional dos EUA, James Clapper, disse abertamente que o roubo de informações tinha como objetivo "interferir no processo eleitoral".

"Esses roubos não coisa nova para Moscou. Os russos já usaram técnicas similares na Europa e na Ásia, por exemplo, para influenciar a opinião pública por lá. Dado o escopo e a sensibilidade dessas informações, acreditamos que apenas autoridades do alto escalão do governo russo poderiam ter autorizado essas atividades", disse Clapper, em um comunicado.

O governo russo rejeita as acusações, que chamou de "sem sentido".

Cercos

Uma preocupação adicional das autoridades americanas é que a informação roubada possa ser adulterada antes de vazada - dados falsos podem ser infiltrados em meio aos genuínos e pode ser divulgado sem que as pessoas tenham chance de verificá-los.

Alguns Estados americanos relataram tentativas de invasão em seu banco de dados de eleitores, mas as autoridades de inteligência se recusaram a culpar Moscou por elas. Informaram ainda que seria muito difícil para alguém realizar fraudes eleitorais por causa de proteção contra ataques cibernéticos e a descentralização do sistema de contagem de votos.

Mas mesmo a mera possibilidade de invasões pode ser suficiente para causar problemas em um ano eleitoral e em que a disputa pela presidência está longe de ser considerada simples.

"A única razão que vejo para alguém fazer isso é tentar semear dúvidas sobre o resultado da votação. Se você está em um distrito eleitoral que usa urnas eletrônicas e você sabe que o sistema foi invadido, você vai realmente confiar no resultado? Eu vejo uma série de razões pelas quais a Rússia adoraria causar este tipo de inconveniência aos EUA", diz David Omand.

Corrida cibernética

A Rússia é pioneira em técnicas híbridas de guerra, como mostrou em conflitos recentes na Geórgia e Ucrânia. Os serviços de inteligência do país têm ainda uma longa história de "operações de influência" desde a Guerra Fria. Porém, o ciberespaço oferece novos meios de perseguir essa agenda.

E especialistas se preocupam com uma corrida armamentista cibernética quando os americanos responderem aos ataques. "Precisamos de uma discussão diplomática sobre o que é aceitável ou não. Ou veremos uma corrida armamentista no ciberespaço que não será boa para ninguém", diz Shawn Henry.

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