Se Trump perder, será por causa das mulheres e das minorias, indica pesquisa
Se apenas brancos votassem nos Estados Unidos, o empresário Donald Trump, do Partido Republicano, se elegeria presidente com 14 pontos percentuais à frente de Hillary Clinton, do Partido Democrata.
Já entre os eleitores negros, Hillary derrotaria Trump por 79 pontos percentuais. Entre os latinos, ela venceria por 28.
Os dados, divulgados em outubro numa pesquisa do The Washington Post e da rede ABC, mostram como as raças dos eleitores americanos influenciam seus votos e ajudam a explicar a acirrada disputa pela Casa Branca.
Segundo o Censo americano de 2010, brancos são 63,7% da população dos EUA, latinos são 16,3% e negros, 12,2%.
Candidata dos negros
A força de Hillary entre negros americanos ficou evidente nas prévias que a definiram como candidata dos democratas à Presidência. Ela derrotou o rival Bernie Sanders em todos os Estados com população negra significativa, que se concentram no sul do país. Na Carolina do Sul, por exemplo, ela recebeu mais de oito entre cada dez votos de eleitores negros.
Hillary herdou parte da popularidade que seu marido, o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001), tem entre o grupo.
Clinton é de Arkansas, Estado sulista, o que o ajudou a cultivar uma imagem favorável entre negros da região. E quando presidente, ele tomou decisões que agradaram a comunidade, como a nomeação de negros para postos altos do governo e o apoio a políticas afirmativas.
Hoje, muitos questionam os efeitos para negros americanos de outra iniciativa de sua gestão - o endurecimento do código penal, que elevou bastante o número de afroamericanos presos -, mas isso não abalou a popularidade do casal entre o grupo.
Entre os latinos, Hillary é beneficiada pela rejeição do grupo a Trump e ao Partido Republicano, considerados hostis a imigrantes. Trump promete deportar todos os imigrantes sem documentos e construir um muro na fronteira com o México, terra ancestral da mais numerosa comunidade latina dos EUA.
Ele já se referiu a imigrantes do México como "estupradores", disse que o país vizinho enviava aos EUA "bad hombres" (homens maus) e questionou a independência de um juiz descendente de mexicanos para julgar um caso que o envolve.
Já Hillary diz que apresentará uma proposta para regularizar grande parte dos imigrantes sem documentos, medida aplaudida por boa parte do eleitorado latino.
Em outro aceno à comunidade, ela escolheu como vice Tim Kaine, que serviu como missionário em Honduras. Nesta semana, Kaine discursou para os latinos no Arizona. Segundo a campanha, foi a primeira vez que um membro de uma chapa presidencial fez um discurso inteiramente em espanhol nos EUA.
A força da democrata entre latinos pode ser crucial nas votações no Arizona, na Flórida e Nevada - três Estados onde há muitos imigrantes e a disputa está indefinida.
O apoio a Hillary cai significativamente entre latinos já nascidos nos EUA e que falam inglês como língua materna. Nesse grupo, segundo uma pesquisa do Pew Research Center em junho, ela tem 48% dos votos, contra 41% de Trump. Entre os latinos bilíngues ou que falam apenas espanhol, ela lidera com 80%, ante 11% de Trump.
Uma possível explicação é o menor apelo do tema migratório para as gerações de latinos nascidos nos EUA.
Hillary também lidera com folga entre asiáticos, grupo eleitoral que mais cresce nos EUA e que pode ajudá-la em Nevada, onde são 10% dos eleitores.
Ela também é a candidata preferida entre indígenas americanos, havaianos e mulheres.
Na média de pesquisas compiladas pelo site FiveThirtyEight, ela tem 15 pontos percentuais de vantagem entre as mulheres.
A rejeição a Trump entre as eleitoras cresceu com a divulgação de um vídeo em que, sem saber que estava sendo gravado, ele se referiu a mulheres de maneira desrespeitosa. Durante a campanha, várias mulheres o acusaram de assediá-las no passado.
Ele nega os relatos e diz que as acusadoras querem holofotes.
Já entre os homens, Trump tem cinco pontos a mais que a rival.
Brancos sem diploma
Já eleitores brancos são a base do Partido Republicano e de Donald Trump. A apoio ao empresário é especialmente grande entre brancos sem ensino superior, que são quase metade (46%) do eleitorado americano.
Muitos nesse grupo, decisivo em Estados do sul e do centro-oeste dos EUA, se consideram prejudicados pela imigração e pela globalização. É principalmente a esses eleitores que Trump acena ao defender regras mais duras para a imigração e rever acordos comerciais que, segundo ele, fizeram empresas americanas fechar postos de trabalho nos EUA.
Trump tem 31 pontos de vantagem em relação a Hillary entre mulheres brancas sem ensino superior, e 29 pontos entre homens brancos sem ensino superior.
Até a década de 1960, porém, brancos sem faculdade costumavam votar no Partido Democrata, agremiação historicamente ligada a sindicatos.
Os democratas perderam os votos de muitos brancos não escolarizados, mas ganharam os votos de brancos com ensino superior, grupo que tradicionalmente votava nos republicanos.
Hillary está à frente de Trump entre esses eleitores, que são os principais doadores da campanha presidencial. O apoio desse grupo pode ser crucial na reta final da corrida, quando os candidados turbinam a campanha nos Estados capazes de decidir a eleição.