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Tim Walz e J.D. Vance concentram ataques em Trump e Kamala durante debate vice-presidencial dos EUA

Em diferentes momentos, candidatos se esquivaram de responder diretamente as perguntas sobre propostas e optaram por apontar problemas do governo da chapa oponente

2 out 2024 - 01h02
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Os candidatos à vice-presidência dos Estados Unidos, o republicano J.D. Vance e o democrata Tim Walz
Os candidatos à vice-presidência dos Estados Unidos, o republicano J.D. Vance e o democrata Tim Walz
Foto: Brendan McDermid/Reuters

Os candidatos à vice-presidência dos Estados Unidos, o republicano J.D. Vance e o democrata Tim Walz, se enfrentaram, nesta terça-feira, 1º, no possível último debate da campanha das eleições presidenciais americanas de 2024.

Historicamente, os debates dos candidatos à vice-presidência raramente influenciam nos resultado, mas em uma campanha eleitoral na qual Kamala Harris e Donald Trump disputam votos decisivos dos Estados-pêndulo a cerca de um mês antes da votação, o embate desta terça pode somar pontos.

Questionados sobre temas como política externa, mudanças climáticas, imigração e economia, os candidatos à vice pareceram mais focados em atacar os candidatos à presidência da chapa oposta, como é tradicional nos debates de vice-presidentes. À medida que o debate se desenvolveu, Walz deixou de lado uma postura nervosa e inquieta que chamou a atenção no início do duelo, enquanto Vance se mostrou firme, mas menos enérgico do que em aparições anteriores.

Dois acontecimentos que marcaram essa terça-feira no noticiário internacional abriram o debate — a crise no Oriente Médio e o furacão Helene. No dia em que o Irã lançou seu segundo ataque contra o território israelense em seis meses, os candidatos foram questionados se apoiariam um ataque preventivo ao Irã.

Walz, relembrando o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro, foi enfático: "A capacidade de Israel de se defender é absolutamente fundamental". Vance, por sua vez, afirmou que Israel deve fazer o que for necessário para garantir sua segurança: "Devemos apoiar nossos aliados onde quer que estejam quando estiverem lutando contra os bandidos", declarou.

No entanto, ambos evitaram uma resposta direta à pergunta. Walz ainda fez uma crítica velada à gestão de Trump: "Quando o Irã abateu uma aeronave no espaço aéreo internacional, Donald Trump tuitou". Vance rebateu, mencionando o avanço iraniano em direção à obtenção de uma arma nuclear: "Quem foi o vice-presidente nos últimos três anos e meio? A resposta é seu companheiro de chapa, não o meu."

A devastação causada pelo furacão Helene, que já matou mais de 150 pessoas nos Estados Unidos na última semana, levou a uma discussão inicial sobre as mudanças climáticas.

Walz chamou Helene de "uma tragédia horrível" e disse que o governo de Joe Biden está trabalhando "sem partidarismo" para ajudar os Estados afetados. Vance, por sua vez, declarou: "Tenho certeza de que o governador Walz se junta a mim ao dizer que nossos corações estão com essas pessoas inocentes. Nossas orações estão com elas", dando uma resposta muito diferente de seu companheiro de chapa, que acusou Biden e Kamala de politizar a resposta ao furacão.

O republicano porém, expressou ceticismo quanto à ligação entre emissões de carbono e aquecimento global. Ele afirmou que "muitas pessoas estão justificadamente preocupadas com esses padrões climáticos malucos", mas reiterou que tanto ele quanto Trump defendem "ar limpo e água limpa".

Imigração e Springfield, Ohio

A cidade de Springfield, Ohio, tornou-se novamente tema de discussão. No debate entre Donald Trump e Kamala Harris, ocorrido em 10 de setembro, uma das declarações mais controversas de Trump envolveu a falsa alegação de que imigrantes haitianos estavam comendo cães e gatos na cidade. A afirmação foi prontamente desmentida por autoridades locais, mas o impacto chegou a gerar ameaças de bomba na cidade.

Walz acusou Vance e Trump de difamar imigrantes legais em Springfield, lembrando que o governador republicano de Ohio, Mike DeWine, precisou enviar reforços policiais para garantir a segurança das escolas locais após as falsas alegações. "Isso é o que acontece quando você escolhe demonizar ao invés de resolver", criticou.

Em resposta, Vance argumentou que os 15.000 haitianos residentes em Springfield estavam criando problemas econômicos e habitacionais, questões que, segundo ele, o governo Biden-Kamala negligenciava.

O clima esquentou quando Vance interrompeu fora de hora para explicar como os haitianos haviam recebido status legal temporário nos Estados Unidos, forçando a CBS a cortar o microfone de ambos os candidatos. "Cavalheiros, o público não consegue ouvi-los porque seus microfones estão desligados", alertou a âncora.

Economia em debate

Ao chegar em economia, Tim Walz e J.D. Vance trouxeram visões diferentes sobre como a pandemia moldou os dados econômicos dos governos Trump e Kamala-Harris.

Para Trump, a crise de covid-19 em 2020 levou a enormes perdas de empregos e maiores gastos deficitários, mas também a uma baixa inflação. Para o governo Biden-Kamala, a saída da pandemia foi associada a uma inflação mais alta, ganhos de emprego mais rápidos do que o esperado e, sim, déficits que permanecem elevados em comparação com previsões anteriores.

Vance também focou em retratar o governo Trump como um sucesso em assistência médica, embora Trump tenha falhado em revogar o Affordable Care Act.

Visões distintas sobre aborto

Uma das poucas discussões acaloradas no debate foi sobre o aborto, que é um dos pontos mais discrepantes entre as duas campanhas. J.D. Vance acusou os democratas de serem "radicais pró-aborto", e Walz reagiu: "Não, não somos. Somos pró-mulher. Somos a favor da liberdade".

Os dois compartilharam histórias pessoais de mulheres para responder a perguntas sobre como sua administração lidaria com o aborto.

Walz falou sobre Amanda Zurwaski, uma texana que teve um aborto negado apesar de desenvolver uma infecção com risco de vida, e Hadley Duval, que tinha 12 anos quando foi estuprada e engravidada pelo padrasto. Ele também sugeriu que Amber Thurman, uma mulher da Geórgia que supostamente morreu em 2022 após esperar horas por um pronto-socorro para tratar suas complicações por tomar pílulas abortivas.

Walz destacou a lei de Minnesota que protege os direitos ao aborto, dizendo: "Há uma chance muito real de que se Amber Thurman tivesse vivido em Minnesota, ela estaria viva hoje".

Vance, enquanto isso, pareceu suavizar algumas de suas visões sobre o aborto no palco do debate. O candidato a vice-presidente disse que cresceu em Middletown, Ohio, ele conheceu muitas mulheres que tiveram gestações não planejadas e optaram pelo aborto.

Uma amiga próxima, disse Vance, "me disse algo há alguns anos: ela sentia que, se não tivesse feito aquele aborto, isso teria destruído sua vida, porque ela estava em um relacionamento abusivo". Vance disse que quer que os republicanos ofereçam "mais opções" às mulheres para criarem famílias.

'Houve problemas em 2020'

Apesar de trocarem farpas verbais frequentes e de criticarem repetidamente os companheiros de chapa um do outro, ambos os candidatos no debate vice-presidencial mantiveram um clima civilizado.

Quando a pergunta mudou para o estado da democracia, os dois candidatos afirmaram que "apertariam as mãos" ao final das eleições. "O vencedor precisa ser o vencedor", disse Walz, ao enfatizar que a recusa em reconhecer a derrota e a tentativa de reverter a eleição de 2020 foram ameaças sem precedentes.

Em resposta, J.D. Vance argumentou que é injusto atribuir apenas aos republicanos a responsabilidade por contestar os resultados eleitorais. Segundo ele, os democratas também questionaram a validade das eleições, como em 2016, quando Hillary Clinton afirmou que a eleição foi influenciada pela Rússia. Vance ainda defendeu que Donald Trump entregou o poder pacificamente em 20 de janeiro.

Walz questionou diretamente seu oponente: "Ele (Trump) perdeu a eleição de 2020?". Em resposta, J.D. Vance evitou a pergunta direta de Walz, alegando estar "focado no futuro", mas declarou "obviamente, Donald Trump e eu acreditamos que houve problemas em 2020?./Com AP.

Estadão
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