Trump eleito e dólar em alta: o que esperar do câmbio com o novo presidente eleito?
Incerteza, políticas inflacionárias e barreiras ao comércio internacional são indicadores de que o dólar vai continuar subindo
O resultado nas eleições nos Estados Unidos já está impactando os preços do dólar em todo o mundo. A vitória de Trump, confirmada na manhã desta quarta, 6, fez a cotação da moeda norte-americana abrir em alta em relação a maioria das demais moedas, sobretudo ao peso mexicano e ao yuan chinês. O real abriu valendo US$ 5,85 (alta de 1,46%), mas normalizou ao longo do dia e registrava US$ 5,67 no fim da tarde.
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Segundo professor da FGV, Renan Pieri, há uma percepção de incerteza em relação ao futuro da maior economia do mundo, que está impactando o dólar no curto prazo.
Por que o dólar subiu?
“Em momentos em que a incerteza aumenta, os investidores tendem a tirar dinheiro de países emergentes, tirar os dólares de países emergentes, e levar para investimentos mais seguros dos países envolvidos. Isso faz com que a cotação do dólar aumente e a nossa moeda se deprecie”, explica Renan Pieri, professor da Fundação Getúlio Vargas, em relação ao curto.
No médio prazo, há apreensão quanto aos efeitos, no comércio mundial, das medidas protetivas que Trump tanto prometeu ao longo da campanha. Isso é, se ele conseguir aprová-las. Isso porque, no caso brasileiro, é possível que as exportações para os Estados Unidos sofram restrições, afetando nossas commodities. Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil --foram US$ 34,32 bilhões (cerca de R$ 194 bilhões) só neste ano.
No longo, porém, o cenário é ainda mais preocupante. Existe uma avaliação dentro do mercado de que as políticas de Trump serão inflacionárias --vão fazer com que os preços de mercado americano aumentar. Como principal economia, esse aumento deve gerar um impacto inflacionário em todo o mundo.
Taxa de juros
Em situações como essa, o Federal Reserve Bank (FED) tende a aumentar a taxa básica de juros. Na história da economia, taxas de juros altas nos Estados Unidos fazem com que investidores estrangeiros, que têm apetite por investimentos mais seguros em renda fixa (como títulos do tesouro) retirem dinheiro das economias emergentes, como o Brasil, e coloquem no país norte-americano.
“O mercado não está tão nervoso, a ponto de, já, você observar uma mudança na postura do Fed em relação à taxa de juros. Agora, é claro que, uma vez que essas políticas venham a se confirmar, e, de fato, os importados fiquem mais caros nos Estados Unidos, especialmente a tarifa de importação, isso pode, sim, afetar a inflação nos Estados Unidos e aumentar a taxa de juros lá”, ressalta Pieri.
Ao Estadão/Broadcast, o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, afirmou há uma forte aposta no chamado “Trump Trade”; fora isso, tudo ainda está a se definir conforme a política do futuro presidente se confirmar.
“Desde meados de setembro, o chamado “Trump Trade”, ou seja, a ideia de alguns eventos com a vitória de Trump, ganhou força. É a percepção de uma economia mais fechada, com aumento de protecionismo, portanto, menos eficiente, com riscos de mais inflação nos EUA. Isso significa um dólar mais forte”.
“Vimos o dólar, o índice DXY (de moedas globais) e os juros dos Treasuries (títulos do Tesouro americano) se fortalecendo. Boa parte do “Trump Trade” está precificada. Me parece que pode haver novas rodadas de fortalecimento do dólar conforme Trump anunciar medidas. Isso é mais diluído, mais dilatado, no tempo. Vamos ver se ele vai aumentar mesmo em 60% as tarifas sobre a China, se vai banir a imigração, como prometido. É algo que vamos descobrir ao longo de 2025. Mas, nas últimas duas semanas, a maior parcela da deterioração do real, nas nossas simulações, decorreu de fatores locais”, explicou Honorato.