Em momento histórico, relembre 12 atritos entre Cuba e EUA
Depois de meio século de isolamento, países retomam hoje, oficialmente, as relações diplomáticas
No dia 17 de dezembro de 2014, o presidente americano, em surpreendente discurso na Casa Branca, anunciou a intenção de retomar relações diplomáticas com Cuba, afirmando que as mais de cinco décadas de atrito entre os países não foram positivas. "Esses 50 anos mostraram que o isolamento não funcionou - é tempo de outra atitude", afirmou Barack Obama na ocasião.
As primeiras reuniões práticas com a intenção de normalizar as relações diplomáticas ocorrem nesta quarta e quinta-feira, em Havana, com a presença de uma delegação americana chefiada por Roberta Jacobson, secretária de Estado adjunta para Assuntos Hemisféricos.
Entre as possíveis medidas a serem tomadas, estão a reabertura da embaixada americana em Havana, a suspensão de restrições a viagens de americanos à ilha, o aumento no número de bens e serviços que podem ser vendidos para Cuba, a autorização da importação de 400 dólares em mercadorias cubanas e a autorização para instituições americanas abrirem contas financeiras em Cuba.
Obama ainda sinalizou, no discurso de dezembro, o desejo de discutir o fim do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos aos caribenhos, a mais polêmica questão na relação entre os dois países. O presidente, no entanto, reiterou que esse é um debate que deve ser levado adiante pelo poder legislativo, que tem a atribuição de alterar as leis que regulam o embargo.
Para saber mais sobre a conturbada relação entre Cuba e Estados Unidos, veja a nossa linha do tempo com os 12 principais acontecimentos conflituosos entre os dois.
1. Emenda Platt (1902)
Cuba se tornou independente dos espanhóis em 1898 com ajuda dos Estados Unidos. Os americanos deixaram a ilha somente em 1902, quando conseguiram inserir, na Constituição cubana, a Emenda Platt, que permitia aos vizinhos do norte intervirem diretamente em assuntos internos da ilha.
2. Revolução (1959)
Em 1959, um exército de rebeldes, comandado por Fidel Castro e Che Guevara, tomou o poder da ilha, destituindo o ditador Fulgencio Batista do cargo de presidente. A partir daí, Castro passou a anunciar suas aspirações socialistas. Antes disso, o governo dos EUA mantinha boas relações com Batista, e empresários americanos dominavam indústrias de açúcar e hotéis na ilha.
3. Rompimento das relações diplomáticas (1961)
Foi em janeiro de 1961 que o presidente Dwight Eisenhower (sucedido, menos de um mês depois, por John F. Kennedy) anunciou o rompimento das relações diplomáticas dos EUA com Cuba. No mesmo mês, o governo de Castro estreita laços com a União Soviética, em plena Guerra Fria. Começam, aí, os atritos.
4. Baía dos Porcos (1961)
Em abril do mesmo ano, exilados cubanos e herdeiros de empresas nacionalizadas pelo novo regime cubano, treinados pela CIA, tentam invadir a ilha. A ocasião, que ficou conhecida como Invasão à Baía dos Porcos, terminou com o saldo de 176 mortos e a derrota dos invasores americanos.
5. Embargo (1962)
O bloqueio econômico, comercial e financeiro passa a ter cada vez mais força sob a presidência de John F. Kennedy. O presidente toma mais medidas restritivas gradativamente - a primeira fixada legalmente foi no dia 7 de fevereiro de 1962.
6. Crise dos mísseis (1962)
Um dos momentos mais críticos da Guerra Fria foi a crise dos mísseis. Em retaliação à instalação, por parte dos americanos, de mísseis nucleares na Turquia, os soviéticos fizeram o mesmo em Cuba. Em um primeiro momento, Kennedy encarou a atitude como uma declaração de guerra, mas as tensões diminuíram quando Nikita Kruschev, líder da União Soviética, ordenou a desativação dos mísseis.
7. Atentado a avião cubano (1976)
O voo 455 da companhia Cubana de Aviación, que fazia o trajeto Barbados-Jamaica, foi destruído pela explosão de duas bombas, matando 73 pessoas. Membros de organizações anticastristas e pessoas ligadas à CIA foram acusadas de envolvimento e quatro pessoas acabaram presas. Já o governo americano foi acusado de complacência com o acontecido.
8. Êxodo de Mariel (1980)
Com a intenção de incentivar a dissidência de cubanos, o presidente americano Jimmy Carter iniciou uma política de portas abertas a quem deixasse o país. Isso desestabilizou a ilha, e a resposta de Fidel Castro foi abrir o porto de Mariel para a saída de mais de 100 mil cubanos de 15 a 31 de outubro de 1980. Entre os imigrantes, estavam criminosos postos em liberdade e pacientes de hospícios, que tiveram de ser recebidos pelo governo americano.
9. Lei Torricelli e Lei Helms-Burton (1992 e 1996)
Quando a União Soviética teve fim, em 1991, o governo americano tratou de ampliar o embargo à Cuba com o objetivo de acelerar uma transição do país para o livre-mercado capitalista. Assim, foi aprovada, em 1992, a Lei Torricelli, que permitia ao presidente punir os países que prestassem assistência à Cuba; e, em 1996, a Lei Helms-Burton, que torna empresas nacionais e estrangeiras passíveis de processo caso tenham relações comerciais com a ilha.
10. Atentados anticastristas (1996 e 1997)
No dia 24 de fevereiro de 1996, aviões da organização anticastrista Brothers do Rescue, radicada na Flórida, sobrevoavam o espaço aéreo cubano sem autorização, atirando sobre a ilha milhares de panfletos com propaganda contrária ao regime comunista. O aviso das autoridades cubanas não surtiu efeito e os aviões acabaram sendo derrubados pela força aérea do país.
11. Atentado no Hotel Copacabana (1997)
Com o embargo, uma das saídas para a economia cubana foi investir no turismo. Mas até isso virou alvo de grupos anticastristas situados nos Estados Unidos. Em 1997, o terrorista salvadorenho Raúl Cruz León foi pago para instalar uma bomba no Hotel Copacabana, em Havana. O objetivo da explosão - que acabou vitimando o empresário italiano Fabio di Celmo - foi atrapalhar o turismo na ilha.
12. Prisão de espiões (1998)
Para prevenir contra as crescentes ações dos dissidentes anticastristas, a inteligência cubana infiltrou cinco espiões em organizações desse tipo na Flórida. Em 1998, Gerardo Hernández, Antonio Guerrero, Ramón Labañino, Fernando González e René González, os agentes cubanos, foram presos e condenados em Miami por conspiração para espionar e assassinar. Do grupo conhecido como “os cinco cubanos”, Fernando González foi liberado em 2014 e Rene González em 2011 (em liberdade condicional).