EUA deportaram 580 crianças nascidas no Brasil para o Haiti, diz ONG
Relatório da Human Rights Watch mostra que número de pessoas enviadas de volta ao Haiti continua aumentando desde setembro de 2021
O número de haitianos que estão sendo deportados, muitas vezes junto com parentes de outras nacionalidades, após tentarem entrar de forma ilegal nos Estados Unidos, continua aumentando em 2022, segundo relatório da Human Rights Watch divulgado nesta quinta-feira, 24. A porcentagem de crianças entre os deportados passou de 16% em 2021 para 25% nos primeiros meses de 2022.
"É inconcebível que qualquer governo envie pessoas de volta ao Haiti considerando a deterioração das condições de segurança no país e a consequente agudização dos riscos para a vida", afirmou, no documento, César Muñoz, investigador para as Américas da HRW.
De acordo com a Organização Internacional para Migrações (OIM), 25.765 pessoas foram enviadas ao Haiti entre janeiro de 2021 e 26 de fevereiro de 2022. O fluxo aumentou muito a partir de setembro de 2021, quando os EUA começaram a implementar sua política de repatriação a partir de Del Río, no Texas.
Só os EUA repatriaram 20.309 pessoas, ou seja, 79% do total, sendo 5.004 crianças entre eles.
As pessoas são enviadas de volta, na maioria dos casos, em voos, mas também podem ser enviadas por via marítima. De acordo com o relatório da HRW, 1.142 foram enviadas ao Haiti por via marítima entre janeiro de 2021 e fevereiro de 2022, sendo 794 saindo dos EUA e 348, de Cuba.
Filhos de haitianos
Entre os enviados de volta ao Haiti, estão crianças que nasceram em outros países, como Brasil e Chile, filhas de haitianos. Entre 19 de setembro de 2021 e 14 de fevereiro de 2022, os EUA enviaram 2.320 crianças ao Haiti junto com os pais, segundo a OIM.
Mais sobre imigração aos EUA
Entre essas crianças, 1.600 eram chilenas, 580 brasileiras e 140 de outras nacionalidades, como argentinas, mexicanas e venezuelanas.
Isso ocorre porque a maioria dos haitianos repatriados pelos EUA haviam saído do Haiti muitos anos antes, fugindo da violência e falta de oportunidades econômicas, e estavam vivendo em países da América do Sul, principalmente Chile e Brasil.
A pandemia de covid-19 tornou a vida dessas famílias difícil. A crise econômica e a expectativa de que a política migratória do governo de Joe Biden fosse mais branda levaram os haitianos e suas famílias a tentarem entrar nos EUA.