EUA: funcionários usaram agência de espionagem para fins pessoais
Pelo menos 12 funcionários da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) violaram programas secretos de vigilância nos últimos 10 anos, na maioria das vezes para espionar pessoas de seu interesse particular, de acordo com novas revelações do órgão de supervisão da agência.
Em carta ao principal líder republicano no Comitê de Justiça do Senado, Charles Grassley, o inspetor-geral da NSA, George Ellard, relacionou 12 casos de "mau uso intencional" de programas de recolhimento de dados de inteligência da agência desde 1º de janeiro de 2003.
Grassley havia pedido ao órgão de supervisão interna da NSA que informasse sobre violação "intencional e deliberada" do poder de vigilância da agência, diante da crescente preocupação da população com o vasto escopo do programa de espionagem do governo dos EUA.
As operações da agência estão sob intenso escrutínio desde as revelações feitas este ano pelo ex-prestador de serviços da NSA Edward Snowden, segundo as quais o governo dos EUA recolhe muito mais informações telefônicas e de Internet do que o público tinha conhecimento prévio.
Muitos membros do Congresso e autoridades do governo defendem vigorosamente os programas de vigilância da NSA como sendo uma ferramenta fundamental de proteção contra ataques terroristas, mas defensores da privacidade dos cidadãos dizem que o poder de espionagem da agência tornou-se demasiado amplo.
O vice-diretor jurídico da União Americana das Liberdades Civis, James Jaffer, afirmou que os incidentes relatados sobre violações da lei cometidas por funcionários da NSA são provavelmente "a ponta do iceberg" da falta de proteção aos dados, mas que uma questão maior são as leis que orientam a autoridade da agência de espionagem.
"Se você somente foca nas instâncias nas quais a NSA violou aquelas leis, você está perdendo a floresta porque se concentra só nas árvores", disse ele. "A maior preocupação não é com as violações deliberadas da lei, mas com o que a própria lei permite".
Na carta datada de 11 de setembro, o inspetor-geral da NSA detalhou 12 investigações que descobriam que funcionários militares e civis da NSA usaram as ferramentas de espionagem da agência para procurar endereços de email ou tentar escutar chamadas telefônicas de atuais ou ex-namoradas, cônjuges ou parentes, tanto nos EUA como no exterior.
Num dos casos, um militar do NSA consultou seis endereços de email de uma ex-namorada, uma norte-americana, no primeiro dia em que teve acesso ao sistema de coleta de dados, em 2005.
Em outro exemplo, uma estrangeira empregada do governo dos EUA suspeitava que um funcionário civil da agência, seu amante, escutava suas ligações telefônicas. Uma investigação descobriu que o homem violara a base de dados da NSA de 1998 a 2003 para espionar nove números telefônicos de mulheres estrangeiras e por duas vezes havia recolhido informações de um americano.
Em pelo menos seis dos 12 exemplos citados pelo inspetor-geral, o assunto foi encaminhado ao Departamento de Justiça. Em vários casos, os violadores dos dados renunciaram ou se aposentaram antes de sofrer punição disciplinar.