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'Guerra' entre EUA e Coreia do Norte: devemos nos preocupar?

Analistas apontam três razões pelas quais ainda não é necessário entrar em pânico - ainda.

25 set 2017 - 16h25
(atualizado às 16h33)
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Kim Jong-un e Donald Trump (composição)
Kim Jong-un e Donald Trump (composição)
Foto: BBC News Brasil

O governo norte-coreano acusou Donald Trump de "declarar guerra" e afirmou que tem o direito de derrubar bombardeiros americanos que sobrevoam seu território. Na semana passada, na 72ª Assembleia Geral da ONU, o presidente dos EUA havia ameaçado "destruir totalmente" a Coreia do Norte se seu país for "forçado a defender-se ou a defender seus aliados".

O ministro das Relações Exteriores norte-coreano, Ri Yong-ho, disse que o regime poderia atingir os navios americanos mesmo que eles não estivessem em seu espaço aéreo, já que os Estados Unidos "foram os primeiros a declarar guerra". Em resposta, o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos EUA, disse que Pyongyang deve parar com as provocações, e a Casa Branca chamou de "absurda" a afirmação.

O comentário de Rio Yong-ho foi uma resposta ao tuíte de Trump dizendo que nem ele nem o líder Kim Jong-un "estariam aqui por muito mais tempo" se continuassem com as ameaças aos EUA. O presidente, por sua vez, respondia ao sexto teste nuclear da Coreia do Norte, que também havia ameaçado disparar mísseis para o território americano de Guam e dito que pretendia testar uma bomba de hidrogênio no oceano Pacífico.

Tudo isso em meio a relatos de que Pyongyang pode ter finalmente conseguido miniaturizar uma arma nuclear que poderia caber dentro de um míssil intercontinental - uma perspectiva há muito temida pelos EUA e seus aliados asiáticos.

Estaríamos realmente mais perto de um conflito militar? Especialistas dizem que não é preciso entrar em pânico ainda. Eis o porquê:

1. Ninguém quer guerra

Esta é uma das informações mais importantes de se manter em mente. Uma guerra na península coreana não serve aos interesses de ninguém.

O principal objetivo do governo norte-coreano é sobrevivência - e um conflito direto com os EUA poderia ameaçar seriamente essa possibilidade. Segundo o correspondente de Defesa da BBC, Jonathan Marcus, qualquer ataque contra os Estados Unidos ou seus aliados no contexto atual pode evoluir rapidamente para uma guerra mais ampla - e devemos assumir que o governo de Kim Jong-un não é suicida.

Na verdade, é por isso que a Coreia do Norte está tentando se tornar uma potência nuclear. De acordo com o regime, isso protegeria o governo ao aumentar o custo de tentar derrubá-lo. Kim Jong-un não quer terminar como os ex-ditadores da Líbia, Muammar Khadafi, e do Iraque, Saddam Hussein.

Andrei Lankov, professor da Universidade Kookmin em Seul, disse ao jornal britânico The Guardian que havia "uma probabilidade muito pequena de conflito", mas que os norte-coreanos estão "pouco interessados em diplomacia" neste momento.

"Eles querem ter a capacidade de tirar Chicago do mapa, por exemplo. Depois terão interesse em soluções diplomáticas", disse Lankov.

E um ataque preventivo dos EUA? Eles sabem que atingir a Coreia do Norte forçaria o governo retaliar contra seus aliados Coreia do Sul e Japão.

Isso ocasionaria a perda de muitas vidas, incluindo a morte de centenas de americanos - militares e civis.

Além disso, Washington não quer arriscar que mísseis com armas nucleares sejam disparados em direção ao território americano.

Por fim, a China - único aliado de Pyongyang - ajudou a manter o governo norte-coreano justamente porque sua queda poderia ter um resultado estratégico pior. Ter soldados americanos e sul-coreanos na fronteira com a China é uma perspectiva que Pequim não quer enfrentar - e é isso o que a guerra iria trazer.

Soldados sul-coreanos fazem guarda na fronteira entre as Coreias, em foto de 2 de agosto de 2017
Soldados sul-coreanos fazem guarda na fronteira entre as Coreias, em foto de 2 de agosto de 2017
Foto: BBC News Brasil

2. O que você está vendo são palavras, não ações

Trump pode ter ameaçado a Coreia do Norte com um linguajar incomum para um presidente americano, mas isso não significa que os EUA estão de fato entrando em pé de guerra.

Uma fonte anônima nas forças armadas americanas disse à agência de notícias Reuters em agosto que "só porque subiram o tom da retórica, não significa que nossa postura mudou".

Max Fisher, colunista do jornal The New York Times, concorda: "Esses são os sinais que realmente importam nas relações internacionais - não os comentários improvisados de um líder".

Além disso, depois do sexto teste nuclear da Coreia do Norte no início de setembro e os testes de mísseis sobre o Japão, os EUA voltaram a uma tática que já havia sido utilizada antes, com sucesso: pressionar Pyongyang por meio do Conselho de Segurança da ONU e de sanções unilaterais.

Seus diplomatas, no entanto, ainda falam na possibilidade de voltar à mesa de negociações - mencionando o apoio da China e da Rússia a um acordo. Essas afirmações mandam sinais contraditórios para Pyongyang, mas também equilibram as palavras duras de Trump.

Mesmo assim, alguns analistas dizem que qualquer movimento mal interpretado nesse ambiente tenso pode levar a uma guerra acidental. E vale a pena relembrar que os bombardeiros americanos sobrevoaram a Coreia do Norte como demonstração de força.

"Poderia acontecer, por exemplo, uma queda de energia na Coreia do Norte que eles confundam com um ataque preventivo. Os EUA podem cometer algum erro na zona desmilitarizada (na fronteira entre as Coreias). Há muitas formas de cada lado fazer cálculos errados e de a situação ficar fora de controle", disse Daryl Kimnall, do think tank americano Arms Control Association.

Lançamento de mísil da Coreia do Norte
Lançamento de mísil da Coreia do Norte
Foto: BBC News Brasil

3. Já estivemos nesse ponto

Segundo PJ Crowley, ex-secretário de Estado assistente dos EUA, os dois países chegaram perto de um conflito armado em 1994, quando Pyongyang se recusou a permitir inspetores internacionais em suas instalações nucleares. A diplomacia venceu.

Ao longo dos anos, a Coreia do Norte fez ameaças regulares aos Estados Unidos, ao Japão e à Coreia do Sul, ameaçando transformar Seul em um "mar de fogo".

A retórica de Trump - em conteúdo, mesmo que não no estilo - não é sem precedentes para um presidente americano.

"De formas muito diferentes, mesmo que não tão extravagantes, os Estados Unidos sempre disse que se a Coreia do Norte um dia atacar, o regime deixará de existir", diz Crowley.

A diferença desta vez, segundo ele, é que o presidente americano pareceu sugerir que tomaria medidas preventivas (apesar de o secretário de Estado Rex Tillerson ter dito que isso não ocorreria).

Analistas políticos dizem que esse tipo de retórica belicosa e imprevisível vinda da Casa Branca não é comum e preocupa as pessoas.

A Coreia do Sul - o aliado americano que tem mais a perder em um confronto com o Norte - pediu um esfriamento da retórica tanto de Pyongyang quanto de Washington. Nenhum país quer que Kim Jong-un pense que um ataque é iminente.

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