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História de amor motivou decisão do Supremo dos EUA sobre união gay

Suprema Corte dos Estados Unidos derrubou nesta quarta-feira a lei federal que define o casamento apenas como uma união entre um homem e uma mulher

26 jun 2013 - 19h49
(atualizado às 20h17)
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Edith Windsor, 84 anos, é a autora da ação que contestou o trecho da Doma que define o matrimônio como união entre um homem e uma mulher
Edith Windsor, 84 anos, é a autora da ação que contestou o trecho da Doma que define o matrimônio como união entre um homem e uma mulher
Foto: AP

"Por favor, casem-se imediatamente", disse Edith "Edie" Windsor a amigos gays que lhe telefonavam nesta quarta-feira para comemorar a decisão histórica da Suprema Corte americana, que declarou inconstitucional a "Defense of Marriage Act" (Lei da Defesa do Casamento, ou Doma, na sigla em inglês), abrindo caminho para que casais do mesmo sexo tenham acesso a benefícios federais até então exclusivos para os heterossexuais.

Windsor, 84 anos, é a autora da ação que contestou o trecho da Doma que define o matrimônio como "união entre um homem e uma mulher". Ela tomou a decisão de entrar na Justiça depois de ter sido obrigada a pagar US$ 363 mil (cerca de R$ 805 mil) em impostos pela herança deixada por sua esposa, Thea Spyer.

Como o casamento das duas não foi reconhecido pelo governo federal, o caso foi tratado como se Windsor tivesse recebido o patrimônio de uma desconhecida.

"Quero ir agora mesmo para o Stonewall", disse Windsor segundo a revista americana The New Yorker, referindo-se ao bar no bairro nova-iorquino do Greenwich Village que foi palco dos confrontos entre gays e a polícia em 1969, transformando-se em um marco do movimento pelos direitos dos homossexuais.

Romance e luta pela vida

Foi no mesmo Greenwich Village que teve início a história de Windsor e Spyer, agora transformada em símbolo da luta pela igualdade de direitos de matrimônio para os gays.

Era a década de 60. Windsor, nascida na Filadélfia, estava divorciada do primeiro marido, Saul Windsor, com quem tinha sido casada por menos de um ano, e havia se mudado para Nova York para poder viver abertamente como gay. Ela conta que, na noite em que conheceu Spyer, uma psicóloga, as duas dançaram "até fazer buracos nas meias".

Em 1967, elas iniciaram um noivado que durou 40 anos até que, em maio de 2007, casaram-se em Toronto, no Canadá. Spyer lutava contra esclerose múltipla desde 1977 e havia ouvido de seus médicos que tinha apenas um ano de vida.

Após a notícia, as duas mulheres decidiram oficializar a união de quatro décadas.

Com a progressão da doença, que deixou Spyer progessivamente paralisada, Windsor abandonou seu emprego na IBM para cuidar da esposa em tempo integral. Spyer morreu em 2009, após lutar contra a doença durante 32 anos.

"Três semanas antes de morrer, Thea disse: 'Nossa, nós ainda estamos apaixonadas, não é?'", lembrou Windsor em uma entrevista ao jornal britânico The Guardian.

Herança e angústia

Com a morte de Spyer, Windsor herdou o apartamento no Greenwich Village onde as duas viviam e onde ela mora até hoje, e uma casa em Long Island.

Pela lei americana, quando um dos cônjuges morre pode deixar bens para o outro sem a necessidade de pagamento de impostos estaduais. O Estado de Nova York reconhece o casamento de pessoas do mesmo sexo, mas como o governo federal não reconheceu a união de Windsor e Spyer, ela foi obrigada a pagar os impostos.

"Me sentia angustiada pelo fato de que, aos olhos de meu governo, a mulher que eu amei, de quem cuidei, com quem dividi minha vida, não era minha esposa legal, mas considerada uma estranha sem nenhuma relação comigo", disse Windsor, em lágrimas, ao comentar a decisão.

Windsor relatou ao jornal americano "The New York Times" que teve dificuldade para conseguir um advogado. O caso foi assumido por Roberta Kaplan, do escritório Paul, Weiss, Rifkind, Wharton & Garrison, ao lado da organização de defesa dos direitos civis União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês).

Nesta quarta-feira, enquando comemorava a decisão da Suprema Corte ao lado de Kaplan, Windsor recebeu um telefonema do presidente americano, Barack Obama e agradeceu seu apoio.

"Me sinto honrada e radiante por representar não apenas os milhares de americanos que tiveram suas vidas afetadas negativamente pela Doma, mas aqueles cujas esperanças e sonhos foram restringidos pela mesma lei discriminatória", disse à imprensa ao comemorar a decisão.

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