Obama destaca economia e promete ação mesmo sem apoio do Congresso
No Discurso do Estado da União, presidente dos EUA disse que poderá adotar medidas sem a aprovação do Congresso, pediu aumento do salário mínimo e disse ser uma "vergonha" mulheres ganharem menos que homens
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, destacou a melhora na economia na noite dessa terça-feira (já início de madrugada de quarta no Brasil), no tradicional Discurso do Estado da União. Além disso, Obama afirmou que seu país "não está parado" e que ele "tampouco", ao prometer que adotará medidas executivas, que não requerem necessariamente a aprovação do Congresso, para que 2014 seja "um ano de ação", porque isso é o que a "maioria" dos cidadãos deseja.
Obama destacou o avanço da economia e a utilização das matrizes energéticas locais. O líder americano afirmou que pela primeira vez em 20 anos os EUA utilizaram mais o petróleo próprio do que o importado, ressaltou a menor taxa de desemprego em cinco anos, a melhora no mercado imobiliário e lembrou que o setor manufatureiro está agregando postos de trabalho pela primeira vez desde a década de 1990. "Pela primeira vez em uma década, líderes pelo mundo declararam que a China não é mais o lugar número um para se investir, mas sim os Estados Unidos", disse.
"Hoje, após quatro anos de crescimento econômico, os lucros empresariais e os preços das ações nunca foram tão altos, e os que estão no topo nunca estiveram melhor", afirmou. Mas, ao mesmo tempo, "a média salarial quase não mudou, a desigualdade se aprofundou e a ascensão social se estagnou", advertiu. Obama lamentou que, inclusive em um momento de recuperação econômica, "muitos americanos estão trabalhando mais do que nunca só para sobreviver e seguir adiante", e pediu ao Congresso que aumente o salário mínimo, o que "ajudará as famílias" e irá fazer com que os consumidores "tenham mais dinheiro para gastar".
Mulher ganhar menos é uma "vergonha"
O presidente disse que é uma "vergonha" que em 2014 as mulheres continuem ganhando US$ 0,77 por cada dólar recebido pelos homens e insistiu que elas merecem ganhar "o mesmo" por realizarem o mesmo trabalho. "Na atualidade, as mulheres são aproximadamente a metade de nossa mão de obra", lembrou. Apesar disso, "continuam ganhando US$ 0,77 por cada dólar que um homem recebe. Isso não está certo, no ano de 2014, é uma vergonha", garantiu.
Segundo Obama, as mulheres "merecem a possibilidade de ter um filho sem sacrificar seu emprego" e uma mãe merece ter um dia livre para dar atenção a um filho doente ou a um pai doente sem que tenha problemas. O ocupante da Casa Branca pediu que o Congresso e o setor empresarial se unam "para oferecer para cada mulher a oportunidade que elas merecem". "Tenho a firme convicção de que quando as mulheres têm sucesso, os Estados Unidos têm sucesso", concluiu.
Independência energética e mudança climática
Barack Obama disse que o país está mais perto da independência energética do que esteve "em décadas" e afirmou que isso é devido, em grande medida, à exploração de gás natural. Segundo o presidente, isso se deve, entre outros fatores, pelo fato de que o gás natural "é extraído de forma segura", e é o combustível que pode proporcionar a energia necessária para a economia dos EUA "com muito menos emissão de carbono que causa a mudança climática", explicou Obama.
O presidente destacou que a produção de petróleo e gás natural não é a única que está em seu auge: "Também estamos nos transformando em um líder mundial em energia solar", garantiu. "A cada quatro minutos, uma casa ou empresa nos Estados Unidos adota a energia solar; cada painel que é instalado tem por trás um trabalhador cujo emprego não pode ser terceirizado no exterior", afirmou.
Barack Obama disse que nos últimos oito anos os Estados Unidos reduziram suas emissões de carbono "mais do que qualquer outra nação na Terra", mas garantiu que é preciso agir "com mais urgência" contra a mudança climática.
"Temos que agir com mais urgência porque a mudança climática já começou a causar danos às comunidades ocidentais que sofrem com a seca e às cidades litorâneas que lidam com as inundações", afirmou Obama, lembrando que o debate sobre a mudança climática está encerrado: "é um fato", destacou.
A Casa Branca garantiu que entre as medidas executivas que o presidente planeja adotar, e que não necessitam da aprovação do Congresso, está a de melhorar a eficiência energética dos caminhões e o incentivo às energias mais limpas e à eficiência energética.
Divisão no Congresso
Além de declarar que poderá adotar medidas executivas que não requerem a aprovação do Congresso, Obama criticou a falta de acordo entre republicanos e democratas na questão da aprovação do Orçamento, o que quase levou ao fechamento do governo, mas adotou um tom de reconciliação.
“A questão para todo nesta Casa, que lidam com todas as decisões que fazemos neste ano, é se nós vamos ajudar ou impedir este progresso. (...) Quando o debate nos impede de realizar até mesmo as mais básicas funções de nossa democracia – quando nossas diferenças fecham o governo ou ameaçam a total confiança e crédito dos Estados Unidos -, então nós não estamos fazendo o correto pelo povo americano”, discursou o presidente.
Reforma migratória
Obama pediu no discurso ao Congresso que aprove a reforma migratória ainda "este ano". "Os republicanos e democratas do Senado agiram. Sei que os membros dos dois partidos na Câmara dos Representantes querem fazer o mesmo. Vamos aprovar a reforma este ano", pressionou o presidente.
A menção à reforma migratória, apesar de breve, suscitou uma forte ovação e muitas pessoas aplaudiram de pé no plenário do Congresso, inclusive o líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes, Eric Cantor.
Apesar de o presidente não ter falado sobre a obtenção de cidadania para os imigrantes ilegais no discurso, a Casa Branca expressou, em comunicado emitido minutos antes, que este ponto é imprescindível para "regulamentar um sistema de imigração que está falido". Esse é um ponto de atrito com os republicanos.
O líder dos EUA, que prometeu uma reforma migratória em 2009 assim que chegou à Casa Branca, insistiu em outras ocasiões que "não faz sentido" modificar o atual sistema atual se não for incluída uma via para que milhões de imigrantes ilegais consigam a cidadania.
Espionagem
O escândalo da espionagem revelado pelo ex-agente da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), Edward Snowden, e que se tornou em uma das maiores controvérsias de seu governo no ano passado, foi rapidamente citado por Obama.
O presidente afirmou que os sistemas de inteligência do país dependem da confiança do povo na preservação de seus direitos de privacidade, e que estes não sejam violados tanto em solo americano quanto no exterior. O mandatário americano repetiu sua promessa de rever os programas de vigilância do governo, em cooperação com o Congresso.
Guerras e política externa
O líder destacou que "a guerra mais longa dos EUA vai acabar", se referindo ao conflito no Afeganistão. “Hoje nossas tropas estão fora do Iraque, mais de 60 mil soldados já voltaram do Afeganistão”, discursou logo após destacar sobre a necessidade de fechar a prisão de Guantánamo.
Obama prometeu que, "agora que as forças afegãs estão no comando de sua própria segurança", os EUA vão cumprir seu acordo com a Otan e concluir a missão antes do fim deste ano. "Concluiremos a missão ali junto com nossos aliados no final deste ano e a guerra mais longa da história americana chegará ao seu fim", garantiu, acrescentando que uma coisa não irá mudar: "nossa determinação para impedir ataques terroristas contra nosso país".
Obama disse que não enviará soldados a outros países a não ser que isso seja realmente necessário. “Nós não estaremos mais seguros se as pessoas no exterior acreditarem que nós atacamos países sem se importar com as consequências”, afirmou.
Sobre a política externa, o ocupante da Casa Branca reforçou o papel da diplomacia e sua atuação na Síria e no Oriente Médio. “A diplomacia americana impediu o progresso do programa nuclear do Irã pela primeira vez em uma década”, disse. O presidente advertiu o Congresso que vetará qualquer projeto de lei que inclua novas sanções ao Irã durante o período de negociações entre o G5+1 (Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e China) e o país asiático, e pediu que os legisladores "deem à diplomacia uma chance de sucesso", "pelo bem da segurança nacional".
"Se os líderes do Irã não aproveitarem esta oportunidade, eu serei o primeiro a exigir a aplicação de mais sanções e estarei pronto para exercer todas as opções necessárias para garantir que o Irã não produza uma arma nuclear", enfatizou.
Com informações das agências EFE e AP