Por que a mais nova gafe de Trump é diferente das outras?
Há algumas semanas, quando veio à tona a controvérsia dos comentários feitos por Donald Trump sobre a Miss Universo Alícia Machado (Trump a chamou de "gorda" em 1996), eu sugeri que o candidato do Partido Republicano à presidência dos EUA deixasse o peso das mulheres em paz.
Dessa vez, eu mal posso acreditar que estou escrevendo isso: deixe nossas vaginas.
Trump está no meio de uma crise política depois de, na sexta-feira, aparecer em um vídeo de 2005 gabando-se de poder conseguir as mulheres que quisesse por ser famoso e poder simplesmente "pegá-las pela vagina". Uma controvérsia que pode ser suficiente para acabar com suas chances de ser eleito para a Casa Branca.
Mas porque esse vídeo, e não o festival de outras gafes cometidas por ele recentemente?
Primeiro, analisemos o que Trump disse. É a maneira como ele revela que vê mulheres como pedaços de carne que ele agarra e descarta que é tão danosa.
Pesquisas do governo americana e da ONU dizem que uma em cada cinco mulheres americanas é vítima de estupro e que 83% de meninas sofrem assédio sexual na escola. Trump não é culpado de nenhuma dessas duas coisas, mas seu discurso é exatamente o tipo de linguagem que encoraja meninos e homens a pensarem que é OK abusar de mulheres.
Há uma violência em frases como "pegá-las pela vagina" e "você pode fazer tudo", que vítimas de abuso vão reconhecer. E que a maioria das mulheres considera repugnante. Classificar as palavras de Trump apenas como bravatas e sugerir que as pessoas que se sentiram ofendidas estão fazendo uma confussão desncessária, como Trump disse em seu pedido de desculpas, é também um problema.
E essa gravação não ofendeu apenas mulheres, a julgar pela reação no Partido Republicano. Ofendeu também muitos homens. Se eles agora vão retirar seu apoio à candidatura ainda não ficou claro.
Trump já denegriu pessoas antes. Suas declarações sobre muçulmanos e mexicanos foram grotescas e muitas pessoas, incluindo eleitores republicanos, disseram que seriam desqualificantes para alguém almejando a presidência.
Mas nem todo mundo nos EUA conhece um muçulmano ou um mexicano. Mas a maioria das pessoas têm esposas, mães, irmãs ou filhas. Por isso, a gravação divulgada na sexta-feira pelo jornal Washington Post afeta o eleitorado de uma forma bem diferente.
Não é novidade que homens poderosos usam posição para conseguir sexo. Mesmo na Casa Branca: os ex-presidentes John Kennedy e Bill Clinton trilharam esse caminho. Alguns correligionários de Trump, por sinal, argumentam que quem algum dia votou em Clinton não tem direito a se sentir ofendido por Trump.
Eu fiz muitas críticas a Clinton pela maneira como ele tratou mulheres e também à proteção oferecida por Hillary Clinton. Mas os correligionários de Trump estão errados.
No ano de 2016, não queremos de nossos líderes algo mais do que um outro homem para quem fazer sexo com quem ele quiser e na hora que quiser faz parte do jogo do poder? Pelas minhas duas filhas, eu sei que quero algo diferente disso.
Não está muito claro como Trump vai se safar dessa. Ele não gosta de pedir desculpas, mas no sábado divulgou um vídeo se desculpando pelas declarações.
Mas no mesmo vídeo ele ataca os Clinton. E, na noite deste domingo, quando participará de novo debate presidencial com Hillary, será que Trump vai abordar os escândalos sexuais de Bill e o papel Hillary em desacreditar publicamente as mulheres que denunciaram o marido?
No passado, Trump não foi capaz de resistir em atacar quando se sente acuado. Imagino que veremos algo do gênero mais uma vez.