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Rússia: o escândalo do qual Trump não consegue se livrar

15 fev 2017 - 07h50
(atualizado às 08h08)
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O governo Trump tem menos de um mês e já é marcado por sua relação com a Rússia.
O governo Trump tem menos de um mês e já é marcado por sua relação com a Rússia.
Foto: Reuters

Ao longo da agitada campanha e dos eventos caóticos de suas primeiras semanas na Casa Branca, uma controvérsia grudou no presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como um carrapato: a Rússia.

A saída repentina de Michael Flynn do cargo de assessor nacional de segurança na segunda-feira foi o último capítulo de uma série de polêmicas envolvendo personagens do novo governo americano a aparentes interesses russos.

Flynn renunciou quando veio à tona que ele teria omitido ao presidente eleito e ao vice-presidente eleito, Mike Pence, que teria discutido sanções com o embaixador da Rússia nas semanas anteriores à posse de Trump - o que violaria uma lei que proíbe cidadãos comuns de conduzirem assuntos diplomáticos.

Mas quando começaram a surgir os primeiros sinais dessa estranha relação? Veja abaixo, como a Rússia e suas ligações com Trump e seu entorno começaram a se destacar no noticiário americano.

Hackers

Em maio de 2016, surgiram os primeiros relatos de ataques de hackers contra o Partido Democrata. Nos dois meses seguintes, começaram a pipocar relatos de que agências americanas de inteligência tinham rastreado os ataques até chegarem a hackers russos.

Em julho, na véspera da Convenção Nacional Democrática, o site Wikileaks, especializado no vazamento de documentos sigilosos, publicou 20 mil e-mails internos roubados pelos hackers. Agentes da inteligência dos EUA disseram acreditar que a Rússia estava por trás da operação, mas a campanha de Trump se recusou publicamente a aceitar que isso fosse verdade.

Em vez disso, numa coletiva de imprensa, Trump causou indignação ao convidar hackers russos a alvejar o e-mail pessoal de Hillary Clinton, dizendo: "Rússia, se estiver ouvindo, espero que encontre os 30 mil e-mails que ainda faltam" .

A primeira vítima

Na mesma época em que o escândalo de hackers começava a vir à tona, Paul Manafort, o então gerente da campanha eleitoral de Trump, foi acusado de aceitar milhões de dólares para representar interesses russos na Ucrânia e nos EUA, incluindo negociações de um oligarca próximo ao presidente russo, Vladimir Putin.

Quando Manafort estava dirigindo a campanha de Trump, o Partido Republicano abrandou sua posição em relação à Rússia, em particular na visão de que os EUA não deveriam ceder armas letais aos ucranianos - que lutam contra forças pró-Rússia em seu país.

Manafort foi investigado pelo FBI e renunciou como chefe da campanha de Trump. Assim como Flynn, Manafort era um experiente operador nos corredores políticos que tinha o papel de tentar domar o caos e a controvérsia em torno de Trump, mas acabou se tornando vítima destes.

Às turras com os serviços de inteligência

Em outubro, a agência americana de inteligência divulgou uma declaração acusando formalmente a Rússia de orquestrar o hacking do Comitê Nacional Democrático.

Trump continuou se recusando a aceitar essa versão, chegando a dizer, em um debate presidencial, que "poderia ser a Rússia, mas também poderia ser a China, também poderia ser muitas outras pessoas. Também poderia ser alguém sentado em sua cama que pesa 400 kg".

Durante sua campanha, Trump se recusou reconhecer o consenso de que a Rússia estava por trás do ataque hacker contra Hillary Clinton
Durante sua campanha, Trump se recusou reconhecer o consenso de que a Rússia estava por trás do ataque hacker contra Hillary Clinton
Foto: Getty Images

No mesmo dia em que as agências de inteligência acusaram a Rússia, vieram à tona vídeos com observações obscenas sobre mulheres feitas por Trump em 2005. Uma hora depois, a Wikileaks começou a despejar milhares de e-mails vazados de Hillary Clinton.

Trump continuou recusando-se a reconhecer o que já era quase consenso: que a Rússia estava por trás do ataque de hackers a Clinton.

'Eu sempre soube que Putin era esperto!'

O relatório do FBI e do Departamento de Segurança Interna dos EUA sobre as descobertas das agências de inteligência ligando a Rússia aos hackers foi divulgado em dezembro.

Em resposta, o presidente Barack Obama expulsou 35 diplomatas russos e aplicou novas sanções à Rússia. Mas, quando muitos esperavam uma resposta dura por parte do presidente russo, Putin declarou que não retaliaria. Trump, já eleito, tomou partido do presidente russo, tuitando: "Grande movimento com atraso (por V. Putin) - Eu sempre soube que ele era muito inteligente!"

A decisão de Putin surpreendeu alguns, mas, à época, muitos já achavam que, sob Trump, as relações com a Rússia poderiam mudar e que Putin poderia ter razões para achar que as sanções viriam a ser relaxadas ou até mesmo eliminadas.

No mesmo mês, Trump escolheu Rex Tillerson como seu candidato para o cargo de secretário de Estado, a pessoa que conduz a política externa. Mas qual seria o maior obstáculo para a sua aprovação no cargo pelo Senado? Seus laços com Putin.

Como CEO da companhia petrolífera ExxonMobil, Tillerson cultivou uma estreita relação pessoal com o líder russo, levando muitos a questionarem se ele teria condições de servir como o mais importante diplomata estrangeiro da América.

O Senado achou que sim. Tillerson assumiu o cargo de secretário de Estado no dia 2 de fevereiro.

O dossiê da 'chantagem'

Em janeiro, o site de notícias Buzzfeed publicou um dossiê compilado por um ex-oficial de inteligência britânico e especialista em Rússia, no qual ele alega que Moscou tinha material comprometedor sobre o então presidente eleito, tornando-o vulnerável a chantagem.

Entre os vários memorandos do dossiê - cujo conteúdo não foi confirmado pela inteligência americana -, estava a alegação de que os serviços de segurança russo estavam em poder de gravações de Trump com prostitutas em um hotel de Moscou.

Trump disse que as alegações eram falsas. A Rússia também.

A CNN revelou que o presidente Barack Obama e o presidente eleito, Donald Trump, tinham sido informados da existência do dossiê por funcionários da inteligência. O dossiê tinha sido enviado a veículos da mídia; o Buzzfeed publicou o material na íntegra.

O documento explodiu como uma granada jogada na cena política e gerou fortes críticas ao Buzzfeed por ter publicado informações essencialmente não verificadas sobre o presidente eleito do país.

As evidências contra Flynn

Em fevereiro, veio o escândalo envolvendo a Rússia de repercussão mais forte até agora, resultando na renúncia do principal assessor do presidente para assuntos de segurança, Michael Flynn.

Flynn renunciou ao cargo de conselheiro nacional de segurança dos EUA após fazer conversas diplomáticas com a Rússia durante a campanha de Trump
Flynn renunciou ao cargo de conselheiro nacional de segurança dos EUA após fazer conversas diplomáticas com a Rússia durante a campanha de Trump
Foto: Reuters

Uma reportagem do jornal The Washington Post disse que Flynn, o novo assessor nacional de segurança do país, discutiu a potencial suspensão das sanções de Obama contra a Rússia com o embaixador russo em Washington, Sergei Kislyak, antes de Trump assumir o cargo.

Flynn, que aparecia com frequência no canal russo (em inglês) de notícias internacionais RT e participou de um jantar com Putin, renunciou ao cargo, dizendo que havia "passado inadvertidamente ao vice-presidente eleito e a outros informações incompletas sobre meus telefonemas com o embaixador russo" no final do ano passado.

Flynn não havia assumido, ainda, o cargo. É ilegal que cidadãos comuns conduzam assuntos de diplomacia dos EUA.

Trump não esconde seu respeito por Putin nem o desejo de estabelecer laços mais estreitos com a Rússia. Mas a questão mais complicada, da qual o presidente simplesmente não consegue se livrar, é o quanto e há quanto tempo que esses laços já vinham se estreitando.

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