EUA afirmam que gás sarin foi usado em ataque na Síria
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse neste domingo que testes provaram o uso do gás venoso sarin em ataque na Síria.
Kerry fez a revelação em uma série de entrevistas televisivas um dia após o presidente Barack Obama atrasar uma iminente ação militar na Síria para buscar o apoio do Congresso norte-americano --uma decisão que adia qualquer ataque por pelo menos 9 dias.
"Isso agora está completamente nas mãos do Congresso", disse o secretário ao canal CNN, acrescentando que tinha confiança de que a instituição "vai fazer o que é certo, pois eles entendem os riscos".
Kerry não quis dizer se Obama iria em frente ou não com a ação militar caso o Congresso rejeite o pedido do presidente. Mas repetindo os comentário de Obama no sábado, ele insistiu que o presidente tem o direito de agir por conta própria.
Obama afirmou no sábado ter decidido que o país deve adotar uma ação militar contra alvos do governo sírio, mas ressaltou que irá buscar a aprovação do Congresso norte-americano antes de fazê-lo.
Obama está fazendo uma aposta ao frear a ação militar, a qual já deixou claro ser necessária para manter a credibilidade dos EUA sobre a proteção de uma "linha vermelha" para o uso de armas químicas, limite que o presidente norte-americano diz ter sido cruzado pelas forças de Bashar al-Assad.
A medida, no entanto, reflete um desejo de dividir com o Congresso qualquer responsabilidade sobre a intervenção na guerra civil na Síria em um momento no qual os norte-americanos se mostram cansados de guerras como no Iraque e Afeganistão.
Enquanto legisladores ainda devem ser informados pela equipe de segurança nacional de Obama sobre a análise do governo para a ação militar, Kerry usou uma série de aparições em canais de televisão para fornecer mais evidências que corroboram as acusações contra o governo sírio.
"Eu posso compartilhar hoje com vocês que as amostras de sangue e cabelo que chegam até nós através de uma cadeia de custódia adequada, da região leste de Damasco, dos primeiros socorristas, testaram positivo para traços de sarin", disse Kerry à CNN.
Foi a primeira vez que o governo Obama identificou o tipo de produto químico que foi utilizado no ataque a uma área controlada pelos rebeldes no dia 21 de agosto, e que segundo as agências de inteligência dos EUA matou mais de 1.400 pessoas, muitas delas crianças.
O apoio do Congresso não está, de maneira nenhuma, assegurado, com vários democratas e republicanos desconfortáveis sobre intervir em uma guerra civil distante na qual mais de 100 mil pessoas foram mortas nos últimos 2 anos e meio.
A maior parte dos legisladores comemoraram a decisão de Obama, mas não pareciam com pressa para voltar a Washington antes do fim de seu recesso de verão, que vai até 9 de setembro
Visando "preparar o terreno" para o que se espera que seja um acalourado debate parlamentar, Kerry evocou repetidas vezes a segurança de Israel como uma das razões cruciais de se autorizar uma resposta militar na Síria. Os legisladores de ambos partidos políticos reconhecem o como é importante para o país ser visto como defensor de Israel, cuja segurança geralmente é uma importante questão de política externa em campanhas eleitorais domésticas.
O presidente republicano do comitê de inteligência da Câmara dos Deputados, Mike Rogers, disse à CNN: "Acho que existem alguns desafios reais. Eu acho que no final o Congresso estará à altura da ocasião. Esta é uma questão de segurança nacional."
O senador republicano Rand Paul, do Kentucky, falando à NBC, revelou uma visão mais cética.
Embora tenha dito que estava "orgulhoso" de Obama pelo presidente ter buscado a aprovação do Congresso, Paul disse: "É no mínimo 50-50 se a Câmara vai votar contra o envolvimento na guerra da Síria."
"Acho que o Senado vai aceitar o que ele quer", disse ele. "Na Câmara haverá uma votação mais apertada."
O presidente dos EUA, em um discurso feito na Casa Branca, disse que havia autorizado o uso de força militar para punir a Síria por conta de um ataque com armas químicas realizado em 21 de agosto.
Navios da Marinha estão na região aguardando ordens para lançar mísseis, e os inspetores da ONU deixaram a Síria depois de reunir provas sobre o suposto ataque.
(Reportagem de Thomas Ferraro)