Vidas marcadas por Kennedy lembram como receberam a notícia da morte
No dia 22 de novembro de 1963, o então presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, era assassinado durante um desfile presidencial na cidade de Dallas. A notícia chocou não só os americanos, mas pessoas no mundo inteiro. Por ocasião do 50º aniversário da morte de JFK, a agência Associated Press ouviu pessoas em diferentes países que tiveram a trajetória de vida influenciada de alguma maneira por um dos mais lembrados líderes americanos.
Confira abaixo.
Irlanda: terra dos ancestrais de Kennedy
Em todos os continentes, a memória de Kennedy segue viva em estátuas, ruas, hospitais, pontes e parques. Mas nenhum povo do mundo guarda um carinho tão especial por ele como os irlandeses. Lá, Kennedy é reconhecido como o filho mais famoso da nação, já que seu bisavô, que vivia em uma fazenda em Dunganstown, no sudeste do país, emigrou para Boston em 1848.
Desde junho de 1963, quando Kennedy visitou a terra de seus ancestrais, a fazenda se tornou local de peregrinação para dezenas de milhares de admiradores de JFK todos os anos. Na cidade de New Ross, próxima à fazenda, microfones de bronze e o brasão presidencial marcam o local onde ele discursou. O fogo cuja chama foi buscada no memorial do presidente do cemitério de Arlington, em Washington, arde no centro de uma escultura dedicada aos emigrantes irlandeses.
Carmen Delaney, moradora de New Ross, tinha 11 anos na época. Ela recebeu recebeu o helicóptero de JFK junto de outras garotas de uma escola católica . “Nós nunca havíamos visto um helicóptero. Foi algo fabuloso. Nós sabíamos que ele era alguém muito importante."
No dia após funeral de Kennedy, a Irlanda declarou luto nacional. Dezenas de milhares fizeram filas para assinar o livro de condolências na embaixada americana, e lojas fecharam para que os funcionários pudessem ir às missas dedicadas a JFK.
Jacqueline Kennedy deu aos parentes irlandeses do presidente o rosário que ele tinha em seu terno quando morreu. Ele está exposto na propriedade rural de Kennedy. Lá, o mais próximo parente de Kennedy, Patrick Grennan, disse que a família não planeja nada para o 50º aniversário.
"Nós, Kennedys, escolhemos comemorar a vida, não a morte", disse Grennan, 38 anos, enquanto mostrava a propriedade rural. "Nós celebramos o triunfo de sua visita à Irlanda, suas palavras inspiradoras. Nós tentamos não reviver o horror que aconteceu com ele".
Cuba: inimigos de Guerra Fria
"Eu sintonizei o rádio no exato momento em que havia um rumor de que o presidente havia sido assassinado em Dallas", escreveu Fidel Castro em recente coluna na imprensa cubana. O ex-presidente de Cuba lembrou ter ficado atônito. “Não havia nada que nós pudéssemos dizer”.
“Todo cubano sentiu como se o presidente tivesse nos atacado. Você não poderia ter a menor boa vontade por ele”, disse Manuel Rodriguez, um ex-bancário de 74 anos que foi mobilizado durante a invasão da Baía dos Porcos e da Crise dos Mísseis. Ele lembra que o assassinato chocou Cuba e provocou temores de novas tensões. Mais uma vez ele foi chamado pelos militares.
Colômbia: vidas mudadas por Kennedy
Em Bogotá, na Colômbia, Maria Cristina Reyes lembra exatamente o que estava fazendo quando Kennedy foi baleado. Especialmente porque o presidente americano havia mudado sua vida.
Em dezembro de 1961, Reyes tinha 16 anos e recém havia casado quando JFK saiu de uma limusine acompanhado de sua esposa e do presidente colombiano. Ela e seu marido estavam entre os que construíam um prédio financiado por uma iniciativa do líder americano. Um dos apartamentos seria da família de Reyes, no distrito que depois seria chamado de bairro Kennedy.
“Nós sentimos uma grande alegria em ver alguém que não era do nosso país vir e dar algo para as pessoas que estavam realmente precisando”, disse Reyes, que trabalhava como empregada doméstica quando soube do assassinato. “Nós ligamos o rádio quando foi anunciado".
Hoje, tendo vivido por décadas na violenta Bogotá, ela soa fatalista quando lembra da morte de Kennedy. “Quando uma pessoa como Kennedy vem e tenta ajudar, sempre é morto”, disse.
Quênia: o JFK africano
John Fitzgerald Kennedy Munene é um queniano de 32 anos. Sua mãe escolheu este nome enquanto participava de um programa de intercâmbio nos Estados Unidos. Por carregar o nome do presidente assassinado, ele sabe mais sobre Kennedy do que a média dos quenianos.
Ele sabe, por exemplo, sobre programa tornado possível por Kennedy quando ele era senador que levou dezenas de estudantes africanos aos Estados Unidos para incrementar sua educação. Uma dessas pessoas era Barack Obama Sr., o pai do atual presidente americano, Barack Obama.
Munene trabalha com tecnologia da informação e gosta de jogar futebol usando uma camiseta com a inscrição JFK estampada no peito. Quando as pessoas a veem, “dizem 'você vai ser presidente do Quênia?’... é um nome engraçado”.
Alemanha: "Ich bin ein Berliner"
Era o começo da tarde 26 de junho de 1963 quando Christian Sach viu John F. Kennedy pela primeira vez. A escola onde estudava, no lado ocidental de Berlim, havia dado folga para os estudantes assistirem ao discurso do presidente dos Estados Unidos, que visitava a cidade. Vinte e dois meses antes, o regime comunista havia levantado um muro que cortou a cidade em dois.
Sack estava entre os 1 milhão de berlinenses que foram às ruas naquele dia.
Como um adolescente, lembra, ele estava “mais interessando na música e nas garotas do que em política”, mas Kennedy capturou sua atenção quando ele proclamou solidariedade com aquela cidade isolada, em um discurso que terminou com a famosa frase: “como um homem livre, eu transformo isso em palavras, 'Ich bin ein Berliner’ – Eu sou um berlinense”.
“A atmosfera era de excitação”, lembra Sack. “Você pode imaginar que o muro recém havia sido construído e os políticos se mantinham quietos, sem falar nada a respeito. Foi como um sentimento de liberação ver quando um político trouxe isso para a agenda”.
Cinco meses depois, Sack estava no Kurfuerstendamm, o boulevard mais movimentado da cidade. “As pessoas apenas falavam: Kennedy foi morto”, ele disse. “Havia uma grande tristeza”. Cerca de 60 mil pessoas, muitas em lágrimas e carregando tochas, se reuniaram no lugar onde Kennedy proferiu o seu famoso discurso.