EUA acertam nova reunião com Rússia para discutir fim da guerra; Ucrânia é excluída
Rússia endurece exigências e pressiona por garantias formais de que a Ucrânia nunca ingressará na Otan
O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta terça-feira que concordou em manter mais conversações com a Rússia sobre o fim da guerra na Ucrânia, após uma reunião inicial que excluiu Kiev, um afastamento da abordagem anterior de Washington que reuniu aliados dos EUA para isolar o presidente russo, Vladimir Putin.
Durante a reunião de quatro horas e meia na capital saudita, a Rússia endureceu suas exigências, insistindo notavelmente que não toleraria que a aliança da Otan concedesse adesão a Kiev.
Foi a primeira vez que autoridades norte-americanas e russas se reuniram para discutir maneiras de interromper o conflito mais mortal na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. A Ucrânia afirmou que não aceitará nenhum acordo imposto sem o seu consentimento, e o chanceler alemão Olaf Scholz reiterou que "não deve haver nenhuma decisão sobre a cabeça da Ucrânia".
Mesmo antes da realização das negociações, alguns políticos europeus acusaram o governo Trump de fazer concessões gratuitas a Moscou na semana passada, ao descartar a adesão da Ucrânia à Otan e dizer que era uma ilusão para Kiev acreditar que poderia reconquistar os 20% de seu território atualmente sob controle russo.
O assessor de segurança nacional dos EUA, Mike Waltz, disse a repórteres em Riad que a guerra tem que chegar a um fim permanente, e isso envolveria negociações sobre território.
"A realidade prática é que haverá alguma discussão sobre o território e sobre as garantias de segurança", declarou ele.
Ao abordar as preocupações ucranianas e europeias, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse que ninguém estava sendo deixado de lado, que a União Europeia precisa ser envolvida em algum momento e que qualquer solução precisa ser aceitável para todas as partes.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou ter adiado uma visita à Arábia Saudita planejada para quarta-feira até o próximo mês. Fontes familiarizadas com o assunto disseram que a decisão foi tomada para evitar dar "legitimidade" às negociações entre EUA e Rússia.
Kiev diz que as negociações sobre como acabar com a guerra não devem ser realizadas nas costas da Ucrânia.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse a repórteres em Moscou que "não é suficiente" que a Otan não admita a Ucrânia como membro. Ela declarou que a aliança deve ir além e negar a promessa feita em uma cúpula em Bucareste, em 2008, de que Kiev se juntaria a ela em uma data futura, não especificada.
"Caso contrário, esse problema continuará a envenenar a atmosfera do continente europeu", disse ela.
Zelensky sempre exigiu a adesão à Otan como única maneira de garantir a soberania e a independência de Kiev em relação ao seu vizinho com armas nucleares.
A Ucrânia concordou em abrir mão de suas armas nucleares da era soviética em 1994 em troca de garantias de independência e soberania dentro de suas fronteiras atuais.
RÚSSIA FAZ NOVAS EXIGÊNCIAS
Enquanto os países europeus discutem a possibilidade de contribuir com forças de manutenção da paz para apoiar qualquer acordo de paz com a Ucrânia, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, também disse em Riad que Moscou não aceitaria o envio de tropas da Otan para o local, independentemente da bandeira sob a qual estivessem operando.
"É claro que isso é inaceitável para nós", afirmou ele.
Os comentários de Lavrov e Zakharova sinalizaram que a Rússia continuará pressionando por mais concessões nas negociações. No encontro de abertura, na terça-feira, Lavrov e o assessor de política externa do Kremlin, Yuri Ushakov -- dois veteranos que, juntos, passaram 34 anos em suas funções atuais -- negociaram com três funcionários do governo Trump em seu primeiro mês no cargo.
Ambos os lados disseram que nenhuma data foi definida para uma reunião entre Trump e o presidente Putin.
Mas a diplomacia em ritmo acelerado, que começou com um telefonema entre Putin e Trump há apenas seis dias, disparou o alarme na Ucrânia e nas capitais europeias de que os dois líderes podem fechar um acordo rápido que ignore seus interesses de segurança, recompense Moscou por sua invasão e deixe Putin livre para ameaçar a Ucrânia ou outros países no futuro.
