"A lei veio garantir um direito", diz premiê belga sobre o casamento gay
A Bélgica foi o segundo país a reconhecer a união civil entre pessoas do mesmo sexo. "Queremos viver felizes", diz o primeiro-ministro Elio Di Rupo
Em 1996, o político belga do partido socialista Elio Di Rupo viu-se em uma situação particular. Foi "acusado" por opositores de ser homossexual e devolveu: "Sim, sou. E daí?". Depois de Foss Per-Kristian, da Noruega, que serviu brevemente como primeiro-ministro em 2002, Di Rupo tornou-se o primeiro homem abertamente gay a liderar um Estado soberano. É hoje o premiê do segundo país do mundo a legalizar o casamento gay. A Bélgica reconheceu o direito em 2003, atrás apenas da Holanda, em 2001.
Ao contrário dos protestos que ocorreram na França, a sensação na Bélgica é de tranquilidade. “Não temos problema, porque não estamos pedindo a ninguém que se case”, disse Di Rupo ao Terra, durante uma recepção em Bruxelas. “A lei veio apenas garantir um direito”, explicou o premiê. “Somos muito abertos. Queremos viver felizes, indiferentemente de ser homossexual ou heterossexual”, completou Di Rupo.
Casamento celebrado pelo prefeito
Na Bélgica, se alguém deseja se casar, basta ir à prefeitura da cidade para registrar o novo estado civil. Foi o caso de Anne-Sophie Lahousse e Kerstin Vermoehle, que elogiaram o pessoal do serviço público de Ghent pelo profissionalismo em 2008.
“Não recebemos nenhum comentário ou olhar estranho”, conta Kerstin. “Depois, o pessoal do restaurante até preparou um bolo com duas noivas no topo, algo que não tínhamos pensado antes”.
Para o casal Jan e Frank Ribbens, o maior desafio na hora de decidir a cerimônia de casamento foi escolher entre uma versão mais longa e cara, que incluía a sacada da prefeitura de Bruxelas ou uma versão simples e rápida. “Nós escolhemos a segunda. Pedimos ao prefeito se ele aceitava nos casar e ele topou!”, comemora Frank.
Gratidão e tolerância
O casamento entre dois indivíduos do mesmo sexo é possível desde que um dos parceiros seja belga ou tenha residência legal na Bélgica por mais de três meses. Se o casamento é feito no exterior, é necessário oficializá-lo depois no país.
Anne-Sophie conta que sempre quis se casar, enquanto Kerstin diz que, para ela, não era uma decisão tão importante na época. “Casamos por um motivo romântico, para mostrar nosso amor à família e aos amigos”, conta Anne-Sophie. “Foi uma decisão muito acertada, não lamentamos nada. Trouxe nosso relaciomento para outro nível”, completa Kerstin.
Há sete anos as leis belgas passaram também a permitir que os casais homossexuais adotem crianças. Este é o único ponto que para Kerstin e Anne-Sophie ainda precisa ser melhorado. Elas explicam que adotaram os filhos uma da outra para que ambas pudessem ser reconhecidas como mães na certidão das crianças. O processo levou dois anos.
“Mas, se comparamos nossa situação com gays e lésbicas de outros países, simplesmente nos sentimos gratas por ter esta oportunidade”, afirma.
Para Jan, não há melhor lugar para ser gay e ser respeitado como cidadão do que a Bélgica. Ele admite que em Bruxelas, onde muitas culturas diferentes coexistem, de vez em quando vê que alguém demonstra abertamente a desaprovação. “Mas são a minoria e são inconvenientes pequenos comparados a outras cidades do mundo”, resume.
Parada gay: respeito de tolerância
No dia 18 de junho, a parada do orgulho gay de Bruxelas reuniu 80 mil pessoas, 10 mil a mais do que no ano passado. O desfile serviu para comemorar os 10 anos de casamento entre pessoas do mesmo sexo na Bélgica.
O italiano Sim Tinelli, que se diz “carioca” de coração, e a brasileira Camila Monart levaram a bandeira do Brasil para a manifestação. “O clima aqui é de bastante respeito e tolerância”, indicou Camila. “Ainda podemos aprender muito sobre convivência com os belgas”, pensa a estudante.