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Acordo entre UE e Ucrânia deve agravar crise com a Rússia

Governo russo afirmou que o acordo "traria sérias consequências" para as economias das ex-repúblicas soviéticas envolvidas

27 jun 2014 - 18h16
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<p>Presidente da Ucrânia (foto), por outro lado, classificou o pacto como histórico e "o dia mais importante" desde a independência do país, em 1991</p>
Presidente da Ucrânia (foto), por outro lado, classificou o pacto como histórico e "o dia mais importante" desde a independência do país, em 1991
Foto: Reuters

A União Europeia (UE) assinou nesta sexta-feira acordos de associação e livre comércio com a Ucrânia, Moldávia e Geórgia, provocando uma reação imediata da Rússia, que alertou, em tom de ameaça, as ex-repúblicas soviéticas sobre a tentativa de aproximação com o Ocidente.

O presidente da Ucrânia, por outro lado, classificou o pacto como histórico e "o dia mais importante" desde a independência do país, em 1991.

Já o governo russo afirmou que o acordo "traria sérias consequências" para as economias das três ex-repúblicas soviéticas.

A aproximação da Ucrânia com o Ocidente foi um dos estopins para a atual crise que assola o país.

De acordo com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, forçar a Ucrânia a escolher entre a Rússia e a União Europeia dividiria o país ao meio.

Na avaliação de analistas ouvidos pela BBC Brasil, a iniciativa das três ex-repúblicas soviéticas poderá agravar a crise que já enfrentam com a Rússia.

"A Rússia vê a assinatura dos pactos como uma intrusão massiva no que considera sua esfera especial de influência e está determinada a fazer o que for necessário para destruir o processo com a UE. Comércio, energia e mercado laboral são algumas das cartas que usará", afirmou Amanda Paul, do think tank Centro de Política Europeia (EPC, do inglês).

Antes mesmo da conclusão dos acordos, Moscou advertiu às ex-repúblicas soviéticas de que uma associação com a UE teria "sérias consequências" para suas economias.

"Não há dúvida de que é um direito soberano de cada Estado. Mas eles têm que entender que isso terá sérias consequências sobre as relações com seus outros sócios, entre eles Rússia, com a que tanto Moldávia como Ucrânia têm acordos comerciais", disse o vice-chanceler russo, Grigori Karasin.

Mais impostos e menos vistos

Em represália, Moscou poderia impor novas tarifas para as importações de produtos dos três países e revogar os vistos de milhares de seus cidadãos que trabalham na Rússia, explicou à BBC Brasil Paul Quinn-Judge, diretor para Europa e Ásia Central do International Crisis Group, organização independente dedicada à análise de conflitos globais.

"Teremos que ver se (o presidente russo, Vladimir) Putin realmente tomará medidas desse tipo ou se ficará só nas ameaças. A resposta deve aparecer nas próximas duas semanas", disse.

O analista não quis especular entre as duas opções por considerar que, quando de trata de Rússia, "o imprevisível pode acontecer".

"Esses acordos são um teste interessante para o humor de Moscou, que tem dado sinais de que está se acalmando e buscando um diálogo com o Ocidente", destacou.

Prejuízo

Para neutralizar o risco que a imposição de barreiras comerciais russas representaria para a economia ucraniana, Amanda Paul, do EPC, defende que a UE deve assegurar ao país "o maior acesso possível a seu mercado" de 500 milhões de consumidores.

Também deveria oferecer tanto à Ucrânia como à Geórgia e à Moldávia, "uma perspectiva de integração", claramente descartada nos três acordos.

Ainda assim, acredita que a sociedade ucraniana "está disposta" a enfrentar eventuais prejuízos econômicos.

"A Ucrânia tem uma luta difícil em suas mãos, mas os ucranianos são lutadores e sobreviventes. Deram suas vidas para mudar de futuro e continuarão a lutar por isso, apesar da contínua intransigência russa", afirma Paul.

O acordo entre Ucrânia e UE foi negociado durante sete anos e finalizado pelo presidente deposto Viktor Yanukovich.

Em novembro, sucumbindo à pressão de Moscou, ele desistiu de ratificar o documento, desencadeando os violentos protestos que levaram à sua queda, em fevereiro.

Benefícios

Os três acordos contemplam a abertura gradual dos mercados, a harmonização de normas e padrões e uma ampla cooperação bilateral para a realização de reformas estruturais nas ex-repúblicas soviéticas, com ênfase para a luta contra a corrupção e a independência do setor judiciário.

A UE afirma que o pacto contribuirá para aumentar em 1,2 bilhão de euros (R$ 3,6 bilhões) anuais os ingressos da Ucrânia, cujas exportações para os países europeus cresceriam em 1 bilhão de euros (R$ 3 bilhões), beneficiando principalmente os setores têxtil, alimentar, de óleos vegetais e de minerais (excluído o ferro).

O acordo com a Geórgia dará ao país um crescimento de 292 milhões de euros (R$ 877 milhões) anuais e o com a Moldávia melhorará em 5,4% o produto interno bruto (PIB) "caso se completem as reformas" exigidas.

Durante as assinaturas, o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, assegurou a Moscou que "não há nada nos acordos, nem na postura da UE, que possa prejudicar a Rússia de alguma maneira".

Também o presidente da Comissão Europeia (o braço Executivo da UE), José Manuel Durão Barroso, afirmou que o bloco "não está buscando uma relação exclusiva" com Ucrânia, Moldávia e Geórgia e que o objetivo dos acordos "não é competir ou interferir em suas relações com qualquer outro vizinho".

No entanto, tanto o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, como o georgiano, Irakli Garibashvili, declararam em Bruxelas que a iniciativa faz parte de um plano de europeização de seus países, que esperam fazer parte da UE no futuro.

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