Trump dá mais medo em alemães do que terrorismo, diz estudo
Consequências de políticas do presidente americano ocupam o primeiro lugar na lista de temores na Alemanha
Antes mesmo da posse de Donald Trump, diversos analistas internacionais já temiam que o seu mandato provocasse agitações pelo mundo. Alguns tuítes depois, tal receio se confirmou. Mas pensar que o novo homem na Casa Branca possa tirar o sono de muitos alemães ainda causa surpresa.
De fato, o presidente dos EUA, que gosta de se vangloriar de seus atos usando superlativos, pode reivindicar mais um deles: o medo de um mundo mais perigoso devido às políticas de Trump ocupa o primeiro lugar no estudo Os Temores dos Alemães 2018.
Na pesquisa do ano passado, o antigo magnata do setor imobiliário sequer aparecia na lista. Agora, com 69% das menções, a política de Trump se tornou o maior pavor dos alemães.
Realizado pela 27ª vez e financiado pela companhia de seguros alemã R + V-Versicherung, o estudo aponta que o medo da política americana supera todos os outros temores - mesmo aqueles decorrentes do terrorismo e de outros tópicos frustrantes, como desavenças no âmbito do governo federal, disputas em torno da imigração e pagamentos a países altamente endividados da União Europeia (UE).
É verdade que a grande maioria dos cidadãos alemães está consideravelmente preocupada com tensões provocadas pela imigração, disse Brigitte Römstedt, porta-voz da R + V. Mas no contexto da política mundial, "tais preocupações são visivelmente ofuscadas".
"Mais de dois terços dos alemães estão aterrorizados com o fato de que as políticas de Trump possam tornar o mundo mais perigoso", aponta.
Seria de se supor que a maioria dos alemães se veja a uma distância segura das políticas de Trump. Mas eles se sentem de fato ameaçados pelas ações do presidente americano.
"Ficamos surpresos com os resultados", disse em entrevista à DW o cientista político e diretor do estudo, Manfred Schmidt. A explicação é óbvia. Trata-se de uma preocupação no campo da política internacional, a qual tem grandes implicações para as políticas externa e de segurança alemãs.
Em sua crítica à política de segurança dos países europeus e da Otan, Trump mostra estar pronto para uma grande mudança de rumo - o que teria consequências para toda a arquitetura da política de defesa alemã.
"Isso porque nós até agora acreditamos que o poder protetor dos Estados Unidos nos garantiria a segurança de que precisamos e que não podemos conseguir através de nossos próprios meios. A Alemanha estaria indefesa sem a ajuda dos americanos", avalia Schmidt. Nesse sentido, a política externa dos EUA se torna um assunto alemão.
"Creio que esse é um dos maiores desafios das políticas externa e de segurança da Alemanha - um desafio para o qual a política alemã ainda não está bem preparada", considera Schmidt.
Refugiados e confiança nos políticos
Conforme o esperado, outros temas abalam os alemães além das relações transatlânticas, tal como a questão dos refugiados. Com 63% e, portanto, seis pontos percentuais abaixo do primeiro lugar, aparece a preocupação de que a Alemanha esteja sobrecarregada devido ao alto número de refugiados. No ano anterior, tal ponto preocupava 57% dos entrevistados, ficando em sexto lugar.
Além disso, 63% dos cidadãos temem que o maior afluxo de estrangeiros cause tensões entre alemães e estrangeiros que vivem no país - dois pontos percentuais a mais do que no ano anterior, ocupando o terceiro lugar no estudo atual.
Em quarto lugar, com 61%, está o medo de que os políticos estejam sobrecarregados com suas tarefas. O resultado foi seis pontos percentuais maior que o do ano anterior (55%, oitavo lugar).
"O medo de que a política esteja fora de controle é inequívoco e está por trás das preocupações expressas não apenas neste ano, mas também em anos anteriores", afirma Schmidt.
Segundo ele, o temor de que a chegada de solicitantes de refúgio e migrantes econômicos sobrecarregue o país e as autoridades também se reflete na preocupação de que as autoridades não possam assegurar garantias elementares. A frustração política também se deve à frustração com as demoradas negociações para a formação do novo governo após as eleições de 2017.
"Provavelmente também pesa a desunião da grande coalizão de governo, assim como a divisão dos partidos da União (CDU e CSU) em questões importantes, também quanto à política de refugiados", avalia Schmidt.
Na primeira posição no estudo do ano passado, o medo do terrorismo caiu para o quinto lugar, com 59%. Em 2017, tal preocupação obteve 12 pontos percentuais a mais. Para os responsáveis pelo estudo, isso se deve ao fato de que, felizmente, grandes ataques terroristas não se materializaram nos últimos tempos.
Nas posições de seis a dez no ranking apareceram: os custos da crise da dívida da UE para os contribuintes (58%), extremismo político (57%), desastres naturais (56%), substâncias nocivas presentes em alimentos (55%) e cuidados na terceira idade (52%).
Preocupações econômicas desempenham um papel ainda menor. Apenas 25% dos entrevistados temem perder seus próprios empregos - o menor valor já registrado. Menos de 40% temem uma tendência de queda na economia.