Alemanha: campanha eleitoral fraca pode ser nociva à democracia
Uma luta pelo poder, na qual os concorrentes parecem concordar em tudo e travada sem qualquer sinal de desentendimento pode ser um perigo para a democracia? Ou é sinal de estabilidade política?
As pesquisas de intenção de voto para a eleição alemã de 22 de setembro são desanimadoras para os partidos de oposição. O resultado do pleito parece já estar claro: o partido da chanceler federal Angela Merkel, União Democrata Cristã (CDU), lidera disparado as enquetes.
Ou seja, para que gastar esforços com a campanha? "Nunca vi tanto político sem vontade como nesta campanha eleitoral, indo para os comícios totalmente sem paixão", critica Jens Thurau, jornalista da Deutsche Welle que acompanha a política alemã há vários anos.
Thurau sente falta nesta campanha eleitoral de questões importantes sobre o futuro do país, que interessem a muita gente. E exemplifica: Como o sistema de saúde poderia ser mais justo? Como lidar com o número cada vez mais alto de idosos e pessoas que necessitam de cuidados especiais no país? Qual é a posição da Alemanha frente à crise da Síria? O que acontece na política europeia? Tudo isso só é mencionado, na melhor das hipóteses, fora da campanha, alega.
Campanha eleitoral morna e sem controvérsias
O cientista político Michael Spreng descreve assim a postura da chanceler federal alemã, Angela Merkel, na campanha eleitoral: "Quem recua desta forma e aparece de maneira tão discreta e pouco vaidosa, não é atacável do ponto de vista pessoal", diz ele. Spreng define assim o grande problema do adversário da chefe de governo nas urnas, o social-democrata Peer Steinbrück: "Merkel passa a impressão de que está tudo ótimo e que só é preciso votar nela. Ela não exige nenhum esforço, seja de ordem intelectual ou material. Basta continuar tudo do jeito que está", completa.
Spreng, que na campanha eleitoral de 2002 trabalhou como assessor do candidato social-cristão a chanceler federal Edmund Stoiber, não consegue nem sugerir o que Merkel poderia fazer melhor hoje. Ela não só aparece em público de maneira muito soberana, como também não dá praticamente nenhum espaço para que a concorrência política lhe ataque em termos de conteúdo. Fato é que ela "roubou" da oposição alguns temas relevantes, como o abandono da energia nuclear ou a exigência de salários mínimos no país.
Temos uma democracia, mas ninguém participa
Mas o que significa, na verdade, quando uma campanha eleitoral é arrastada e os envolvidos não demonstram nenhuma paixão nos debates políticos? Não falta aí um aspecto muito importante da democracia? "Temos um duelo entre uma candidata que não quer fazer campanha eleitoral e um candidato que não pode fazer campanha eleitoral", constata o assessor político Michael Spreng. "E entre esses dois polos os eleitores teriam que demonstrar paixão? Como isso seria possível?", questiona Spreng, para quem a situação deverá, contudo, mudar nas próximas eleições.
Thorsten Faas, cientista político da Universidade de Mainz, lembra a baixa participação nas urnas no pleito de 2009, quando apenas 70% dos eleitores votaram – um percentual tão baixo como nunca antes. Na Alemanha, o voto não é obrigatório. "Se ficarmos de novo nessa faixa, não tenho certeza de que na próxima eleição isso venha a mudar", completa.
Mito do cidadão satisfeito que não vota
Faas não acredita que muita gente simplesmente não se interesse por política porque a Alemanha, se comparada a outros países europeus, vai muito bem. Segundo ele, existe um grupo muito determinado de gente que não vota: desempregados ou pessoas de renda muito baixa, que vivem em bairros carentes. "Essa tese de que não votar é sinal de grande satisfação é um mito. E não tem nada a ver com a realidade", conclui o cientista político.