Ataque à Síria pode criar onda de terrorismo, diz Putin em carta ao NYT
No texto, Putin afirma que um ataque contra a Síria pode levar o conflito para fora do país e desencadear uma onda de terrorismo
O presidente russo, Vladimir Putin, fez um alerta na quarta-feira contra um ataque militar dos Estados Unidos à Síria, dizendo que tal ação arrisca expandir o conflito para além do país do Oriente Médio e resultar em ataques terroristas.
Em artigo publicado no jornal New York Times, Putin disse haver "poucos defensores da democracia" na guerra civil de dois anos e meio na Síria, "mas há mais do que o suficiente combatentes da Al-Qaeda e extremistas de todo tipo lutando contra o governo".
Ele repetiu afirmações de seu governo e Damasco de que um ataque com armas químicas em agosto, que os EUA dizem ser culpa do governo do presidente Bashar al-Assad, foi provavelmente um ato das forças de oposição, em busca de uma intervenção externa.
Putin advertiu contra uma ação militar sem autorização do Conselho de Segurança da ONU, dizendo: "Temos que parar de usar a linguagem da força". "O eventual ataque dos Estados Unidos contra a Síria, apesar da forte oposição de muitos países e dos principais líderes políticos e religiosos, incluindo o papa, irá resultar em mais vítimas inocentes e na escalada da violência, potencialmente espalhando o conflito para muito além das fronteiras da Síria", escreveu Putin.
Guerra na Síria para iniciantes | |
Leia alguns trechos da carta de Putin:
"Os recentes acontecimentos relacionados com a Síria me levaram a me dirigir diretamente ao povo norte-americano e aos seus líderes políticos. É importante fazer isso em um momento no qual não há suficiente comunicação entre nossas sociedades.
Nossas relações passaram por diferentes etapas. Nos enfrentamos durante a Guerra Fria, mas também fomos aliados uma vez e derrotamos juntos os nazis. A Organização das Nações Unidas foi criada então para evitar que tal devastação voltasse a ocorrer.
Os fundadores das Nações Unidas perceberam que as decisões que afetam a guerra e a paz devem ser tomadas somente por consenso e, com permissão dos Estados Unidos, o direito de veto dos membros permanentes do Conselho de Segurança está consagrado na Carta das Nações Unidas. A profunda sabedoria disso serviu de base para a estabilidade das relações internacionais há décadas.
Ninguém quer que a ONU tenha o mesmo destino da Liga das Nações, que entrou em colapso porque não tinha influência real. Isso pode acontecer se os países influentes ignorarem a ONU e adotarem uma ação militar sem autorização do Conselho de Segurança.
O potencial ataque dos EUA contra a Síria, apesar da forte oposição de muitos países e os principais líderes políticos e religiosos, incluindo o Papa, vai levar a mais vítimas inocentes e a uma escalada do conflito se espalhando para além das fronteiras da Síria. Um ataque pode aumentar a violência e desencadear uma nova onda de terrorismo. Pode minar os esforços multilaterais para resolver a questão nuclear iraniana e o conflito entre israelenses e palestinos e desestabilizar ainda mais o Oriente Médio e Norte da África. Pode quebrar o equilíbrio do sistema da lei e da ordem internacional."