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Ataque revela dificuldade da Europa em lidar com o Islã

Atentado contra a publicação Charlie Hebdo deixou 12 mortos em Paris na quarta-feira

9 jan 2015 - 09h24
(atualizado às 13h00)
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No coração da Europa, em 2015, o assassinato de cartunistas e jornalistas por alegadamente insultarem Deus ainda choca, apesar do número crescente de ataques desse tipo nos últimos anos.

Na Europa racional e pós-iluminista, a religião foi relegada a um lugar seguro, com o judaísmo e o cristianismo como alvos seguros de sátira em sociedades ocidentais seculares.

Foto: AFP

Ataque à revista satírica Charlie Hebdo deixou 12 mortos em Paris na quarta-feira/ Foto: AFP

Mas não em relação ao Islã. A batalha interna entre sunitas e xiitas, tão evidente nas guerras no Oriente Médio, e a luta entre interpretações extremistas do Islã, como as do grupo Estado Islâmico, e muçulmanos que desejam praticar sua religião em paz, agora está sendo travada nas ruas da Europa, com consequências potencialmente devastadoras para a coesão social.

Este último ataque pode ser resultado de "lobos solitários" mas suas consequências vão repercutir em toda a Europa e provocam muita reflexão sobre o fracasso da integração ao longo das últimas décadas.

Comunidades de imigrantes já são vistas com crescente desconfiança na França e na Alemanha, com suas significativas populações muçulmanas, e até mesmo, na Grã-Bretanha.

A França tem a maior população muçulmana da Europa, com cerca de cinco milhões de pessoas ou 7,5% da população. A Alemanha tem quatro milhões, ou 5% da população, e na Grã-Bretanha são três milhões, também 5% da população.

Foto: AFP

França registrou diversos ataques de "lobos solitários" antes do Natal/ Foto: AFP

Em todos estes três países, os principais partidos políticos estão sendo obrigados a enfrentar o descontentamento popular com os níveis de imigração e o aparente desejo de alguns mais jovens, filhos ou netos de famílias de imigrantes, de não adotar o estilo de vida ocidental e liberal - incluindo tradições de tolerância religiosa e livre discurso.

Na Grã-Bretanha, esse mal-estar tem sido debatido na cena pública de uma maneira mais pacífica.

A fátua contra o escritor Salman Rushdie há mais de 20 anos após a publicação de Os Versos Satânicos, forçando-o a se esconder por vários anos, talvez tenha sido a primeira vez que a questão atingiu a consciência britânica, embora os ataques de 7 de julho de 2005 tenham sido um lembrete de que a violência extremista também pode atingir o coração da Grã-Bretanha.

No entanto, a França teve muito mais violência em suas ruas em nome da religião nas últimas décadas, embora tenha tentado associar a maior parte dos recentes ataques a ações de "lobos solitários", como atos de indivíduos mentalmente desequilibrados.

Mas alguns membros da comunidade judaica do país têm respondido à crescente onda de anti-semitismo e à morte de judeus na França e na Bélgica por extremistas islâmicos.

Foto: AFP

Milhares de alemães marcharam em apoio a grupo "anti-islamização"/ Foto: AFP

Ataques recentes a sinagogas e a judeus nos subúrbios de Paris - onde judeus e muçulmanos vivem, muitas vezes, lado a lado em áreas mais pobres como Sarcelles - apenas exacerbou os temores de que a violência em nome da religião, visível em partes da África e do Oriente Médio, e que tantos tentam escapar fugindo para a Europa, seguiu-os até aqui.

A Alemanha também tem visto um aumento crescente do sentimento anti-Islã em suas cidades, no momento em que preocupações em relação a jovens muçulmanos radicalizados deixam partidos de extrema-direita e neo-nazistas e partem para o centro da política, como visto na recente popularidade do movimento Pegida, que faz campanha contra a "islamização" da Europa.

Líderes políticos e religiosos na Alemanha se manifestaram contra o movimento, e marchas de oposição foram realizadas, mas os temores do Pegida trouxeram milhares para as ruas.

Os assassinatos da Charlie Hebdo são um lembrete profundamente indesejável para o Ocidente de que, para alguns, principalmente jovens radicalizados, a interpretação fundamentalista que têm da religião é o suficiente para matar aqueles que, na visão deles, a ofendem.

Como resultado, na Europa ocidental, sociedades liberais estão começando a se dividir sobre a melhor forma de lidar com o islamismo radical e o impacto sobre seus países, enquanto governos agonizam sobre uma potencial reação contra muçulmanos que vivem na Europa.

Organizações muçulmanas tradicionais na Grã-Bretanha e França condenaram os assassinatos de forma inequívoca, dizendo que terrorismo é uma afronta ao Islã.

Mas a potencial reação, incluindo apoio a partidos e grupos de extrema-direita, pode também ferir muçulmanos comuns mais do que ninguém, deixando autoridades e líderes religiosos na Europa Ocidental pensando em como enfrentar a violência em nome da religião, sem vitimizar minorias ou serem acusados de "islamofobia".

Suspeitos de atentado em Paris fazem refém e são cercados:

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