Brasileiro do EI poderá ser extraditado nos próximos dias
Kayke Luan Ribeiro Guimarães foi preso na fronteira da Bulgária com a Turquia quando, segundo a Interpol, estava a caminho da Síria para se juntar ao grupo terrorista
O brasileiro Kayke Luan Ribeiro Guimarães, de 18 anos, saiu de casa na cidade de Terrassa, nos arredores de Barcelona, no começo de dezembro. Disse a mãe e a irmã que iria de férias com dois amigos para Mallorca, a menos de uma hora de voo da capital da Catalunha.
Pouco mais de uma semana depois, no dia 17, a família recebeu um telefonema de autoridades diplomáticas brasileiras. Kayke estava preso havia dois dias em um centro de segurança máxima na Bulgária, a quase 3 mil km da ilha mediterrânea.
Kayke era procurado em toda a União Europeia, acusado de envolvimento com atividade terrorista, e fora detido na fronteira da Bulgária com a Turquia quando, segundo a Interpol, estava a caminho da Síria, para se juntar ao grupo Estado Islâmico.
Agora, o jovem - nascido da cidade de Formosa, a 75 km de Brasília, e que fará 19 anos em março - deverá ser transferido nos próximos dias de volta à Espanha, onde vive há cerca de 10 anos.
Milhares de combatentes europeus se juntaram ao grupo Estado Islâmico/ Foto: AFP
Ele espera o cumprimento da ordem de detenção e entrega expedida pela Audiencia Nacional espanhola. O brasileiro será julgado por esse tribunal, que lida apenas com as acusações mais graves do país, como terrorismo, narcotráfico e crime organizado.
O Ministério da Justiça espanhol informou que ele pode ser condenado a até 20 anos de prisão.
Fontes do Itamaraty disseram à BBC Brasil que o rapaz entrou em contato com a embaixada brasileira em Sófia para pedir auxílio em 16 de dezembro, dia seguinte à detenção. Ele dizia desconhecer o motivo da prisão e que não conseguia se comunicar com as autoridades por desconhecer o idioma.
Kayke contou que viajava de carro com dois marroquinos, de 24 e 27 anos, também moradores dos arredores da capital catalã. Os três tentaram informar no posto fronteiriço de Kapitan Andreevo, sudeste da Bulgária, que eram amigos e que iam de férias para a Turquia e Grécia.
Em seguida foram presos e levados para o centro de segurança máxima de Haskovo, segundo eles, sem entender por quê.
Grupo Estado Islâmico anunciou a criação de um califado nas áreas que controla em partes da Síria e do Iraque/ Foto: AP
Por telefone, através da embaixada em Sófia, ele descobriu que era acusado de envolvimento com terrorismo.
No ano passado, o caso do belga Brian De Mulder ganhou as manchetes no Brasil. Filho de uma brasileira, ele está na Síria desde janeiro de 2013 lutando com o grupo Estado Islâmico.
Prisão de segurança máxima
Segundo os Mossos d’Esquadra, a polícia catalã, Kayke e seus colegas estavam sendo investigados desde junho por frequentar reuniões de grupos radicais islâmicos nos arredores de Barcelona.
De acordo com autoridades búlgaras, o Centro de Segurança de Haskovo, a quatro horas de Sófia, é um presídio exclusivo para criminosos de alta periculosidade e envolvidos em casos relacionados à máfia e terrorismo.
Kayke não pode receber telefonemas — nem mesmo das autoridades brasileiras — e só pode realizar uma ligação a cada sete dias.
Fontes do Itamaraty disseram à BBC Brasil que Kayke passa bem e deve ser transferido a Sófia a qualquer momento. O governo brasileiro não vai intervir nas investigações e apenas está prestando assistência consular.
Depois de tomar conhecimento da gravidade das acusações, Kayke, muito nervoso, negou ser um terrorista e reafirmou que apenas estava indo à Turquia de férias. Queria falar com a família, mas não se lembrava dos telefones da própria casa. O Itamaraty buscou o contato dos parentes na Espanha e ligou para dar a notícia.
Assustada, a família não quis falar com a BBC Brasil.
Kayke confirmou às autoridades diplomáticas brasileiras que tinha se convertido ao Islã, mas "apenas para se casar". Entretanto seu estado civil na Espanha consta como "solteiro".
Segundo fontes ligadas ao Itamaraty, ele recebeu uma visita consular no dia 18 e pediu produtos de higiene básicos e cobertores. A embaixada forneceu também uma "pequena quantidade de dinheiro" para que ele pudesse comprar fichas telefônicas e falar com a família, além de um remédio para asma, já que o rapaz estava sofrendo com fortes crises asmáticas pelo frio dentro da prisão.
A Convenção de Viena prevê a Kayke o direito de um advogado e um tradutor, o que também foi providenciado pela embaixada.