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Casamento gay: Irlanda realiza plebiscito inédito no mundo

Enquanto a causa é apoiada pelos principais partidos políticos do país, a Igreja Católica e os conservadores defendem o "não"

22 mai 2015 - 05h11
(atualizado às 09h14)
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Os eleitores irlandeses vão às urnas nesta sexta-feira decidir se legalizam o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

É a primeira vez que um país realiza um plebiscito para decidir sobre a legalização desse tipo de união no mundo.

A opção pelas urnas difere da de outros países do mundo, como o Brasil, onde o enlace entre casais do mesmo sexo foi decidido por votação no Parlamento ou por decisão judicial.

O plebiscito vem dividindo o país. Enquanto a causa é apoiada pelos principais partidos políticos da Irlanda, a Igreja Católica e os conservadores defendem o "não".

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Bastante conhecida dos irlandeses, a personagem Mrs Brown, interpretada pelo comediante Brendan O'Carroll, fez um vídeo pedindo o voto "sim" no plebiscito.

No vídeo, Brown diz que "era ainda uma menina quando houve uma grande polêmica sobre casamentos inter-raciais e inter-religiosos, com brancos casando com negros e católicos casando com protestantes".

"Mas, você sabe, eles se casaram e o mundo não acabou. E todos nós crescemos um pouquinho", afirma a personagem, uma das mais queridas do público irlandês.

Independentemente do resultado das urnas, ambos os lados esperam uma votação acirrada
Independentemente do resultado das urnas, ambos os lados esperam uma votação acirrada
Foto: David Silverman / Getty Images

Já o irlandês Keith Mills não concorda com o conteúdo do vídeo.

Ele é gay, mas se opõe ao casamento entre homossexuais.

"Eu tive um relacionamento com uma mulher que evoluía para aquela história de ser pai e ter filhos", diz ele.

"Eu tive relacionamentos com homens nos últimos anos desde que eu saí do armário e é uma dinâmica totalmente diferente", acrescenta.

"Estamos sendo questionados se achamos que um casamento homossexual é igual a um casamento heterossexual. Não é. Devemos garantir a igualdade de direitos a casais do mesmo sexo por meio de uniões civis, mas preservar o casamento para uma mãe, um pai e seus filhos", opina.

'Discriminação'

O casal Denise Charlton e Paula Fargan pensa diferente. Depois de um dia inteiro de campanha pelo "sim", elas – que tem dois filhos pequenos - dizem querer se casar e falar o tão sonhado "Eu aceito" durante a cerimônia.

Denise argumenta que tudo se resume à "igualdade" e compara sua situação à dos negros nos Estados Unidos, que lutaram por direitos iguais aos dos brancos.

"Rosa Parks (símbolo do movimento dos direitos civis dos negros nos EUA) lutou contra a discriminação quando decidiu não ceder seu lugar a um branco.".

"Ela chegou a ser presa, e houve uma comoção nacional porque os negros eram tratados de maneira inferior (à dos brancos) e as pessoas reconheceram isso", lembrou ela.

"Acredito que os irlandeses estão cada vez mais cientes de que é discriminatório não permitir aos gays ter acesso à instituição do casamento. Para mim, aceitar uma instituição alternativa com menos direitos não é a igualdade que eu quero", critica.

Sua companheira, Paula, concorda e diz que o voto pelo "sim" daria maior liberdade a jovens gays a saírem do armário e serem aceitos, além de tornarem famílias com a dela mais completas para os filhos desses casais.

Manual de etiqueta: saiba como não cometer gafes com gays:

"Eles (filhos) nos amam e acham que a nossa família é fantástica", diz Paula.

"Nosso menino de nove anos disse noutro dia: "Todo mundo está votando 'sim" porque todo mundo da minha sala de aula me disse que os pais estão votando 'sim'", acrescenta.

"Acredito que eles ficarão muito tristes se o 'não' ganhar porque eles amam a nossa família do jeito que ela é", opina Paula.

Os defensores do 'não' também recorreram às mídias sociais para propagandear a mensagem contra a legalização do casamento gay.

Um dos vídeos diz: "Se nós votarmos 'sim' em 22 de maio, seremos forçados a fingir que dois pais ou duas mães são iguais a um pai e uma mãe".

"Por isso que a igualdade de casamento é, na verdade, desigual para as crianças".

Os principais partidos políticos, por outro lado, discordam dessa visão e estão apoiando a campanha do 'sim'.

'Maioria silenciosa'

O senador Rónán Mullen é um dos poucos parlamentares a defender abertamente o "não" e diz acreditar pertencer a uma "maioria silenciosa".

"Talvez isso aconteça porque muitos irlandeses têm medo de serem julgados, de serem taxados de homofóbicos ou intolerantes, só porque querem votar a favor do direito de uma criança a ter um pai e uma mãe. Essas pessoas não são contra os homossexuais e não são contra a união civil, que já existe", argumenta Mullen.

"Essas pessoas serão soberanas nas urnas e espero que haja votos suficientes para rejeitar essa proposta", acrescenta o parlamentar.

A relação homossexual só foi descriminalizada em 1993 no país. Ativistas afirmam que, por causa disso, a legalização do casamento gay por meio de uma votação popular constituiria uma mudança importante para a Irlanda.

Visibilidade

Premiê irlandês, Enda Kenny declarou voto a favor da legalização do casamento gay.

Mas com políticos, ex e atuais ministros, juízes, atletas, empresários e celebridades abertamente gays, a Irlanda mudou muito nas últimas duas décadas.

Pode soar estranho que enquanto os gays tenham sido historicamente discriminados e, por vezes, violentamente agredidos, agora aqueles que se opõem ao casamento entre pessoas do mesmo sexo se sintam vítimas do que, para eles, é resultado da parcialidade da mídia e do "politicamente correto".

O professor de política da University College Dublin David Farrell acredita que a modernização e os escândalos envolvendo abuso sexual de muitas crianças por padres católicos estejam por trás das mudanças na sociedade irlandesa.

"Adoro mostrar a meus alunos duas imagens em justaposição. Uma delas é de Éamon De Valera beijando o anel de um bispo enquanto era presidente da Irlanda. A outra é do nosso atual primeiro-ministro, Enda Kenny, em um bar gay", diz ele.

"Sem dúvida alguma percorremos um longo caminho. Nunca pensei que isso seria possível nesse país", opina.

Independentemente do resultado das urnas, ambos os lados esperam uma votação acirrada.

Analistas dizem que Dublin e outras áreas mais urbanas são mais liberais, enquanto que os idosos tendem a ser mais conservadores.

O resultado do plebiscito será conhecido no sábado.

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