A recente explosão de violência em Kiev é um duro golpe para as chances de compromisso político na Ucrânia, frustrando todas as esperanças de uma mediação internacional, que tem poucas chances de sucesso sem o envolvimento da Rússia, de acordo com especialistas.
Com mais de 60 mortos em três dias na capital ucraniana, a crise que começou em novembro, quando o governo decidiu repentinamente suspender as negociações de associação à UE e estreitar as relações econômicas com a Rússia, parece ter chegado a um ponto de não retorno.
"Existe o risco de a situação se tornar incontrolável e se transformar em uma guerra civil", considera Ognian Mintchev, diretor do Instituto de Estudos Regionais e Internacionais, em Sofia.
"Isso só poderá ser evitado com a renúncia de Yanukovytch e uma eleição presidencial antecipada", acredita.
Para Gerhard Mangott, especialista do Leste Europeu e da Rússia na Universidade de Innsbruck, na Áustria, "dos dois lados, as forças radicais assumiram a frente".
Por um lado, dada a violência, "é impensável que Maidan (a praça central de Kiev ocupada pelos opositores) concorde dialogar" com um presidente "que tem sangue em suas mãos", explica.
Por outro lado, Viktor Yanukovytch "não pode voltar atrás, ele incitou a violência a tal ponto que é difícil imaginar que não seja processado pela justiça caso deixe a presidência", diz.
23 de fevereiro - Ucranianos transformaram ruas de Kiev em santuários improvisados; dezenas de pessoas foram mortas pela polícia, que usou atiradores de elite e metralhadoras Kalashnikov para conter os protestos
Foto: Carlo Allegri / Reuters
23 de fevereiro - Cerimônia em local de morte de manifestantes foi marcada pela emoção em Kiev no dia seguinte à destituição do presidente Viktor Yanukovich - decisão que devolveu um pouco de paz às ruas de Kiev
Foto: Reuters
23 de fevereiro - Ucranianos lamentam o alto número de mortos nos protestos que tomaram as ruas de Kiev. Com flores, eles homenagearam as vítimas de violentos confrontos
Foto: Reuters
22 de fevereiro - Ucranianos comemoram decisão do Parlamento, que acusou presidente de "abandono de funções constitucionais" e destituiu Viktor Yanukovich, convocando eleições presidenciais antecipadas para o dia 25 de maio
Foto: AFP
22 de fevereiro - Ativistas se reuniram nos arredores do Parlamento em Kiev para comemorar o anúncia, que chega no ápice de uma semana de intensos protestos no coração de Kiev. Leia mais -
Foto: AFP
22 de fevereiro - A ex-primeira-ministra ucraniana, Yulia Timoshenko, discursou na Praça da Independência após deixar a prisão e anunciou que será candidata nas eleições presidenciais de 25 de maio. Leia mais -
Foto: AFP
22 de fevereiro - Em gesto simbólico, uma fita preta foi colocada em uma bandeira que combina as bandeiras da Ucrânia e da União Europeia. A simbologia marca um dia de luto nas ruas de Kiev, depois de mais conflitos entre manifestantes e tropas do governo
Foto: Reuters
22 de fevereiro - Manifestantes fazem barricada em uma rua que leva a prédio do governo em Kiev. Em protesto contra o presidente, ucranianos afirmaram que detêm o controle do prédio, enquanto líderes da oposição pressionam por uma renúncia de Viktor Yanukovich
Foto: Reuters
21 de fevereiro - Manifestantes permanecem na Praça da Independência depois de confrontos com a polícia
Foto: Getty Images
21 de fevereiro - Manifestantes voltam a montar barricadas depois de confrontos com a polícia no dia 20
Foto: Getty Images
21 de fevereiro - Manifestante coloca um pneu em chamas em uma barricada, em Kiev
Foto: Getty Images
21 de fevereiro - O clima ainda é de tensão na capital Kiev
Foto: Getty Images
21 de fevereiro - Ucranianos se protegem atrás das barricadas
Foto: Reuters
21 de fevereiro - A violência explodiu novamente em Kiev enquanto políticos da oposição da Ucrânia participavam de uma reunião com o presidente russo Viktor Yanukovich
Foto: Reuters
21 de fevereiro - Manifestantes montam barricadas na Praça da Independência, em Kiev
Foto: Reuters
21 de fevereiro - Homem escala barricada montada por manifestantes
Foto: Reuters
21 de fevereiro - Manifestantes permaneciam da praça da Independência enquanto o presidente russo Viktor Yanukovich, membros da oposição e lideranças da União Europeia discutiam uma solução para a crise
Foto: Reuters
20 de fevereiro - Ativistas oram diante corpos dos manifestantes mortos nos confrontos
Foto: AP
20 de fevereiro - Padres rezaram sob os corpos dos manifestantes mortos nos confrontos com a polícia nesta quinta-feira. Armas de fogo foram utilizadas no dia mais tenso dos últimos meses
Foto: Reuters
20 de fevereiro - Manifestantes feridos estão sendo levados da Praça da Independência. Os corpos dos mortos na manhã desta quinta-feira foram encontrados na praça, principal palco dos protestos, e na recepção de um hotel
Foto: Twitter
20 de fevereiro - Corpos de manifestantes podem ser vistos na Praça da Independência, em Kiev. Pelo menos 17 civis morreram na manhã desta quinta-feira. O presidente do país anunciou que "dezenas de policiais também estão mortos"
Foto: Reuters
20 de fevereiro - Manifestantes feridos estão sendo levados da Praça da Independência. Os corpos dos mortos na manhã desta quinta-feira foram encontrados na praça, principal palco dos protestos, e na recepção de um hotel
Foto: Reuters
20 de fevereiro - Corpos de manifestantes podem ser vistos na Praça da Independência, em Kiev. Pelo menos 21 civis morreram na manhã desta quinta-feira. O presidente do país anunciou que "dezenas de policiais também estão mortos"
Foto: Twitter
20 de fevereiro - Manifestantes feridos estão sendo levados da Praça da Independência. Os corpos dos mortos na manhã desta quinta-feira foram encontrados na praça, principal palco dos protestos, e na recepção de um hotel
Foto: Twitter
20 de fevereiro - Corpos de manifestantes podem ser vistos na Praça da Independência, em Kiev. Pelo menos 21 civis morreram na manhã desta quinta-feira. O presidente do país anunciou que "dezenas de policiais também estão mortos"
Foto: Twitter
20 de fevereiro - Pelo menos 21 civis foram mortos na manhã desta quinta-feira
Foto: Twitter
20 de fevereiro - Pelo menos 21 civis foram mortos na manhã desta quinta-feira
Foto: Twitter
20 de fevereiro - Pelo menos 10 corpos foram deixados no Hotel Ukraine. Os confrontos no país tiveram seu dia mais violento na manhã desta quinta-feira
Foto: Twitter
20 de fevereiro - Corpos de manifestantes podem ser vistos na Praça da Independência, em Kiev. Pelo menos 21 civis morreram na manhã desta quinta-feira. O presidente do país anunciou que "dezenas de policiais também estão mortos", segundo informações da Reuters
Foto: Reuters
20 de fevereiro - Armas de fogo foram utilizadas nos confrontos entre polícia e manifestantes contra o governo na manhã desta quinta-feira. Há pelo menos 21 mortos
Foto: Reuters
20 de fevereiro - Armas de fogo foram utilizadas nos confrontos entre polícia e manifestantes contra o governo na manhã desta quinta-feira
Foto: Reuters
20 de fevereiro - O presidente ucraniano Viktor Yanovich disse que dezenas de policiais estão mortos depois dos conflitos na madrugada desta quinta-feira
Foto: Reuters
20 de fevereiro - Padres rezaram sob os corpos dos manifestantes mortos nos confrontos com a polícia nesta quinta-feira. Armas de fogo foram utilizadas no dia mais tenso dos últimos meses
Foto: Reuters
20 de fevereiro - O presidente ucraniano Viktor Yanovich disse que dezenas de policiais estão mortos depois dos conflitos na madrugada desta quinta-feira
Foto: Reuters
20 de fevereiro - Manifestante mostra rosto um homem morto durante confrontos com a polícia nesta quinta-feira
Foto: AP
20 de fevereiro- Manifestante ferido é levado da Praça da Independência na manhã desta quinta-feira
Foto: AP
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Este especialista descarta a ideia de uma "guerra civil", porque "não há um confronto entre diferentes grupos da população, mas um choque entre uma parte da população ucraniana e o Estado". No entanto, ele vê o risco de um "processo de desintegração do país", com administrações ocupadas pela oposição na região oeste do país ou manifestações pró-Rússia em algumas regiões, como a Crimeia.
Estes focos de tensões regionais despertaram temores de um colapso da Ucrânia, país às portas da União Europeia, mas o berço da Rússia, ex-república soviética, onde parte da população fala russo, mas em que a dominação de Moscou ainda é vista como uma humilhação em muitas regiões.
Os países ocidentais (UE e Estados Unidos) e a Rússia não param, desde o início da crise, de se acusar mutuamente de interferências e pressões para aumentar a sua área de influência.
O governo ucraniano está encurralado entre a ameaça de sanções ocidentais contra os dirigentes e empresários, e o risco de falência e colapso econômico caso vire as costas para Moscou.
Após se recusar a assinar o acordo de associação com a UE, a Ucrânia recebeu um empréstimo russo de US$ 15 bilhões e uma queda no preço do gás importado a bilhões de dólares por ano.
Mas Moscou, que continua a denunciar um movimento liderado por "radicais", "extremistas" ou mesmo "neo-nazistas", pagou apenas três bilhões de dólares e agora diz que espera um retorno à calma antes de prosseguir com a ajuda financeira.
"Os estrategistas políticos do Kremlin parecem fazer de tudo para que a Rússia seja a única esperança do governo ucraniano. Agora, é muito provável que esse sonho se torne realidade", escreveu nesta quinta-feira o jornal liberal russo Vedomosti. O jornal exorta as autoridades russas a realizar uma "conferência internacional" sobre a Ucrânia.
Esta ideia parece pouco factível no presente. O vice-primeiro-ministro russo, Dmitry Rogozin, esperado nesta quinta-feira em Kiev, adiou sua visita e o primeiro-ministro Dmitry Medvedev disse que a Rússia não iria cooperar com um poder em que não "se limpa os pés".
"Uma mediação comum UE-Rússia poderia ser decisiva para resolver a crise", acena Lilit Gevorgyan, economista do IHS Global Insight.
"Um roteiro comum prevendo o fim imediato da violência por parte de ambos os lados pode levar à formação de um governo de tecnocratas e a uma eleição presidencial sob alta vigilância", diz o especialista, lembrando que "pacificar a Ucrânia poderia ser uma nova vitória diplomática para o presidente russo, Vladimir Putin".
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