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Cidade alemã tenta manter viva sua história de resistência ao nazismo

3 fev 2013 - 10h07
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Há 80 anos, logo depois da chegada de Adolf Hitler ao poder, o Partido Comunista Alemão (KPD), perseguido pelo nacional-socialismo, convocou uma greve geral em todo o país.

Apenas uma cidade de quatro mil habitantes no sudoeste da Alemanha, Mössingen, atendeu ao apelo da organização e, segundo os dados da época, entre 800 e mil pessoas saíram às ruas e paralisaram duas fábricas que funcionavam no local.

A polícia, sem maiores problemas, terminou reprimindo o protesto, o único que houve naquele dia em toda a Alemanha.

As autoridades de Mössingen, segundo o historiador Bernd Jürgen Warneken que escreveu um livro sobre o tema, tiveram através da história dificuldades na hora de confrontar os fatos do início do ano de 1933.

Já os nazistas durante a década e meia de seu regime tinham assentado as bases para que a greve de Mössingen fosse vista como um episódio orquestrado pelo stalinismo e pelos inimigos da Alemanha.

Durante o pós-guerra, a visão que os nazistas tinham imposto sobre a greve de Mössingen seguiu vigente por um bom tempo, ao que ajudou o domínio que as forças conservadoras tiveram durante muito tempo nessa região.

Somente dez anos atrás, quando se completou seu 70º aniversário, foi colocada uma placa comemorativa daquele protesto, apesar das resistências dentro da própria prefeitura. Apenas um dos sobreviventes da greve - Jakob Textor, que morreu em 2010 com 102 anos - pôde estar presente nesse ato.

Textor mesmo, no entanto, que pintou um dos cartazes da greve, nunca recebeu uma homenagem da cidade e a prefeitura rejeitou uma proposta a esse respeito quando ele completou cem anos.

Agora, por ocasião do 80º aniversário da greve, diversos grupos impulsionaram uma série de atos comemorativos, contra os quais os representantes da União Democrata-Cristã (CDU) - o partido da chanceler Angela Merkel - se mostram reticentes.

O prefeito de cidade, o independente Michal Bulander, quer aproveitar o aniversário para ativar um diálogo entre os que, como ele, consideram a greve contra Hitler como um ato de resistência legítimo e aqueles que criticam os distúrbios daquele dia.

O livro de Warneken, "Das ist nicht nirgends gewesen, ausser hier" ("Não aconteceu nada em lugar nenhum, exceto aqui", em tradução livre), foi publicado originalmente em 1982 e recentemente foi reeditado por causa do aniversário da greve.

No prólogo para a nova edição, Warneken se ocupa das dificuldades que Mössingen teve com a memória da greve e vê este problema dentro do âmbito da demora que a própria Alemanha teve em abordar o passado nazista e em homenagear àqueles que tentaram resistir ao regime.

Warneken lembra que a República Federal da Alemanha demorou muito a ver como algo legítimo a rebelião dos oficiais, liderados por Stauffenberg, que tentaram matar Hitler em 20 de julho de 1944.

Se honrar os rebeldes de 20 de julho - todos eles de procedência conservadora - não era fácil, mais difícil ainda era render tributo à resistência operária, muitas vezes liderada pelo KPD, do qual, diz Warneken, quase não se falou na imprensa, nem nos livros de história durante anos.

"O fato de os comunistas terem liderança nos movimentos de oposição ilegais não ajudou sua reputação", teoriza Warneken.

A isso se soma um fator local: em Mössingen conviviam os antigos nazistas e os antigos opositores ao regime, que em muitos casos eram vizinhos ou trabalhavam no mesmo lugar.

Isto fazia temer, segundo Warneken, que a lembrança da greve pudesse envenenar a vida social da cidade com o que "o apelo para não ressuscitar velhas feridas era determinado ideologicamente".

Agora a situação mudou, segundo Warneken, e o fim da Guerra Fria fez com que aumentasse a consciência de que o passado vermelho também faça parte da identidade de Mössingen.

EFE   
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