"Clima é de precaução", diz jornalista brasileira na Bélgica
Os principais suspeitos nasceram e moravam na cidade, como Abdelhamid Abaaoud, belga de origem marroquina
Em meio à caçada por um dos suspeitos dos atentados em Paris e diante da ameaça de possíveis ataques de extremistas, a Bélgica elevou neste sábado o alerta de terror na região da capital Bruxelas para o nível mais alto.
O metrô foi fechado e moradores e turistas aconselhados a evitar locais com aglomeração de pessoas, incluindo shopping centers e shows.
Autoridades também recomendaram que eventos de grande porte, como jogos de futebol, sejam cancelados.
Bruxelas foi considerada o "centro nervoso" dos ataques em Paris na semana passada.
Os principais suspeitos nasceram e moravam na cidade, como Abdelhamid Abaaoud, belga de origem marroquina considerado o mentor por trás do atentado à capital francesa, que deixou pelo menos 130 mortos.
Há dez anos vivendo na capital belga e mãe de dois filhos pequenos, a jornalista brasileira e colaboradora da BBC Brasil Márcia Bizzotto relata um "clima de precaução e expectativa" na cidade.
Ela diz que, apesar do nível de alerta ter sido elevado ao máximo, muita gente continua circulando nas ruas da capital belga.
"O clima está longe da psicose que se poderia imaginar. Alguns vizinhos consideram exagerada a decisão do governo de fechar os centros comerciais e as estações do metrô", afirma ela.
Contudo, a jornalista diz acreditar que a rotina tende a mudar a partir de segunda-feira, "quando será necessário deixar as crianças na escola e pegar o metrô para ir trabalhar".
Confira o relato de Márcia Bizzotto.
"É sábado, mas em Bruxelas parece domingo. Um domingo qualquer de frio e chuva.
Apesar do nível de alerta por ameaça terrorista ter sido elevado ao máximo durante a madrugada e a informação ter sido divulgada amplamente em edições especiais dos jornais televisivos durante toda a manhã, muita gente continua circulando nas ruas de Bruxelas.
A diferença no movimento é enorme comparado com um sábado normal, quando as principais ruas comerciais ficam intransitáveis e as ruas congestionadas.
Mas o clima está longe da psicose que se poderia imaginar.
Alguns vizinhos consideram exagerada a decisão do governo de fechar os centros comerciais e as estações do metrô.
Um amigo que mora no centro histórico, hoje ocupado por comboios de caminhões militares, foi ao supermercado como todos os sábados. Só acreditou na seriedade da ameaça quando um soldado o aconselhou a voltar para casa e não sair até que o nível de alerta diminua.
A impressão que tenho é que há mais surpresa e incredulidade que medo.
Talvez porque Bruxelas está acostumada à mobilização de grandes dispositivos de segurança.
A cidade é sede das instituições da União Europeia e da OTAN e recebe com frequência visitas de chefes de Estado. Pelo menos uma vez por mês, em ocasião das cúpulas dos 28 governantes da UE, o chamado bairro europeu é totalmente bloqueado pela polícia.
A estação de metrô local é fechada, o trânsito de veículos é suspenso e só pessoas com credenciais especiais podem circular pela região. Uma verdadeira operação de guerra, que a população encara com naturalidade.
Também perdi as contas de quantas ameaças à bomba já se receberam em Bruxelas este ano. Durante os dez anos que levo vivendo aqui, até agora nenhuma foi real, apesar da Bélgica ter vivido alguns atentados de pequena envergadura.
Mas é impossível não levar a sério as instruções do governo ao ver soldados fortemente armados desfilando diante dos edifícios históricos, onde estamos habituados a ver turistas.
Ao ver que a última batida policial na caça de Salah Abdeslam, um dos terroristas de Paris, aconteceu há poucas horas no posto de gasolina onde costumo abastecer o carro, com meus filhos a bordo.
Por enquanto, o clima é de precaução e expectativa. Ficamos em casa esperando uma nova edição especial que nos anuncie o fim do estado de alerta.
E como faz frio, chove e as lojas estão fechadas, parece um domingo qualquer.
Acho que o medo começará a prevalecer na segunda-feira, quando será necessário deixar as crianças na escola e pegar o metrô para ir trabalhar".