Comboio russo de ajuda à Ucrânia deve ser verificado, diz UE
Ocidente alertou Moscou contra tentativa de transformar operação em intervenção militar
As remessas russas de ajuda humanitária destinadas ao leste da Ucrânia, onde as forças do governo enfrentam uma rebelião pró-Rússia, devem ser examinadas para assegurar de que não servem a propósitos políticos, disse a diretora de ajuda humanitária da União Europeia, Kristalina Georgieva, nesta terça-feira.
Um comboio russo carregando comida, água e outros suprimentos de ajuda humanitária foi enviado ao leste da Ucrânia, mas Kiev disse que não permitiria a entrada dos veículos em seu território. A carga deveria ser recebida pela Cruz Vermelha e transferida a outros veículos.
Um funcionário da administração da região de Moscou, citado pela agência russa Ria Novosti, indicou que o comboio, que partiu na manhã desta terça-feira de um subúrbio da capital russa após ser benzido por um padre ortodoxo, "levará aos habitantes do leste da Ucrânia cerca de 2 mil toneladas de material humanitário".
Governos ocidentais alertaram Moscou contra qualquer tentativa de transformar a operação de ajuda humanitária em uma intervenção militar disfarçada.
"É muito importante que a entrega de ajuda humanitária em qualquer lugar, por qualquer um, obedeça aos princípios de neutralidade, imparcialidade e independência e que as organizações humanitárias sejam quem... ajude as pessoas afetadas pela crise", disse Georgieva ao ser perguntada sobre a ajuda russa.
"Nenhum objetivo político ou qualquer outro deve ser perseguido", disse ela em uma coletiva de imprensa. "O conteúdo da ajuda humanitária deve ser exatamente esse, ajuda humanitária, e obviamente não pode ser dada como certa."
A Comissão Europeia disse nesta terça-feira que estava doando 2,5 milhões de euros (quase R$ 8 milhões) em ajuda humanitária para prover abrigo, comida e atendimento médico às pessoas deslocadas pelo conflito no leste da Ucrânia.
Desconfiança ocidental
O presidente russo, Vladimir Putin, justificou na segunda-feira o envio do comboio pelas consequências catastróficas da ofensiva ucraniana contra os separatistas pró-russos no leste e afirmou que Moscou trabalha em colaboração com a Cruz Vermelha.
Mas a organização internacional afirmou nesta terça-feira que ainda não deu sua autorização definitiva e a França insistiu que o comboio não deve ser autorizado sem cumprir condições rígidas, entre as quais a aprovação da Cruz Vermelha.
"Continuamos precisando de mais informação antes de poder seguir adiante", declarou à AFP a porta-voz do CICV, Anastasia Isyuk.
O Ocidente teme que a Rússia, acusada de apoiar e armar os separatistas ucranianos, tente recorrer à operação humanitária para enviar tropas.
Moscou nega, mas a Otan considera que a Rússia tem 20.000 tropas mobilizadas na fronteira ucraniana, e Kiev eleva este número a 45.000.
Os combates entre o exército ucraniano e os separatistas pró-russos no leste da Ucrânia deixaram os moradores das cidades tomadas pelos insurgentes e cercadas pelo exército sem eletricidade, água corrente ou calefação e com falta de remédios e alimentos.
Com informações da AFP e Reuters.